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Às vésperas do Dia das Mães, eu me lembro de um personagem que não tem nada a ver com as mães. Pra começar, é homem. É o publicitário Carlito Maia, que participou do PT desde a sua fundação e criou um adesivo que ficou famoso na época. Tinha escrito apenas OPTEI, com o P e o T no centro em vermelho, mostrando que sua opção era o PT.
Eu também era do PT e participava da criação de algumas coisas de campanha. Lembro-me que um dia fui ao comitê de Clara Charf, candidata a deputada estadual e me pediram um slogan para ela. Brinquei que tinha um especial e escrevi no quadro-negro que havia lá: “Não gema, vote na Clara”.
Algumas participantes acharam de muito mau-gosto e, claro, o slogan não foi aceito. Uma amiga que participava da campanha me contou que logo depois que saí dali, chegou o Carlito Maia. Foi direto ao quadro negro, dizendo que tinha um slogan para a Clara. E escreveu: “Não gema, vote na Clara”.
Aí, todas aprovaram. Acharam genial. Minha amiga chiou, dizendo que quando escrevi a mesma coisa elas acharam o slogan ridículo. A resposta: “Mas ele é o Carlito Maia”.
Isso acontece. Fui diretor cultural do Sesc Pompeia antes dele ser reformado e fiz algumas propostas que não foram aceitas de jeito nenhum, incluindo um bar lá dentro. Vender bebida alcoólica no Sesc? Jamais! Aí Lina Bo Bardi foi encarregada de fazer a grande reforma e transformar aquele espaço na beleza que se tornou, e fez várias coisas que, quando eu propus, acharam que não podia, inclusive a choperia. O mesmo argumento: “Mas ela é a Lina Bardi”.
Bom, isso não desmerece os famosos. Fico contente que fizeram coisas que eu também imaginei. Também. Não fui só eu.
Voltando ao Carlito Maia, um dos hábitos dele era mandar flores para as pessoas, em datas especiais.
Muito tempo depois que já tinha saído do emprego no Sesc, lancei, justamente na choperia do Sesc Pompeia, meu primeiro livro, Santa Rita Velha Safada. Eu nem imaginava que o Carlito se lembrava de mim. No lançamento, recebi dele um buquê com um recado me dando uma bronca, pois ele trabalhava todas as terças à noite. Então, cobrava: “Nunca mais lance livros nesse dia”.
Só que os recados que ele mandava, sempre muito criativos, nem sempre eram entendidos e recebidos com humor. Uma vez, num encontro feminista, quem recebeu as flores foi a atriz Ruth Escobar, uma das coordenadoras. Antes de abrir o envelope com a mensagem dele, ela fez muitos elogios ao Carlito Maia. Aí leu a mensagem e ficou furiosa, esbravejou, espumando de raiva, porque havia só uma frase: “A mulher é descendente da macaca”. Ora, se para quem acredita no darwinismo, o homem é descendente do macaco...
Mais tarde, ele se tornou colunista semanal da Gazeta de Pinheiros, onde eu trabalhava, e como o jornal saía duas vezes por semana, o espaço dele não tinha colunista às quartas, e os donos do jornal propuseram que eu dividisse o espaço com ele. A coluna do Carlito saía aos sábados e a minha às quartas-feiras.
E tinha também uma seção chamada Gazetinhas, com notícias curtas um pouco parecida com o Painel da Folha de S. Paulo, em que, no final, publicávamos frases dele com o título “Carlitices do Maia”. Novamente os donos do jornal, sugeriram que eu publicasse frases nela também. E assim, parodiando o Carlito, criei o título “Beneditinas do Mouzar”. Em cada edição saíam três frases dele e três minhas.
Eu me divertia com as frases dele. Uma que me lembro servia para nós dois, porque ele também era mineiro. A frase dizia o seguinte: “Mineiro não fica louco, piora”.
Numa ocasião, houve nos jornais muitas matérias sobre Newton Cardoso, governador de Minas Gerais, que era acusado de um monte de coisas, e havia uma discussão sobre sua “burrice”. Era muito bronco. Ai teve uma frase das “Carlitices do Maia” que dizia: “Mandaram o Newton Cardoso buscar coca na Bolívia, e ele voltou com pepsi”.
Agora chego no porque me lembrei dele perto do dia das mães. Na véspera dessa data, uma vez ele escreveu uma frase para elas, que não era bem uma homenagem. O que ele escreveu foi: “Quem tem mãe não sabe o que está perdendo”.