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Todos os anos, quando saem listas de aprovados nos vestibulares, com milhares de nome, eu gosto de fuçar nelas, procurando não muito os nomes da moda, mas os que saíram da moda, alguns que praticamente se extinguiram, pelo menos em São Paulo.
Sebastião, Benedito e Margarida, por exemplo. É raro encontrar um jovem ou menino com esses nomes. Joaquim, também tornou-se raro. Este ano, na lista da Fuvest, não tinha nenhum Sebastião, nenhum Benedito e nenhum Joaquim! São considerados nomes caipiras aqui.
Enquanto fuçava na lista, eu me lembrei de um amigo que procurava um nome pro primeiro filho e eu fiz umas sugestões brincalhonas: se quisesse que o menino fosse um cara pontual, que não se atrasasse nunca a encontros, por exemplo, seu nome deveria ser Aarão. Motivo: nas chamadas na escola, seria com certeza o primeiro nome, então não poderia se atrasar nunca, para não ficar com falta.
E considerando as chamadas na escola, ele podia querer dar um privilégio ao filho, no caso de provas orais, que haviam na época e costumavam também ser por ordem alfabética. Nesse caso, minha sugestão seria Zulfimar. Dificilmente haveria alguém alfabeticamente depois dele. Poderia ter uma Zulmira, e mais tarde conheci um Zwinglio.
Brinquei com outros nomes, que nos tempos de reuniões em que usavam-se nomes de guerra eu acabava sempre escolhendo ser Orlando (imaginava que caracterizava um sujeito que andava pelas orlas, quer dizer, pelas beiradas) e Jair (mais ou menos com o sentido de “é pra já”, já vai).
Bom... Este ano não havia na lista nenhum Aarão e nenhum Zulfimar. O nome que a encabeçava era Abner, que em outros tempos perderia para nomes não raros, como Abel e Abílio.
Para ver o último nome, fui à letra Z e encontrei só um nome solitário, de mulher: Zaíra. Nenhum Zildo ou Zilda, nenhuma Zulmira, Zoé, Zenaide, Zilah ou Zuleica, nenhum Zenóbio, Zacarias, Zaqueu ou Zeferino.
Falando em nomes “solitários” na lista, fui à letra Q e tinha só um nome – Quezia. Nenhum Quintino, nenhuma Quitéria.
Os que vão indo ou foram pro limbo
Uns nomes são raros, mas ainda encontráveis por aí. É o caso de Alberto e Ronaldo (que aparecem duas vezes), Oscar, Glória, Otacílio, Tadeu, Domingos, Moacir, Rosa, Míriam e Glória (uma vez cada).
Aí fui procurando nomes de amigos e conhecidos, que eram relativamente comuns e me surpreendi com a inexistência de nenhum aprovado na Fuvest-2017 com os seguintes nomes: Olga, Aurora, Dinorah, Horácio, Ademar, Lúcio, Odair, Lucy, Maura, Selma, Sônia, Ivone, Hamilton, Jurandir, Jane, Leda, Lurdes (nem a forma francesa, Lourdes), Marta, Osvaldo, Rosely, Afrânio, Nelma, Amélia, Célia, Mirna, Rosalva, Airton (nem com a forma Ailton – tem um Ayrton), Fausto, Ari (nem Ary), Alfredo, Getúlio, Raimundo, Odete, Ivana, Marli, Magali, Margarete, Iara, Eva, Alice, Fátima...
E nem mesmo nomes de artistas cheios de fãs, como Gilberto, Caetano, Marieta, Elis... Salva-se a Bethânia – tem uma! Rita, não em homenagem à Lee, imagino, tem quatro, mas todas “de Cássia”, então estão mais para homenagem à santa.
Falando em homenagem, cuidado com elas! Em 1968 um conhecido quis homenagear Guevara e pôs no filho dele o nome de Ernesto. Só que quando o moleque chegou à escola, pensavam que o nome dele era homenagem a outro Ernesto, o Geisel, para horror do pai. Na época, gente de esquerda costumava homenagear alguns líderes, como Emiliano (Zapata – do México), Camilo (Torres, padre guerrilheiro do Peru), Luís Carlos (Prestes)... Ernesto, Emiliano e Luís Carlos já não constam na lista da Fuvest. Camilo tem poucos, mas em compensação tem muitas moças chamadas Camila.
E esse negócio de homenagem costuma ter efeito contrário. Já vi Lênin de direita, Marco Polo que não viaja, e eu mesmo, que deveria ser Mozart, mas o escrivão escreveu errado, não entendo nada de música (gosto, mas não sei tocar nada). Por falar nisso, tem um Mozart na lista.
Outros nomes ausentes na lista da Fuvest são Dalva, Dalila, Gláucia, Herculano, Hilário, Hebe, Ivonete, Ivete, Janete, Irineu, Alípio, Alaíde, Diva, Fúlvia (e Fúlvio), Abel, Abelardo, Altamiro, Ethel, Leonor, Dagmar, Hélcio, Noel, Tenório, Tobias, Joelma e Waldomiro com W – tem um com V.
