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O 11 de abril de 2002, dia do golpe contra Chávez que hoje faz 10 anos, aconteceu numa quinta-feira. No dia 8, Carolina, minha filha, tinha feito 11 anos. No sábado, 13, haveria festa dela em casa. Foram longos aqueles dias e noites que antecederam aquele sábado.
Desde quinta eu praticamente não dormia porque acompanhava a história da queda de Chávez pela internet. E no sábado já tinha convicções e versões diferentes das que as TVs, rádios, jornais, e revistas daqui anunciavam.
Antes de voltar ao aniversário de Carolina, um parêntese para falar da mídia brazuca.
Na sexta, 12, o Jornal Nacional dedicou mais da metade de sua edição para tratar da manifestação pacífica que havia derrubado o ditador. O altamente qualificado em política internacional, Arnaldo Jabor, segurando uma banana, fez o comentário da noite.
“Eu ia dizer que a América Latina estava se “rebananizando” com o Hugo Chávez no seu delírio fidelista, com a Colômbia, misturando guerrilha e pó, abrindo a Amazônia para ações militares e com a Argentina legitimando o preconceito de que latino que não consegue se organizar”
(...)
Por isso acho boa a notícia da queda de Chávez. Acordamos mais fortes hoje e eu já posso “desbananizar” a América Latina. Para termos respeito da América (atentem para esse detalhe, respeito da América, ou seja, dos EUA...) temos de ser democráticos. Tendo moral pra dizer não.”
Mas não foi só Jabor que saiu em defesa do golpe. Boris Casoy quase “bateu” no então senador José Alencar, por ele ter dito que o que ocorrera na Venezuela fora um golpe militar.
Veja deu capa anunciando “a queda do presidente fanfarrão”. Época colocou Chávez numa foto junto com ex-presidentes golpistas como Fujimori.
A mídia brasileira fez parte do golpe contra Chávez.
Digo isso sem a menor sombra de dúvida depois de dez anos.
Voltando a festa de 11 anos de Carolina, quando contava aos amigos e principalmente a alguns familiares o que de fato ocorrera no país vizinho, ouvi do Nilo Rovai, um tio que já partiu, a seguinte frase: “Então por que você não vai para lá? Você é jovem, deveria ir atrás dessa história”.
A festa acabou, entrei no computador e comprei a passagem para Caracas. No dia seguinte estava embarcando. Com o fotógrafo Satoru Takaesu, cheguei quando o povo já comemorava a reviravolta. E tivemos o “prazer” de entrevista o golpista Pedro Carmona em sua prisão domiciliar.
Essa história acabou sendo base da minha dissertação de mestrado e posteriormente o livro Midiático Poder, o Caso Venezuela e a Guerrilha Informativa, que o amigo pode adquirir aqui.
A história do livro é a história da mídia comercial tradicional daqui, de lá e um pouco dos EUA, que liderou todo esse processo. De uma mídia que articulou, patrocinou e tentou dar o golpe num governo legitimamente eleito.
Dez anos depois, tenho críticas ao processo venezuelano. Acho-o muito centralizado na figura do presidente. E temo por isso. Mas não posso deixar de comemorar as muitas conquistas daquele povo. E celebrar 10 anos de um golpe enterrado pelo povo. Onde a mídia golpista foi a grande derrotada.