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A Virada Cultural é um dos principais eventos da cidade de São Paulo, tanto pelo seu gigantismo de público, como pelo fato de que no dia em que acontece, a cultura ocupa as ruas e o centro da pauta. Neste final de semana, isso ficou ainda mais claro. Mesmo com uma final de Campeonato Paulista programada, o paulistano ficou mais ligado na Virada Cultural do que no futebol. Isso é algo para se pensar.
O fato de ser um sucesso de público é algo notadamente importante para a vivacidade cultural da cidade, mas não significa dizer que ela é um evento que está resolvido. Que não deve ser melhorado e repensado em alguns aspectos. Antes de entrar nesta seara, porém, vale um parêtenses. No ano passado, o SPressoSP publicou uma série de reportagens denunciando que a Virada não era só um evento importante, mas que também teria se tornado um negócio interessante para algumas empresas e servidores públicos. Algumas das reportagens dessa série podem ser lidas, aqui, aqui, aqui e aqui. Vale a pena relê-las para refletir sobre algumas questões. Uma delas, é a de que uma das pessoas denunciadas naquele episódio continua à frente da Virada na edição deste ano, mesmo com a mudança do governo. E nem isso impediu que o ex-prefeito José Serra acusasse o evento de estar aparelhado pelo PT pelo seu twitter: “ Só me preocupa que a Virada Cultural seja usada para aparelhamento político-partidário, o que já começou a acontecer este ano”, escreveu hoje.
A verdade é outra. Neste ano, não foi uma única pessoa que mandou sozinha na Virada. A atual administração acertadamente constituiu uma curadoria com pessoas respeitadas no meio cultural. A comissão participou da definição dos palcos, convidados etc. Muita gente boa foi convidada para essa curadoria e você pode conhecê-los aqui.
Esse é um avanço que precisa ser registrado. Essa curadoria da Virada Cultural não pode se desintegrar. Ela pode até ganhar nos integrantes, mas precisa ser permanente para realizar uma mudança no seu conceito. Que a Virada seja menos um evento. E seja mais um processo. O que não significa, em absoluto, terminar com o evento ou torná-lo algo insignificante.
Muita gente séria já defende isso há algum tempo em São Paulo. Há uma necessidade de incorporar a lógica das viradas no dia a dia da cidade. E não apenas em uma data específica. O espaço público precisa ter mais cultura nos finais de semana e isso pode e deve ser feito com intervenções na circulação quando necessário. Além disso, o que há algum tempo já se discute é que a Virada Cultural não poderia ser algo apenas a se realizar no Centro. E esse foi um dos equívocos desta edição. Tudo foi canalizado para o Centro, radicalizando uma opção que já ganhava corpo na gestão Serra/Kassab. Há, na cidade, muitos outros centros, que precisam de cultura e visibilidade. Por que não colocar a Daniela Mercury para tocar em Itaquera? Por que não espalhar a Viradinha, que foi uma excelente ideia, pelos bairros da cidade? Por que não levar programação para a terceira idade para todos os pontos da cidade, fazendo com que a Virada ganhe um público que não vai ao Centro de madrugada por motivos óbvios?
Evidente que esse processo seria impossível de ser construído pela atual gestão que assumiu apenas em janeiro com a responsabilidade de organizar entre outras coisas, o aniversário da cidade, parte do Carnaval e agora a Virada Cultural. É muita coisa, para ser realizada e transformada em curto espaço de tempo. Por isso é preciso começar a olhar desde hoje para frente. Pensar na Virada de 2014, que acontecerá nas proximidades da Copa do Mundo.
Além dessa questão da descentralização e do processo, outra mudança importante é que a Virada Cultural não pode continuar sendo um balcão de negócios nos dias que a antecedem. É preciso abrir editais com muita antecedência para que aqueles que desejarem dela participar se inscrevam e possam ser avaliados pelos curadores. Outro ponto importante a se resolver é a negociação dos valores dos shows e atrações. Isso não pode acontecer no varejo. É necessário que se definam faixas de pagamento e que as atrações sejam classificadas nessas faixas a partir de critérios bem objetivos. Isso ou que o próprio interessado dispute no segmento de cachê que ele considera que se encaixa. Por exemplo, serão 50 atrações de chachê A, 200 de cachê B e 500 de C. O grupo interessado se inscreve para disputar a participação no cachê que considera sua faixa.
Outro avanço, seria que a escolha dos palcos da Virada passasse por uma audiência pública com grande antecedência para que a cidade se envolvesse neste debate da ocupação dos espaços públicos.
Por fim, mas não menos importante. A grande notícia da Virada nos portais durante o dia de hoje foi a da violência que teria levado duas pessoas à morte e ferido várias outras. Esse é um tópico que não pode se perder de vista num evento deste porte. Há quem esteja levantando a hipótese pelas redes sociais de que o governo do Estado não teria atuado com a devida responsabilidade. E que a PM teria feito corpo mole no combate, por exemplo, aos arrastões. Essa matéria do UOL, por exemplo, também precisa ser lida com atenção. O Ministério Público poderia investigar essas suspeitas. Mas também a questão da segurança precisa ser pensada na lógica do processo.
É importante que a Virada Cultural seja grande, mas não é o seu gigantismo que a define como importante. Por isso, seria bom que a edição deste ano fosse o início do seu recomeço. E não a reafirmação do modelo anterior. E se há algo que pode simbolizar essa renovação é a foto do prefeito Fernando Haddad assistindo, em meio ao público, ao show dos Racionais MC´s. A periferia no centro. O centro na periferia. As trocas que a Virada Cultural permite fazer, precisam ser incorporadas no pensar das cidade.
[caption id="attachment_13142" align="aligncenter" width="486"] (Foto: Divulgação)[/caption]