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Na edição de julho da Fórum, publicaremos uma entrevista exclusiva com o ministro da Saúde Alexandre Padilha. Mas, em função do pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff ontem (21), vamos adiantar um trecho no qual Padilha fala sobre a presença de médicos estrangeiros no Brasil:
Fórum - Vamos começar entrando em uma recente polêmica que é a questão dos médicos cubanos. Melhor virou sobre "médicos cubanos", mas não é essa a proposta e isso de certa forma é a expressão de um problema sério da saúde que é a falta de aproximadamente de 10 a 15 mil médicos no país; os prefeitos falam de 13 mil, principalmente nas periferias e no interior. Como que está esta questão? Já se resolveu?
Padilha - Acho que essa é uma polêmica que tem que ser enfrentada no Brasil. Esse debate tem dois temas relacionados. Um, se o Brasil tem a quantidade de médicos que precisa para ser um país que quer ter um sistema nacional público, e por muitos anos se construiu uma imagem de que não faltavam médicos no Brasil e que o problema era como distribuir esses médicos, como estimulá-los a trabalhar no serviço público. E uma outra polêmica diz respeito a um certo tabu, de que o Brasil não pode ter um programa de atração de médicos estrangeiros, de que atrair médicos estrangeiros pode reduzir a qualidade do serviço ofertado. Isso não é um tabu em outros países do mundo, sobretudo nos sistemas nacionais públicos que são referência. Na Inglaterra, 40% dos médicos são estrangeiros, no Canadá, 17 %, na Austrália, 22%. Os Estados Unidos têm um sistema privado no qual 25% dos médicos são estrangeiros.
Essa polêmica, começamos no dia da minha posse, no meu discurso de posse, e já se apontava esse problema. Nos primeiros cem dias, fizemos um seminário internacional, trouxemos gente do Canadá, da Inglaterra, todas as entidades médicas, universidades... E para mim ficou muito claro ali que, pela diversidade do nosso país, pelo tamanho do Brasil, pelas características e desigualdades que existem, não é uma proposta isolada que vai ajudar a resolver esse grave problema. Temos que ter mais médicos próximos da população, e com mais qualidade. Que entendam mais, que sejam formados para compreender os problemas da nossa população.
Vamos enfrentar isso de duas formas. Primeiro, o grande objetivo do governo é dar prioridade e oportunidade para o jovem brasileiro que quer fazer Medicina, o jovem da periferia, do município do interior, para o jovem brasileiro que já fez Medicina e quer ir para o interior ou fazer uma especialidade de que nós precisamos. O Brasil não precisa só de mais médicos, mas de mais especialistas, precisamos de mais pediatras. Hoje, o maior desafio do Ministério da Saúde para levar o tratamento de câncer para o interior é ter especialista no tratamento do câncer, radioterapeuta, oncologistas. Estamos expandindo os leitos de UTI adulta, UTI infantil, e o grande desafio é ter o pediatra, o neonatologista, o médico de UTI.
Então, a primeira ação é dar oportunidade para o médico brasileiro, e vamos abrir sim mais vagas no curso de Medicina, fortalecer a abertura de vagas na periferia das grandes cidades, universidades federais, públicas, estaduais, fazer parcerias com universidades privadas, por exemplo, com a Santa Marcelina na zona leste de São Paulo. Abrimos, o ministro era o Fernando Haddad, e foi um grande enfrentamento abrir aquela faculdade, mas a cidade pode ter na zona leste, na zona sul, mais vagas de Medicina. Uma cidade como Guarulhos, por exemplo, que tem mais de um milhão de habitantes, não tem uma faculdade de Medicina; no ABC, a única faculdade que tem para todos os moradores é a Fundação ABC.
Não só precisamos ampliar mais as universidades públicas federais e estaduais, mas também nas privadas, porque hoje, através do FIES, um jovem que não tem condição de estudar em uma faculdade privada tem todo o seu curso custeado pelo Ministério da Educação por meio do FIES e o tempo em que ele for trabalhar no SUS, depois de formado, desconta da dívida dele. Em primeiro lugar, temos essa prioridade de ampliar muito a formação de vagas de especialistas; todos os estudos mostram que o principal motivo de fixação de um médico em uma cidade é o local em que ele fez a residência médica, o período de formação do especialista. Depois que se formou como médico, se quiser, vai fazer uma especialidade. Em segundo lugar, o investimento forte é a abertura de mais vagas de formação de especialistas nas especialidades que nós mais precisamos.