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Os ajustes fiscais que o governo está fazendo, sob a batuta de Joaquim Levy, me levam o pensamento para a poupança que as pessoas e as famílias fazem.
Há quem poupe dinheiro com o propósito de acumular o suficiente para comprar um imóvel ou abrir um negócio, há quem queira ter uma grana para custear estudos dos filhos no futuro, quem encare a poupança como uma reserva para encarar problemas que possam aparecer, principalmente emergências, como um tratamento médico não previsto em plano de saúde ou algum desemprego na família, e quem tem meramente o espírito de acumular dinheiro como se a riqueza fosse uma coisa boa por si mesma, e não a possibilidade de usar o dinheiro para fazer o que se gosta.
Sempre imaginei que as tais reservas internacionais de dólares dos países servisse como uma espécie de poupança para encarar emergências, como crises econômicas. Faltou dinheiro no caixa do governo? Vamos recorrer à poupança, quer dizer, às reservas internacionais, para essa emergência.
Agora o que a gente vê é uma recessão com desemprego e uma piora significativa da qualidade de vida de muitos milhões de brasileiros. A meta é economizar 70 bilhões de reais.
Ora, o Brasil tem quase 400 bilhões de dólares de reserva, ou seja, em torno de um trilhão de reais.
Em vez de causar tanta instabilidade, tanto sofrimento ao povo, não seria o caso de tirar 70 bilhões desse trilhão de reais enquanto se promove o reajuste da economia? Ainda sobraria muito dinheiro nessa “poupança” nacional. Mais de 900 bilhões.
Perguntei a algumas pessoas porque não se faz isso e ninguém soube me explicar. Um simplesmente respondeu que “não pode”, mas não tinha uma explicação lógica para isso.
Então, para que serve essa reserva? Parece coisa daqueles sovinas que preferem morrer a usar um pouco do dinheiro que tem acumulado para fazer uma cirurgia.
Lembro-me de um cara que sofreu um acidente, numa época em que não havia planos de saúde e o tratamento de emergência teve que ser feito num hospital particular. Depois de ter alta falou comigo sobre os custos do hospital, reclamando. “Valia mais a pena ter morrido no acidente”, chegou a dizer.
Enquanto não ouvir ou ler uma explicação lógica para o ajuste fiscal ser feito sem mexer no dinheiro entesourado que o Brasil tem, vou continuar pensando que a lógica do governo ou do sistema de acumulação é parecido com a de um desses sovinas, para quem o dinheiro não serve para ser usado, só para ser acumulado.
Melhor morrer do que tirar dinheiro da poupança para superar a crise? Que alguém me explique, por favor.
Fora isso, parece que o tal ajuste vai contra a lógica de um governo que se preocupa com o bem-estar do povo, pois beneficia o capital especulativo, os bancos, e não o capital produtivo que promove empregos.
Em vez de baixar os juros e diminuir a festa especulativa dos bancos, o que está sendo feito é dar mais dinheiro a eles. Um dinheiro tirado do bolso dos brasileiros.
Em 2003 a Argentina estava numa situação muito pior do que a do Brasil de hoje, tanto econômica quanto politicamente, Néstor Kirchner assumiu a presidência e em um mandato de quatro anos pôs o país em ordem, multiplicou por três o poder aquisitivo dos salários e das aposentadorias.
E o que fez foi num rumo oposto ao plano de Joaquim Levy: privilegiou a criação de empregos e o capital produtivo.
Aqui, o interesse dos bancos é que é intocável. Azar nosso.