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Os países islâmicos são fundamentalmente jovens, como também os africanos. A pirâmide etária deles é exatamente o avesso da européia e da estadunidense. Base larga e topo estreito. Em quase todos onde os protestos já derrubaram ditadores ou em que estão prestes a derrubar, como na Líbia e no Bahrein, aproximadamente 50% da população tem menos de 25 anos. Na África, a idade da metade da população é ainda menor, 20 anos ou menos.
Nos países mulçumanos, são esses jovens que andam com celulares pelas ruas e que utilizam a internet em espaços públicos (porque ela ainda é cara para a maioria) que percebeu que o mundo ao qual estavam confinados era muito diferente daquele que acessavam.
É possível que um outro desses governos déspotas consiga se segurar no poder. Na Arábia Saudita, por exemplo, como a renda percapita é muito alta (US$ 16.641) e o desemprego não é dos piores da região, 10,4%, contra 14,2% da Tunísia onde o movimento se iniciou, ainda reina um certo sossego.
O que esses jovens querem? Mudança e mais democracia. Querem poder escolher seus governantes e também ter o direto de tirá-los do cargo. Não se movem em nome de um novo sistema econômico, mas contra um tipo de dominação política. Um autoritarismo pragmático que em alguns casos é pró-EUA e em outros contra.
Não há diferença entre Kadafi e Mubarak para esses jovens. Eles são déspotas e precisam cair. Na Líbia, dos 6,4 milhões de habitantes, 47,4% tem menos do que 25 anos. No Egito, dos 82,9 milhões, 52,3%.
É a bomba jovem que está mudando o cenário do chamado mundo árabe. Este mesmo ingrediente existe na África, onde, aliás, está boa parte desses países islâmicos (Egito, Tunísia e Marrocos, por exemplo. Pode ser que essa onda não se propague para além do norte africano, mas se isso vier a acontecer não será surpreendente.
Os jovens são o combustível da mudança. E quando a situação exige mudança, quanto mais jovens melhor.
Acabo de chegar no Egito e até o fim desta semana publicarei todos os dias textos daqui. A situação no país é de certa tranqüilidade, mas na rua do hotel onde estamos, próximo a Praça Tahrir, um grupo de aproximadamente 100 pessoas faz um protesto de cunho sindical.
O país parece ter tomado gosto pelas ruas. E ao que tudo indica, isso não acontece só o Egito. Outros ditadores vão cair por aqui. Ditadores que fazem o jogo dos EUA e ditadores que se colocam do outro lado da rua, mas que não deixam de ser ditadores por conta disso.
[caption id="attachment_9965" align="alignleft" width="1024" caption="Protesto em frente a empresa privatizada no ano passado interdita rua perto da Praça Tahrir."][/caption]