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Evitei ouvir, ler e ver qualquer coisa associada à tragédia de Realengo. Há quem acompanhe esse tipo de caso com pente fino, procurando detalhes para poder opinar com “conhecimento de causa”.
Em geral, faço o caminho contrário. Busco poucas informações sobre o assunto e se elas me parecem suficientes, fujo dele. Tragédias como essa me fazem muito mal.
No entando, vou tratar do tema, porque o pouco que li, vi e ouvi sobre o caso me permite afirmar que de novo está se cometendo o equívoco de discutir o episódio como um tema de segurança pública. Ele não é. Porque mesmo que todas as escolas passassem a ter um policial na porta,dificilmente tragédias como essas seriam evitadas.
Porque esquizofrenia e psicopatia não se resolvem na bala. Carecem de políticas de saúde pública e de assistência social. E nesse caso a escola é um espaço adequado para programas de prevenção. Aliás, escola é local adequado para psicólogos, assistentes sociais, médicos, dentistas e outros profissionais da saúde. Não é local para polícia.
Por isso, a esquerda precisa começar a debater políticas de segurança na sua dimensão estratégica e não mais de forma periférica, apenas como algo relacionado às políticas sociais. Até porque a cada evento como o de Realengo a discussão descamba para a necessidade de se aumentar o aparato repressivo. E a direita toma conta da pauta com discursos estapafúrdios de mais violência para conter a violência.
A discussão estratégia que a esquerda precisa fazer é de como desenvolver políticas para desarmar o país. Políticas sérias, que não podem ser apenas a de trocas de armas por brinquedos ou uns trocados. É preciso transformar essa ação em algo da dimensão de um Bolsa Família. Em algo que seja republicano a ponto de envolver todos níveis federativos e ao mesmo tempo que chegue a todos os cantos do país.
Se isso impediria que uma pessoa doente buscasse se armar para matar crianças inocentes? Não. Mas ao mesmo tempo encareceria e dificultaria esse tido de ação. O preço de um produto está relacionado à sua disponibilidade no mercado. Muitas armas é igual a preço acessível.
No debate sobre segurança a direita sabe o que quer: mais polícia e repressão.
Já a esquerda se perde e perâmbula pelo tema sem foco.
Mesmo com todos os riscos, acho que a melhor bandeira é a do desarmamento. É preciso defendê-lo e implementá-lo.
A presidenta Dilma deveria aproveitar o drama do episódio de Realengo que chocou o país para criar um grupo de especialistas com um único objetivo, criar um programa nacional para desarmar o país.
Isso seria uma enorme contribuição do seu governo não só para a segurança da população, mas também para o avanço da nossa democracia.