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A França viveu neste domingo uma eleição histórica não só para os franceses, mas também para a esquerda européia. A crise na zona do Euro tem cobrado um alto preço dos partidos socialistas da região que fizeram coro às políticas neoliberais. Na França, como estava na oposição, o PS com um discurso menos ortodoxo na campanha conseguiu se livrar do castigo.
Quando esta nota foi publicada, próximo da apuração final, o candidato do partido, François Hollande, tinha 28,5% dos votos, contra 27% do atual presidente Sarkozy. Marine Le Pen, de extrema direita, surpreendia com 18,3% e Mélenchon, da Frente de Esquerda, obtinha 11%.
A votação de Le Pen assusta, mas a de Mélenchon, anima. Esses 11% permitem surgir uma nova esquerda no país. Antes mesmo da apuração, quando as pesquisas anunciavam que o segundo turno seria entre Sarkô e Hollande, ele fez o discurso que segue, traduzido pelo pessoal da Vila Vudu.
Um discurso altamente responsável.
Temos em mãos as chaves do futuro. Quanta gente! Somos muitos!
Meus amigos,
se estiverem corretos, os primeiros números que nos apresentaram permitem que se extraiam algumas lições.
A primeira lição, já bem clara, é que os franceses parecem decididos a virar a página dos “anos Sarkozy”. O total de votos das direitas, em todos os seus diferentes grupos, diminuíram, em relação a 2007.
De muito grave, sim, é que a extrema direita aparece com grande número de votos: fizemos muito bem, portanto, em concentrar nossa campanha na análise e na crítica radical das propostas da extrema direita. Acertamos. E se não tivéssemos acertado, o mais provável é que os resultados dessa noite fossem ainda mais alarmantes. Porque, sim, o resultado de hoje é alarmante.
E é hora, agora, de dizer o quanto nos sentimos sós, em vários momentos, nessa campanha: de um lado, um nos imitava; de outro, o outro nos ignorava.
A verdade é que fizemos, nós sozinhos, a parte mais difícil da luta. Vergonha para os que preferiram atirar contra nós, e não nos ajudaram.
Lembrem, para sempre, os nomes dos que fugiram da luta real ou, pior, os que preferiram repetir argumentos anticomunistas de extrema direita, contra nós.
Hoje, somos nós, a Frente de Esquerda, que temos em mãos a chave do resultado final dessas eleições.
São vocês, portanto – não eu, é claro – que têm em mãos essa decisão, porque, de verdade, podemos ser a força política nova, que abriu caminho e nasceu nessas eleições. E somos nós, portanto, que temos as chaves dessa eleição.
Convoco todos a assumirem, de plena consciência, essa responsabilidade, sem dar ouvidos aos comentários, às ‘análises’, às opiniões impressionistas, aos joguinhos de previsões, aos quais recomendo que ninguém se renda.
O que digo agora, e bem claramente, é que, em plena consciência, nada há, absolutamente, que nós possamos negociar.
Nosso compromisso não precisa da autorização de ninguém, nem de adulação, para desdobrar-se com plena energia.
Convoco todos a mobilizar-se nos encontros já marcados. Dia 1º de maio, nos nossos sindicatos, com os trabalhadores em suas lutas, que é o nosso campo, nossa família política: o mundo do trabalho e suas reivindicações.
Convoco todos para que nos reunamos dia 6 de maio – e sem nada pedir em troca de nosso voto –, para derrotar Sarkozy!
Convoco todos a não arredarem pé, a não cederem um palmo de terreno, convoco todos a se mobilizarem, como se se tratasse de me eleger à presidência.
E nada peçam em troca do voto de vocês.
Votem contra Sarkozy, em ato de plena consciência. Por quê? Porque a nossa luta não é luta nacional, que só se dispute na França, nesse momento.
Trata-se, nessas eleições, de virar a mesa, de inverter a tendência que, em toda a Europa mantém todos os povos sob o jugo do eixo Sarkozy-Merkel. Esse eixo tem de ser quebrado aqui, na França. E vamos quebrá-lo.
Quando o tivermos quebrado, ficará então bem claro, sem bravatas, que nós, doravante, tomaremos as decisões. Nós, a nossa frente de esquerda, em toda a França e em toda a Europa. Cabe-nos agora corresponder ao poder que conquistamos pela nossa união.
Continuemos a andar tranquilamente, pelo nosso caminho. Inelutavelmente, a história caminha ao nosso encontro e nós ao encontro dela. Inevitavelmente, as ideias e soluções que nós defendemos – sobretudo a ideia da redistribuição da riqueza, não há dúvida de que ela estará na ordem do dia, nos choques que se anunciam.
Seja quem for o próximo presidente da França, a finança, desde sempre e já, prepara-se para amordaçar o povo francês.
Então, tratar-se-á de curvar-se ou de resistir. E, para resistir, a França só conta com uma força, a nossa! [Resistência! Resistência!]
Tenham no coração, o sentimento do trabalho bem feito. Não esqueçam jamais as imagens da força da união de vocês todos. Não se deixem dividir, dispersar.
Dessa vez, nos fizemos ouvir e chegamos no pelotão da frente. Da próxima, será a vez de chegar ao poder, pelas urnas e pelas vias democráticas.
Viva a República! Viva a classe operária! Viva a França!