O suicídio de Carlos Alexandre Azevedo e as feridas abertas da ditadura militar

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Neste domingo, 17, o filho do jornalista e cientista político Dermi Azevedo, Carlos Alexandre Azevedo, cometeu suicídio ingerindo uma quantidade fatal de medicamentos. Seria só mais uma nota triste, não fosse seu lado trágico. Quando tinha apenas um ano e oito meses, em 1974, Carlos foi preso e torturado junto com a mãe no prédio do Deops, em São Paulo. Ainda bebê foi vítima de choques elétricos e outras sevícias. E nunca mais se recuperou. Provavelmente alguns dos seus torturadores, chefiados pelo delegado Sérgio Fleury, ainda estejam vivos.

O suicídio de Carlos Alexandre nada mais é do que a conclusão de um assassinato que se iniciou há 36 anos. E sua morte só é mais um elemento a evidenciar o quanto as consequências dos anos de ditadura ainda estão presentes na sociedade brasileira. E por isso, os crimes cometidos naqueles anos não podem ficar impunes em nome de uma Lei de Anistia, elaborada e imposta por aqueles que torturaram e mataram em nome do Estado. Uma Lei de Anistia negociada ainda em tempos de ditadura.

A sua trágica morte nos lembra o quão importante é o trabalho das comissões da verdade, que se espalham por todos os níveis hierárquicos da política brasileira. Nos lembra também o quão louvável é a atuação do Levante Popular da Juventude, que aponta o dedo na cara dos criminosos da ditadura e revela onde vivem alguns desses monstros do passado.

Porém, não basta só conhecer, temos que punir os responsáveis pelos crimes cometidos. Devemos isso ao Demir Azevedo, à sua família a memória do seu filho, Carlos Alexandre Azevedo.

Leia abaixo a nota do MNDH (Movimento Nacional de Direitos Humanos), em solidariedade a família de Carlos Alexandre, e também o triste relato de um pai que viu a angústia do seu filho terminar da pior forma.

"É com pesar que o Movimento Nacional de Direitos Humanos - MNDH emite essa Nota de Solidariedade para com a família do jornalista e cientista político Dermi Azevedo, militante aguerrido dos ideais libertários e um dos construtores do MNDH, pela morte de seu filho Carlos Alexandre Azevedo, o qual foi preso e torturado durante a ditadura militar, com apenas um ano e oito meses e não conseguiu se restabelecer, o que culminou com sua morte.

Hoje a ditadura militar concluiu a morte de Carlos iniciada em tão tenra idade, este acontecimento entristece a todos nós, profundamente e fortalece nosso empenho na luta por Memória, Verdade e Justiça, de forma que a impunidade não continue se perpetuando.

Leiam a carta de luto do companheiro Dermi Azevedo:

LUTO

Meu coração sangra de dor. O meu filho mais velho, Carlos Alexandre Azevedo, suicidou-se na madrugada de hoje, com uma overdose de medicamentos. Com apenas um ano e oito meses de vida, ele foi preso e torturado, em 14 de janeiro de 1974, no DEOPS paulista, pela "equipe" do delegado Sérgio Fleury, onde se encontrava preso com sua mãe. Na mesma data, eu já estava preso no mesmo local. Cacá, como carinhosamente o chamávamos, foi levado depois a São Bernardo do Campo, onde, em plena madrugada, os policiais derrubaram a porta e o jogaram no chão, tendo machucado a cabeça. Nunca mais se recuperou. Como acontece com os crimes da ditadura de 1964/1985, o crime ficou impune. O suicídio é o limite de sua angústia. 

Conclamo a todos e a todas as pessoas que orem por ele, por sua mãe Darcy e por seus irmãos Daniel, Estevao e Joana, para que a sua/nossa dor seja aliviada.

Tenho certeza de que Cacá encontra-se no paraíso, onde foi acolhido por Deus. O Senhor já deve ter-lhe confiado a tarefa de consertar alguns computadores do escritório do céu e certamente o agradecerá pela qualidade do serviço. Meu filhinho, você sofreu muito. Só Deus pode copiosamente banhar-te com a água purificadora da vida eterna.  Seu pai Dermi  Segue em paz Carlos! Força Dermi e Darcy! Movimento Nacional de Direitos Humanos. - MNDH"