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A ministra da Cultura foi louvada no perfil oficial do Ministério da Cultura, que depois apagou as postagens sem deixar rastro. Com isso, conseguiu atingir o topo do twitter brasileiro.
por Rodrigo Savazoni
A ministra da Cultura do Brasil, Ana de Hollanda, não gosta da internet. Mas na rede mundial de computadores ela tem conseguido feitos expressivos. Entre os quais, o de ser a líder de "audiência" nas conversações dos internautas brasileiros no fim da tarde desta quinta-feira.
Com a hashtag (palavra-chave) #AnadeBelém, a ministra foi 1º lugar no trending topics Brasil e ficou entre os assuntos mais comentados do dia por mais de uma hora. Um feito notável, que merece registro.
Desde ontem pela manhã, quando afirmou que a internet é uma ameaça à cultura brasileira, em audiência pública no Congresso Nacional, Ana de Hollanda tem sido motivo de atenção dos ativistas da cultura e das redes.
Aliás, essa atenção tem sido dispensada a ela desde o início de sua gestão, devido às constantes declarações e ações contrárias ao compartilhamento do conhecimento, como a retirada da licença Creative Commons do site do Ministério.
Esta tarde, provavelmente a mando de profissionais de comunicação especialistas em gestão de crise, o perfil institucional do Ministério da Cultura no twitter (@culturagovbr) foi invadido por frases laudatórias à ministra. Entre elas duas: uma que dizia que Ana fez a chuva parar em Belém para poder anunciar medidas culturais em benefício daquele estado do país. E outra que falava em rufar de tambores e outras veleidades literárias.
As frases foram posteriormente retiradas do perfil institucional do Ministério, após a reação explosiva dos internautas que responderam à insanidade com tuitadas jocosas e bastante brejeirice. Antevendo que isso poderia ocorrer, fiz uma cópia da página com as pérolas.
A hashtag #AnadeBelém emergiu de outro tuite publicado no perfil institucional, em que o gestor da rede do MinC registrava a euforia de Dona Rose, do Mercado Ver-o-Peso, com a presença da ministra. Nesta postagem, ele descreve uma Rose que abre seus braços e saúda a ministra, efusivamente: "Ana de Hollanda nada. Ana de Belém".
Foi a deixa necessária para a rede passar a chamar a ministra assim em um festival criativo de frases de efeito e críticas contundentes.
Em seu Communication Power, Manuel Castells discorre sobre mudanças na política e no poder, e formula dois conceitos importantes: Mass self-comunication (algo como comunicação individual de massas) e network-making power (poder de tecer redes). Essas capacidades estão sendo utilizadas cada vez mais pelos agentes que se expressam nas redes interconectadas, como nos protestos da Primavera Árabe, no 15-M Espanhol, ou no #OccupyWallStreet.
Em menor escala, foi isso que pudemos vislumbrar hoje à tarde, na rede brasileira. Com um elemento adicional. Aqui no Brasil o bom humor e a chacota se impõem sobre as demais formas de discurso. Para entender o que eu estou dizendo, leia as mensagens compiladas pela busca por #AnadeBelém. É impagável.