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Nos anos 80 eu torcia pela Pirelli. O time liderado pelo armador Willian disputava quase todas as finais contra o Atlântica Boa Vista, de Bernard. O Atlântica era do Rio de Janeiro. O Pirelli, de São Paulo. Mais precisamente de Santo André. Acho que torcia pela Pirelli por isso, pela proximidade. Hoje me peguei torcendo para um time de vôlei e desconsiderando a proximidade.
Naqueles anos parecia que o vôlei brasileiro ia mobilizar milhares de torcedores país afora, mas não foi isso que aconteceu. Nossos melhores jogadores saíram, em geral para a Itália, e os atletas que ficaram não conseguiram nem apoio nem mídia para empolgar patrocinadores. Mesmo o Brasil tendo ganhado boa parte dos torneios de seleção que disputou. Incluindo nesta conta uma Olimpíada.
Agora o vôlei ganhou novo impulso. Boa parte dos atletas voltou e os ginásios têm ficado cheios nas principais partidas.
Assisto isso de camarote. Moro em frente ao SESI da Vila Leopoldina, em São Paulo. O clube tem Giovanni como técnico e está sempre disputando finais de campeonatos. Em dias de jogo, minha rua pára.
Nos próximos fins de semana o SESI vai disputar a final da Superliga masculina de Vôlei. O jogo será ou contra o Cruzeiro, de Minas, ou contra o Vôlei Futuro, de Araçatuba.
Vou torcer muito pelo Vôlei Futuro. Tanto contra o Cruzeiro quanto contra o SESI, caso passe pela final. Explico.
Poucas vezes vi uma cena tão emocionante no esporte brasileiro quanto a homenagem que o povo de Araçatuba e os colegas de equipe do meia de rede Michael fizeram a ele neste final de semana por conta do que viveu em Minas dias antes.
Após assumir sua homossexualidade, Michael foi com a sua equipe disputar as semifinais contra o Cruzeiro, e foi estupidamente hostilizado pela torcida local. Um vexame. Algo que deveria envergonhar não só o time, como seus jogadores, torcedores e todos os mineiros.
As cenas eram de um país atrasado e intolerante. Mas felizmente o Brasil não é só isso.
No confronto de volta, a torcida do time de Michael abriu uma faixa enorme onde se lia “Vôlei Futuro contra o preconceito”, seus torcedores seguravam balões rosas com o nome do atleta e na quadra o líbero Mário Júnior usava uma camisa com um arco-iris, mostrando o respeito da equipe pelo colega.
Não imaginava que poderia assistir cenas como essa numa arena esportiva brasileira. O nome de Michael entra para a história do esporte brasileiro porque pela primeira vez uma torcida saiu em defesa de um atleta e contra homofobia.
Vôlei Futuro e Araçatuba demonstraram civilidade, tolerância e dignidade. Vou torcer muito para que ganhem a superliga. Porque não será apenas a vitória de um time e de um conjunto de atletas. Mas de uma luta histórica contra o preconceito.