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O ex-ministro da Cultura do governo Lula, o baiano Juca Ferreira, decidiu se filiar ao PT depois de 23 anos de PV. O evento acontecerá no dia 2 de fevereiro, dia de Yemanjá, em Salvador. Nesta entrevista realizada por e-mail, ele confirma sua insatisfação com os atuais rumos do MinC e diz "que sente pela falta de tempo que pode nos custar caro no futuro".
Sobre o futuro, Juca diz que no seu caso a frase "o futuro a Deus pertence é absolutamente verdadeira".
Por que o senhor decidiu se filiar ao PT neste momento? O senhor pretende ser candidato a algum cargo eletivo em 2012?
Desde que minhas divergências com o PV me levaram a romper meus vínculos partidários, depois de 23 anos de filiação, venho refletindo sobre minha vida política, sobre meu desejo de participação e se me filiaria de novo e em que partido. Não tenho um plano, minha filiação ao PT não faz parte de nenhum plano tipo me filiar para ser candidato ou coisa semelhante. Estou buscando espaço para dar continuidade à minha participação política.
No momento, vivo e trabalho em Madrid e estou indo para a Bahia para a festa da filiação. Vou aproveitar que é no dia 2 de fevereiro para dar um presente para Yemanjá e fazer meus pedidos. Paz, saúde e que ela me ilumine e me proteja. Neste momento, no meu caso, a afirmação de que o futuro a Deus pertence é absolutamente verdadeira. Acho que a partir da minha filiação as coisas começarão a ficar mais claras para mim.
Qual avaliação o senhor faz do quadro partidário? O senhor era filiado ao PV e, na campanha de Marina Silva, solicitou afastamento. Como avalia o PV hoje e o movimento que Marina está organinzando?
Desde que saí do MinC estou vivendo fora do país e não sou a pessoa mais indicada para fazer esse tipo de análise. Sou dos que acham que a experiência dos anos pós-ditadura vem indicando que a democracia brasileira está demandando uma reforma política que diminua a importância do dinheiro nos processos eleitorais e coíba a corrupção. Outros temas importantes como financiamento público das campanhas eleitorais, aumento da transparência obrigatória no trato da coisa pública e profissionalização do Estado deverão ser enfrentados. O Estado não pode ser visto como botim de guerra. A reforma política deve possibilitar a disputa de projetos para a sociedade, como base para a democracia e a alternância de poder.
Que avaliação faz hoje do panorama cultural brasileiro?
A força que vem de baixo é enorme. É como se o andar de baixo da sociedade estivesse em uníssono cantando "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". As demandas estão se aprofundando. A cultura vem ganhando uma importância enorme. As mudanças políticas, econômicas e sociais que o país está vivendo farão com que tenhamos que viver um processo de desenvolvimento cultural de igual envergadura. O acesso pleno à cultura, o deenvolvimento da economia cultural e apoio do Estado para o desenvolvimento das artes e das manifestações não podem ser vistos como parte do livre arbítrio. São direitos culturais da cidadania. Acho que estamos perdendo tempo. O economicismo está presente em todas as famílias políticas... Já somos a sexta economia do mundo, mas com uma visão pequena sobre a cultura.
Desde que saiu do MinC o senhor se mantém longe do debate acerca dos rumos do ministério. A sua única manifestação pública foi nos comentários de um artigo publicado pelo professor Idelber Avelar aqui na Fórum, por que preferiu esse caminho?
Um ex-ministro tem que ter certos pudores em sua intervenção. Um deles é evitar opinar sobre os seus sucessores. Mas não estou ausente e nem me aposentei. Se dissesse que estou contente com os atuais rumos do ministério eu estaria mentindo. Mas acho que a área cultural está travando o bom combate pela preservação das conquistas do governo Lula e pela continuidade dos processos iniciados neste período. Sinto pela perda de tempo, que nos sairá caro no futuro. Fiquei emocionado com a lucidez e coragem de Idelber, com quem tenho muitas afinidades e acabei manifestando minha indignação, sentimento muito atual aqui na Espanha nesse momento.
A sua filiação ao PT da Bahia tem relação com um projeto mais regional ou o senhor ainda pretende voltar ao cenário nacional do debate da cultura?
No momento estou prestando serviços no âmbito internacional. Tanto posso atuar na minha aldeia, quanto no âmbito nacional ou, como estou fazendo no momento, dentro de uma perimetral mais ampla. Todas são importantes e, como disse, não tenho planos mais precisos no momento. Quero ver primeiro se o partido tem alguma ideia. Vou tocando o barco. Daqui a pouco sei que estarei por aí. Não estou exilado. Estou dando um tempo e minha filiação talvez seja o ponto de mutação deste recuo. Sinto que sair foi necessário para voltar, como disse Gil em uma das suas canções Londrinas.