Político preparado
Tem político que gosta de se exibir como mais preparado pra exercer qualquer cargo, desqualificando os adversários que segundo eles seriam “despreparados”. Até em eleições municipais há candidatos a prefeito se autopropagandeando como “mais preparados” para governar, mas isso não é de hoje. É coisa antiga.
Lá pelos anos 1960, em resposta a um desses metidinhos a bestas, Stanislaw Ponte Preta escreveu: “Creolina também é preparado e serve para lavar privada”.
Jornalista imbecil
Em todas as profissões há bons e maus profissionais. Como jornalista (posso não ser dos melhores — quer dizer, ter sido, pois estou aposentado — mas também não fui dos piores), sempre tive birra contra o tipo de colega que faz tudo que o patrão manda. É pra desancar uma pessoa decente? Pau nela! É pra louvar um político safado? Viva ele! Observando o comportamento de certos colegas subservientes, sempre me lembro da história de um deles, que foi entrevistar o Barão de Itararé, com recomendação de fazer uma matéria bem contrária a ele. O jornalista começou a fazer perguntas imbecis e a uma certa altura foi interrompido pelo Barão, que disse: “Houve um tempo em que os animais falavam... Hoje em dia eles até escrevem”.
Já que falo do Barão e também já citei as eleições, lembro que ele foi vereador eleito pelo PCB, no Rio de Janeiro. Mas o partido teve seu registro extinto em 1947, por submissão do governo brasileiro ao imperialismo gringo, e em janeiro de 1948 o Congresso aprovou um projeto de lei de um deputado de direita, para cassar os mandatos de todos os políticos eleitos pelo PCB (na época já havia gente com essa mentalidade tucana, né?). Em seu discurso de despedida da Câmara de Vereadores, o Barão disse: “Neste momento, saio da vida pública para entrar na privada”. E segundo dizem, entrou mesmo.
Pequenezas
Meu amigo Luizim costumava brincar com o filho pequeno, meu afilhado, que queria fazer coisas de gente grande: “Você é um lenhador de gravetos”. Eu complementei uma vez: “E marinheiro de córrego”.
Daí, começamos a brincar com “pequenezas”, coisas que as crianças se metem a fazer como gente grande, mas que devem ser reduzidas às suas condições.
Aí vai a lista que fizemos, de “profissões” ou situações de adultos adaptadas às crianças, ou melhor, coisas sobre crianças querendo ser como adultos, ou se comparando a adultos:
Boiadeiro de galinha, pescador de aquário, goleiro de pebolim, piloto de velocípede, carcereiro de gaiola, mergulhador de piscininha de plástico, alpinista de cupinzeiro, jóquei de carrossel, boêmio de tubaína, surfista de enxurrada, desbravador de quintal... Agora fiquei tentando achar uma expressão dessas relacionadas à política. Não achei. Para um menino metido a político, poderia dizer que ele é o quê? Prefeito de quê? Deputado de quê?
Outras do Luizim
É comum ler nos jornais adjetivos mal colocados que alteram ou deixam mais difícil de entender o que o cara quis dizer. Uma coisa que acho esquisito é dizerem “O diretor do banco X Fulano de Tal”... Parece que o banco chama-se “X Fulano de Tal”, não? Custa colocar “Fulano de Tal, diretor do banco X”? E “o presidente do Supremo Ricardo Lewandowsky? A instituição chama-se Supremo Ricardo Lewandowsky? Não seria mais correto falar “Ricardo Lewandowsky, presidente do Supremo”? Ou pelo menos colocar uma vírgula: “O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowsky”? O Luizim usava, por brincadeira, falar dessa maneira. Então, vejam algumas coisas ditas por ele: saia de mulher rodada; paletó de homem lascado atrás, sandália de mulher aberta na frente...
Cachaça, não!
Cachaça, hoje em dia é uma bebida cara, pelo menos nos bares de classe média. E qualquer pessoa tida como “respeitável” pode beber numa boa. Mas isso é relativamente recente. Bom... Agora “diferenciam” cachaça de pinga. Cachaça é uma coisa, pinga é outra, na cabeça de certos donos de bares.. É uma forma de manter um certo ar superior para a mesma bebida quando consumida por ricos ou refinados. Já vi em botecos caipirinha de pinga por um preço e caipirinha de cachaça bem mais cara. Pinga cara agora é cachaça.
Mas voltemos aos tempos em que cachaça e pinga eram tratadas como sinônimos. Certa vez, estava em João Pessoa, com amigos de lá e de São Paulo, e uma noite fomos a um boteco na praia de Tambaú, que era muito diferente do que é hoje. Águas limpíssimas, só casarões e uns poucos bares. Além de camarões e peixes para tira-gosto, pedimos cerveja e uma cachacinha pra abrir a noite.
— Não trabalhamos com cachaça — informou o garçom.
— Não?! Como é que tem caipirinha de pinga? — perguntei.
— Caipirinha tem.
— Então tem pinga...
— Não. Não servimos pinga. Só caipirinha.
— Então me trás uma caipirinha sem limão, sem açúcar e sem gelo.
Ele trouxe!
A princesa e o mictório
Li isso num livro de Rubem Braga:
À primeira vista é absurdo ligar o nome da princesa Isabel, a Redentora, a que assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil, a um vulgar mictório. Pois olhem o que diz Antenor Nascentes, em seu Dicionário etimológico da língua portuguesa, página 332 da primeira edição:
“Mictório — Do lat. Mictu(m), de mingere, mijar, e suf. Oriu. Neologismo criado quando a princesa imperial regente, dona Isabel, teve de sancionar uma postura da Ilustríssima Câmara Municipal acerca de mijadouros públicos. Figueiredo tira do lat. mictoriu, que aliás é um adjetivo com o sentido de diurético”. Falou.
Pedrinho Pedreiro
Nada a ver com a música de Chico Buarque. É um personagem da minha infância. No trabalho, era um pedreiro igual aos demais. Mas fora dele era um sujeito que se destacava pela elegância, vestindo sempre um terno de linho branco.
Tocava violão muito bem. Escrevia corretamente e tinha uma letra muito bonita. Segundo diziam, não era diplomado só no curso primário: fez até a segunda série do ginásio! Bom... O primário tinha quatro anos e depois vinha o curso ginasial. Então, se fez até a segunda série, tinha 6 anos de estudos. Era um tempo em que o ensino era bem melhor. E ele gostava também de filosofar.
Um dia, eu já com uns vinte anos, fui passar férias na minha terra e o encontrei num bar. Era tempo da ditadura, e as pessoas evitavam falar de política em público. Pedi a ele que expressasse um pensamento sobre isso. E ele respondeu: “Na ditadura, a vida é íntima”.