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Luis Nassif é um dos jornalistas mais inteligentes e talentosos do Brasil. Entre os seus colegas de profissão não são poucos os que assim pensam. Nos últimos anos se notabilizou por enfrentar esquemas barra-pesada, entre eles o mais deplorável veículo de comunicação do Brasil, a revista Veja. Fez uma série de reportagens sobre o semanário que entrou para a história do debate sobre a comunicação no Brasil.
Em conjunto com outros nove colegas, entre eles este blogueiro, também foi um dos organizadores do 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas. Quem esteve no evento sabe que encaminhei contra a escolha deste nome, mas isso é outra história. Sou testemunha da importância de Nassif para que aquele encontro tivesse a dimensão que teve. Muita gente que participou soube e se articulou a partir da ação dele na rede. Nassif é hoje um dos mais importantes e acessados blogueiros e isso guarda relação com a qualidade do seu trabalho.
Neste fim de semana, Nassif deu destaque a um comentário de um leitor chamado André que cobrava de Dilma posição também contra o apedrejamento de homens no Irã. E que perguntava se ela não estava se tornando uma feminazi por ter se posicionado apenas contra o apedrejamento das mulheres. Antes de o comentário do leitor se tornar post, ele já havia sido questionado por uma outra freqüentadora do blog, a Bárbara, que explicou de forma muito educada o equivoco do tal André.
Concordo com Bárbara, a linha de argumento utilizada pelo comentarista pra desqualificar a luta das mulheres é a de que somos todos iguais e que também existe mulher do mal. As feministas com as quais convivo não têm dúvida disso. A questão é outra. As mulheres são vítimas de preconceito e de machismo há algumas dezenas de décadas. Na minha infância, por exemplo, cansei de ver a vizinhança esperando o marido acabar de bater na mulher pra depois ir socorrê-la. Afinal, em briga de marido e mulher ninguém bota a colher. E a mulher apanha.
Em suma, se o blogue do Nassif fosse o meu, não teria destacado o comentário do sujeito, que não considero nem relevante nem inteligente. Também não teria dado destaque a um texto com o título de “As facções do movimento feminista”, onde a autora discorre sobre a origem e as posições de algumas das mulheres que discordaram dele.
Mas uma questão que não pode ser desprezada é que nem o blogue do Nassif é meu. E nem o meu é dele. Esse é o grande lance da internet que alguns parecem não ter percebido. A internet é a casa da multiplicidade. Essa é a sua melhor característica.
Até por isso num mesmo campo político há gente que entenda seu blogue como um espaço de incentivo a diferentes opiniões e outros que preferem tornar seus espaços em bunkers de suas lutas e causas. Considero essas diferentes perspectivas complementares e positivas para a rede.
A militância dessas mulheres que tem nos ajudado com seus questionamentos a melhorar a vida de milhões de outras merece todo meu respeito. Por outro lado, não me parece correto e nem justo e inteligente transformar Nassif num inimigo da causa feminista.
Tanto que algumas pessoas, mesmo enfrentando o debate com firmeza, não adotaram essa tática. Foi o caso de Cynthia Semíramis, que não apelou para generalizações e agressões gratuitas e pontuou com respeito as divergências no seu blog.
Menos honesto ainda é tentar transformar o post do Nassif numa ação de quadrilha, num movimento machista “dos blogueiros progressistas”. Esse é um comportamento típico de quem tem dificuldade de conviver com construções coletivas e busca fazer do protagonismo alheio escada para seus desejos de sucesso.
A blogosfera progressista não é um grupo, não é um partido e tampouco um time de futebol. Alguns blogueiros e blogueiras achavam que tinham afinidades (e sabiam ter diferenças) e decidiram se reunir. Para que a coisa acontecesse, inventaram um nome para designar o encontro. Se todos pensam da mesma forma? Óbvio que não. Como em qualquer outro movimento, há gente de todas as cores e sabores na chamada blogosfera progressista. Nassif é um deles.
Um cara que merece respeito pelas duras batalhas que enfrentou nos últimos anos. Batalhas que dizem respeito a muitos de nós. Discordar de suas opiniões, decisões, textos, posições políticas etc. faz bem ao debate. Até porque ele é um cara que enfrenta o debate.
Agora, transformá-lo num adversário a ser combatido não vale. Pelo menos para este blogueiro sujo. Nassif é um aliado. E dos bons.