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Alguns jornalistas acham o máximo ser “especialistas em generalidades”. Ou seja, escrever e falar sobre qualquer coisa, mesmo aquelas sobre as quais nunca arriscaram ler nem a orelha de um livro.
O jornalista Rica Perrone, que assina um blogue esportivo escreveu um texto que é exatamente o oposto do que postei logo abaixo tratando do jogo Cruzeiro x Vôlei do Futuro. Ele achou “a piada do século” o time do Cruzeiro ser punido porque sua torcida “chamou o carinha do outro time de viado”. O texto evidencia que sua ignorância sobre o tema é maiúscula, gritante. Mas mesmo assim ele não resistiu em oferecer suas obtusidades para o dileto público.
Ele considera que chamar Ronaldo de gordo é o mesmo que uma torcida inteira atacar um jogador de vôlei que dias antes tinha assumido sua homossexualidade. Vou tentar desenhar para ele que as coisas são diferentes.
Segundo dados da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais em 2009 o Brasil contabilizou 198 homicídios com motivação homofóbica. Em 2010, em novembro já eram 205 mortes. Reconheço que pessoas obesas são estupidamente chacoteadas por estúpidos que acham “normal” fazer graça com a diferença alheia. Mas desconheço casos de assassinatos a obesos nas ruas das cidades brasileiras. Será que esses dados não são o suficiente para admitir que o buraco é mais embaixo quando se fala de homofobia?
Mas as "opiniões" de Rica Perrone não se resumem ao que escreveu no seu blogue. Ele também deu uma entrevista ao Portal da Revista Imprensa . O trecho final da matéria é auto-explicativo: “Você já viu um pai passando a mão na barriga de uma mulher grávida e dizendo: 'Ah, tomara que seja gay'?". "É simples: eu sou são-paulino e não gostaria que meu filho fosse corintiano. Quero que meu filho tenha os mesmos hábitos de convivência que eu".
Perrone considera “hábitos de convivência” a orientação sexual de um cidadão. Isso mesmo, Perrone, orientação sexual. Não é opção, como você enseja dizer tanto no seu texto como também na entrevista em que busca se explicar. Há pesquisas de sobra hoje que apontam que as manifestações da orientação sexual de um ser humano se evidenciam ainda na infância, em geral lá pelos 7 ou 8 anos de idade.
Se o colega acha isso besteira, converse com seus amigos homossexuais (se é que se permite tê-los) e pergunte se “decidiram” ser gays apenas quando se tornaram "safados". Ou se se perceberam homossexuais muito antes de mexer no pinto e achar que aquilo servia para outra coisa além de urinar.
Homossexualidade não é opção e nem safadeza. Homossexuais são vítimas de preconceito e violência e por isso qualquer ataque a esse segmento social precisa ser sim atacado. Não por moralismo, colega. Por humanismo, por respeito aos direitos humanos.
Em matéria recente publicada na Fórum, assinada pelos jornalistas Glauco Faria e Thalita Pires, um dos trechos finais me impressionou muito quando a li. Reproduzo:
“Caitlin Ryan, professora da Universidade de San Francisco, realizou uma pesquisa, divulgada em maio de 2010, em que entrevistou 224 jovens gays e parentes para avaliar o impacto da aceitação dos pais na vida destes jovens. O levantamento apontou que homossexuais rejeitados por suas famílias têm oito vezes mais chances de tentar o suicídio do que aqueles que foram aceitos; têm seis vezes mais chances de desenvolverem depressão e três vezes mais possibilidade de praticarem sexo sem proteção.”
Desejo sinceramente que nem Bolsonaro e nem Rica Perrone tenham filhos homossexuais.