Alguns foram adaptados para novos tempos. Adélia, por exemplo, sumiu, mas tem Adele. Nicolau também sumiu, mas há muitos Nicholas. Emília, agora só tem Emily, e Isabel também virou raridade, mas tornou-se comum o nome Isabela. Branca vai cedendo espaço para Bianca. Júlia tem muitas, mas Giulia vem ganhando terreno. Marilu não tem nenhuma, nem mesmo escrito como na língua dos gringos Mary Lou.
Adilson também não consta na lista, mas acredito que no Nordeste ainda seja um nome comum, como outros com a terminação “son” (Nailson, Jailson, Marilson...). Aliás, há nomes regionais que aqui podem parecer extintos, mas são comuns em alguns estados ou regiões, como Ribamar no Maranhão, Iracema no Ceará, Abadia no Triângulo Mineiro...
Já tiveram seu tempo ou continuam tendo
Uns nomes viraram moda a partir de um acontecimento, como Maíra, do livro de Darcy Ribeiro. Ainda há um número razoável de moças chamadas Maíra, mas Darcy (ou Darci) sumiu. Gabriela e Joana, nos meus tempos de criança, eram nomes “caipiras”, tornaram-se moda e continuam firmes. Amanda foi outro nome da moda e também continua firme. Patrícia, que teve uma moda fortíssima, vai se tornando um nome mais raro, acredito que por causa do adjetivo “Patricinha”. “Mauricinho”, seu equivalente masculino, parece não ter influenciado tanto na escolha do nome Maurício.
Paula existem muitas, mas agora vão perdendo para Paola, como é sua versão em italiano. Só que pronunciam Paôla, o que acho feio. A pronúncia italiana não é Paôla. Basta lembrar o carrasco da seleção brasileira na copa de 1982, Paolo Rossi. Ninguém pronunciava Paôlo Rossi. Era Paulo mesmo.
Alguns nomes compostos continuam muito na moda. Ana (agora também Anna com nn), por exemplo, pode ser Júlia, Clara, Carolina, Luísa, Beatriz. Maria continua sendo base para muitos nomes compostos também, mas não há nenhuma Maria Aparecida (nem Aparecida, sem Maria), Maria Inês (em Marinês).
Dos nomes masculinos compostos, João e Antônio são base para muitos. José perde espaço na composição.
Invenções problemáticas
Uma coisa que se percebe é que quase não há mais nomes “inventados”, porque os cartórios não aceitam mais a “criatividade” de juntar parte de dois ou mais nomes para nomear um bebê. E nem nomes que poderiam criar problemas para seus portadores, como era comum encontrar por aí. Cito alguns deles: Esparadrapo, Máquina Singer, Carabino, Hypotenusa, Rocambole, Faraó do Egito Souza, Gerunda Gerundina Pif e Paf, Jotacá Dois Mil e Um, Placenta Maricórnia, Pacífico Armando Guerra...
Sem contar nomes que são normais, mas que agregados tornam-se estranhos. É o caso de um homem chamado Jacinto Leite Aquino Rego. E teve um casal que gostava muito de cinema, mas marido e mulher eram fãs de atrizes diferentes. Ele admirava Ava Gardner e ela preferia Gina Lolobrígida. Nasceu uma filha e, depois de muita discussão deram a ela um nome composto: Ava Gina.
Outra história que se tornou famosa uma época era um fanático por livros. Os nomes que colocou no filho foram Prefácio, Capítulo e Epílogo. Ele pensou que pararia aí, mas veio uma menina e chamou-se Errata
Já que estou contando causos, lembro-me de um conterrâneo que resolveu colocar nos filhos só nomes começados pela mesma letra. Mas para contar isso, disse: “Meus filhos todos têm nomes começados pela letra A: Tonho, Tamiro, Fredo, Nésio, Cida, Fonso, Dorfo...”.
Enfim... Sugestões
Para terminar, como sugeri ao meu amigo que chamasse o filho de Aarão ou Zulfimar, vejo que muita gente quer colocar nomes “interessantes” nos filhos, mas acaba caindo em nomes da moda. A lista está cheia de Lucas, Rafael, André, Caio, Beatriz, Daniel, Beatriz, Bruno e Bruna, Gabriel, Felipe, Alexandre (e variantes, como Alessandra), Henrique, Gustavo, Guilherme, Giovana, Giulia, Julia, Letícia, Mateus, Mariana, Rodrigo...
Outros querem para os filhos nomes mais “exclusivos”, “únicos”. Para esses tenho algumas sugestões: Orozimbo, Rozendo, Claudemira, Ladislau, Levindo, Geralda, Olegário, Onofre, Magnólia, Laurindo, Brasilina, Ubaldo, Natanael, Aparício, Aprígio, Alaor, Heládio, Etelvina, Firmino, Vitorino, Valdivina, Ramiro, Morgana, Anésio, Edvaldo, Orminda, Ordália, Ismênia, Onofre, Alzira, Aderbal, Porciúncula...
São nomes praticamente desaparecidos, pelo menos em São Paulo. Quem tiver um deles no futuro, vai ser difícil encontrar um xará aqui.
Eu que tenho um nome raro e esquisito, garanto: é mais fácil se lembrarem da gente. Mas tem um defeito: se meu nome for parar, na Sociedade de Proteção ao Crédito, por exemplo, não dá para falar que é um homônimo. Não ter xarás tem dessas coisas.