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A data “31 de outubro” é hoje festejada como “Dia do Saci” em muitos lugares, e achamos isso ótimo. Tudo começou em São Luiz do Paraitinga, uma pequena e bela cidade do Vale do Paraíba (SP), entre Taubaté e Ubatuba. É uma cidade muito festeira, musical e com uma cultura caipira muito forte, e por tudo isso foi escolhida por nós para sediar a Sosaci – Sociedade dos Observadores de Saci, lá fundada em 2003 por um grupo de amigos para atuar no estudo e na defesa da cultura popular brasileira.
Na reunião de fundação dessa ONC (Organização Não Capitalista), já decidimos comemorar em 31 de outubro o Dia do Saci e seus amigos. Amigos do Saci, além de nós mesmos, são os vários mitos que povoam o imaginário brasileiro, sejam os de origem indígena (como a Iara, o Curupira, o Caipora, o Boitatá e o Mapinguari) ou trazidos pelos povos que formaram o brasileiro, ou seja, os europeus da Península Ibérica (que trouxeram a Mula sem Cabeça, o Lobisomem e a Cuca) e pelos africanos.
Já naquele ano realizamos a 1a Festa do Saci, com o lema “Raloín, só se for com carne seca”, e todos os restaurantes da cidade serviram abóbora com carne seca.
Uma característica das nossas festas é a apresentação de shows de música popular brasileira de boa qualidade, em praça pública ou no Mercado, locais acessíveis a todas as pessoas, sem cobrança de ingresso.
A programação varia a cada ano, com atividades para crianças e para adultos. Grupos musicais para todas as idades, contação de histórias, brincadeiras infantis, oficina de artesanato (papel machê, por exemplo), bailados, contação de causos, exposições, lançamentos de livros, projeção de filmes, debates, passeios saciclístico, serenatas, distribuição de bolo e refrigerante, saciata, apresentação da premiadíssima fanfarra da cidade (que toca até músicas do Pink Floyd) e outras atividades podem se estender por dias inteiros. Depende do que conseguimos a cada ano.
Outra característica dessa festa anual é que a cidade recebe muita gente de fora, mas não turistas predadores. É gente que quer se integrar com o povo, conhecer outras pessoas, conversar, festejar, comer o delicioso requeijão de prato, bebericar nos muitos bares, comer bem... Costumo dizer que a cada vez que vou a São Luiz do Paraitinga volto com novos amigos.
Este ano, vamos começar a festa na noite de sexta-feira, 30 de outubro. Sábado, vai rolar o dia todo e teremos também algumas atividades no domingo, 1o de novembro. Ainda não temos a programação pronta, porque dependemos inclusive de um pouco de dinheiro para custear o transporte e a estadia de artistas que vão de fora.
Apesar de a Sosaci ter muitos sócios, mais de mil, não cobramos nada dos associados. Como entidade sem fins lucrativos, nenhum diretor é remunerado; ao contrário, só tem gastos.
Para custear a festa, geralmente conseguimos algum apoio de pousadas, restaurantes, bares e outros setores do comércio, e às vezes da Prefeitura, mas sempre sobram despesas para diretores e outros membros que têm mais disponibilidade. Depois da enchente que destruiu boa parte da cidade em janeiro de 2011, o dinheiro ficou mais escasso.
Agora resolvemos recorrer às pessoas que compactuam com a nossa causa, pedir que colaborem com algum dinheirinho para cobrir parte das despesas da festa de 2015. Não queremos muito, toda colaboração é bem-vinda. Se muitos derem um pouquinho, ninguém precisará dar muito. Quem quiser contribuir, deve entrar no endereço abaixo:
http://www.kickante.com.br/campanhas/13a-festa-do-saci-de-sao-luiz-do-paraitinga-0
Aceitamos depósitos a partir de R$ 10,00. Quem puder dar mais, a partir de R$ 25,00, receberá um brinde.
Ah, como hoje em dia tem gente que vê interesse político partidário em tudo, esclareço que a Sosaci não tem vínculo com nenhum partido. Consideramos nossos “cúmplices” todos os que gostam da cultura brasileira e a respeitam, e que queiram compartilhar a alegria de festejar nossas festas e nossos mitos.
Para se ter ideia disso, lembro que o “Dia do Saci” foi oficializado em muitos lugares, por gente das mais variadas tendências. Em São Luiz do Paraitinga, primeiro lugar a declarar o 31 de outubro como “Dia do Saci”, o autor do projeto foi um vereador do PP, e seus colegas de todos os partidos com representação na Câmara Municipal aprovaram. O prefeito, que era do PSDB, referendou. Em seguida, um deputado do PV apresentou projeto semelhante na Assembleia Legislativa de São Paulo, ele foi aprovado e sem seguida referendado pelo governador do PSDB, em 2004. Então, 31 de outubro é também “Dia Estadual do Saci”. No município de São Paulo, no mesmo ano, o projeto aprovado foi de uma vereadora do PT, referendado pela prefeita também petista. Em Angatuba (SP), foi o prefeito do PMDB quem tomou a iniciativa. Em Poços de Caldas (MG), foi o prefeito que na época era do PPS.
Em Campinas, foi um vereador do PSOL que apresentou o projeto, mas ele não foi aprovado. Em Sorocaba, a Câmara Municipal aprovou um projeto de uma vereadora petista, mas o prefeito, pressionado por dois vereadores evangélicos, não referendou. Em vários lugares, nem sei de quem foi a autoria do projeto aprovado. Por exemplo: Vitória (ES), Uberaba (MG), Fortaleza e Independência (CE), São José do Rio Preto e Guaratinguetá (SP).
Não achamos vital a formalidade dessas leis, mas achamos que se elas fossem efetivas haveria um estímulo a mais para o estudo da nossa cultura popular nas escolas, um maior conhecimento da nossa própria cultura, o que representaria um reforço da nossa identidade de brasileiros. Mas há uma coisa um tanto estranha: no Brasil, não basta que as leis sejam aprovadas e referendadas. Precisam ser “regulamentadas”, isto é, tem que ter um detalhamento de “quem” será responsável pelo seu cumprimento, e como isso acontecerá. Sem essa regulamentação, não há responsáveis por nada e nada acontece. Daí, não há um compromisso dos governos com a realização da festa.
Fora isso, de data oficializada por lei, em muitas escolas públicas e privadas de um monte de muitas cidades acontecem festas do Saci em 31 de outubro, espontaneamente. E em entidades das mais diversas também. Aqui em São Paulo, por exemplo, um bloco de carnaval do bairro do Bexiga homenageia o Saci; fizemos várias festas na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato; e no ano passado, no Espaço de Leitura do Parque da Água Branca (que pertence ao Estado), no bairro da Barra Funda, houve uma programação intensa em todos os fins de semana de setembro e outubro, culminando com uma “libertação” de Sacis presos em garrafas no dia 1o de novembro.
Ressaltamos que não há nenhum preconceito xenófobo contra festas estrangeiras. Respeitamos todas, mas queremos fazer as nossas.
Quem quiser comemorar conosco em São Luiz do Paraitinga, é só aparecer. Quem quiser comemorar em qualquer outro lugar, viva!!! Mais um aliado! Não há um modelo de comemoração. É só usar a criatividade. Invente!