Não é novidade que a imprensa pode produzir abordagens diferentes da mesma pauta de acordo com a intenção pretendida para a matéria em questão. Mas às vezes a coisa fica meio ridícula.
O mais recente exemplo foram as matérias produzidas com base nas declarações da corregedora do Conselho Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, sobre o julgamento do “mensalão”.
O glorioso O Estado de S.Paulo, manchetou: "Opinião pública vai julgar Supremo por resultado do mensalão", diz corregedora.
A manchete teve como base uma declaração dada por Calmom antes de ministrar uma palestra no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. A declaração publicada pelo jornal entre aspas foi:
"Há por parte da Nação uma expectativa muito grande e acho também que o Supremo está tendo o seu grande julgamento ao julgar o mensalão.”
O intuito claro da manchete é o de levar o leitor a acreditar que a ministra considera que o STF só se sairá bem caso condene os réus do "mensalão". Mas não foi que Calmon nem para O Estado.
Mas o mais curioso é que A Rede Brasil Atual entrevistou a ministra e publicou uma matéria, com aúdio, cuja abordagem é bem diferente. A manchete, neste caso, é: “'Mensalão': STF não pode ceder a pressões, avalia Eliana Calmon”. A declaração que deu origem a manchete foi esta:
“Não há, absolutamente, (maneira) de a gente achar que (o STF) só se sairá bem se condenar, ou não se sairá bem se não condenar. Isso não existe. Porque se fosse assim, não precisava julgar”.
Diferente da matéria do jornal Estado de S.Paulo, a Rede Brasil Atual faz questão de salientar a posição da ministra de que os argumentos que justificarem a decisão do STF devem convencer a opinião pública, e não o contrário, com a opinião pública influenciando a decisão dos ministros. “O povo precisa ficar convencido pelos argumentos a serem usados pelo Supremo Tribunal Federal, mostrando porque está absolvendo e mostrando porque está condenando”, afirmou.
Ou a ministra é doida e fala duas coisas diferentes no mesmo lugar para repórteres diferentes. Ou O Estado de S.Paulo fez o que o meu amigo Antônio Mello costuma definir como porcalismo. Qual a sua aposta?