Tem cabimento, dona Fifa?

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Quando me contaram, achei que era gozação. Ou que era uma invenção de militantes do movimento “Não vai ter Copa”, para conseguir mais adeptos. Mas era verdade! A Fifa conseguiu no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) registrar como sua propriedade, pelo menos até o final deste ano, a marca “pagode”. Virou dona do pagode! Não que eu goste dessa variante do samba. Para mim e meus conterrâneos do sul de Minas pagode tem outro significado: baile de roça. Desse tipo de pagode eu gosto, mas mesmo que não gostasse continuaria achando uma coisa escrota demais a Fifa virar dona dessa palavra. A desculpa é foi criada uma fonte tipográfica (tipo de letras) especial para a Copa do Mundo (epa! Tô usando outra propriedade da Fifa, ela é dona da expressão “Copa do Mundo” também) a que foi dado o nome pagode, e quem quiser usar essa fonte tem que pagar para ela. Ora, para isso precisaria registrar a marca “Pagode” de maneira geral? Já houve uns precedentes de aproveitadores tentando se apropriar de coisas do Brasil, com a mesma cara-de-pau da Fifa. Foi o caso de um japonês que tentou patentear internacionalmente a “marca” cupuaçu como sua propriedade. Assim, tudo que tivesse cupuaçu renderia royalties para ele. Houve reação forte e ele não conseguiu. Mas a Fifa pode tudo. Ela é o novo Império inquestionável, que determina o que quer no Brasil. Tudo “amparado” por uma tal de “Lei Geral da Copa”, que vem se revelando instrumento para que o Brasil seja humilhado cotidianamente por essa instituição que deveria ser futebolística. Agora, o INPI, que segundo consta demora pra burro pra registrar a propriedade de uma marca, fez tudo rapidinho pra Fifa. Como é que pode? E como pode o governo ir engolindo isso tudo? Não é à toa que a rejeição à Copa do Mundo no Brasil vem crescendo. Uma pena. Era para ser uma festa legal, de a gente receber os visitantes com alegria, elevar nossa autoestima, festejar cada jogo, mas a sujeição à Fifa e tudo que decorre disso, inclusive obras faraônicas superfaturadas, transformaram o que seria uma bênção numa coisa temerosa, que pode desandar para um caos generalizado. Segundo boatos – não consegui saber se é verdade – a todo-poderosa patenteou até os nomes das cidades sedes da Copa seguidas da data 2014. Bem... Natal é uma dessas cidades e é também data da festa religiosa que se tornou comercial. Será que teremos que pular essa festa neste ano?  Natal 2014 só com pagamento à Fifa? E será que se eu resolver registrar como minhas algumas palavras do cotidiano dos brasileiros vou conseguir? Se for possível, quero registrar algumas, antes que a Fifa se aproprie delas e transforme tudo o que falamos e fazemos numa fonte de renda a mais para ela. Já pensou se a danada resolve patentear coisas como a feijoada, a caipirinha e o beijo? Tudo quanto é boteco vai ter que pagar pra Fifa pra servir feijoada? Caipirinha? Seja de cachaça ou de vodka, a Fifa, que patenteou! Tem que pagar! Beijo? Falar ou praticar, só com prévio pagamento à Fifa. Os candidatos a presidente e a governador que se cuidem, pois pode acontecer de terem que pagar à entidade que teoricamente é futebolística para fazer adesivos escritos Aécio 2014, Dilma 2014, Padilha 2014, Pezão 2014 etc. e tal. E como provavelmente ninguém registrou a palavra Brasil como pertencente a nós, não duvido que de repente tenhamos que pagar à Fifa uma baita grana cada vez que formos torcer, gritando “Brasil”. “A Fifa é dona da marca”, justificarão. Fora estas últimas gozações, acho que vale lembrar uma coisa que meu amigo Chico Villela e eu vimos propondo há muito tempo. Essa instituição seria inspirada naquela pergunta que, no interior, se faz diante de acontecimentos absurdos: TEM CABIMENTO? Isso mesmo, uma instituição que analisaria se certas coisas “têm cabimento”. Ela estaria acima da Constituição, do STJ, do Congresso, da Presidência da República, do Papa, da Mídia e de tudo o mais! A Veja, a Globo, igrejas evangélicas, ministros do Supremo e outros mandantes de comportamentos e de verdades absolutas poderiam chiar à vontade, mas sem conseguir mudar nada. Formada por pessoas equilibradas e sensata (nós mesmos), a instituição denominada CABEDORIA FEDERAL decidirá soberanamente se certas coisas têm ou não cabimento. Se decidir que não têm, não pode, e ponto final. Ninguém muda a decisão. Pode ser sobre qualquer assunto, desde se tem cabimento certas pessoas continuarem ocupando cargos políticos até se cabimento ficar o dia todo ligado em qualquer aparelhinho das tais “mídias sociais”, tornar-se dependente total disso. Reivindicação de heranças, brigas internas de sindicatos transformarem em motivo para parar São Paulo, qualquer coisa poderia ir para julgamento da Cabedoria Federal. Assim, quando chegasse lá um processo feito rapidamente, rapidinho, sumário, sobre esse negócio da Fifa querer proibir qualquer coisa, se a Cabedoria Federal carimbasse “NÃO TEM CABIMENTO”, essa proibição não valeria nada, poderia ser “violada” à vontade. Todo mundo ficaria liberado pra usar essas “marcas”. Algumas coisas que prevejo que receberiam o carimbo de “NÃO TEM CABIMENTO”: - Dirigentes da Fifa virem ao Brasil e se comportarem como chefes de Estado. Nenhum cabimento! - Pagar royalties sobre qualquer “marca” registrada pela Fifa. Cabimento zero! Não tem cabimento mesmo. - A Fifa escolher a mascote da Copa, seu nome e também o nome da bola a ser utilizada. Fifa-se, dona Fifa. Não tem cabimento. Agora umas coisas que a equilibradíssima Cabedoria Federal com certeza carimbaria “TEM CABIMENTO”: rompimento total com a Fifa, não pagar nada a ela, decretar a prisão sumária de qualquer fifeiro que pintar por aqui, cobrar na justiça internacional toda a grana que a Fifa está faturando no Brasil e fazer uma campanha internacional pela extinção da dita cuja. E também prisão pros sabujos da Fifa no Brasil. Já esse negócio de “não vai ter Copa”, acredito que não tem. O gasto está feito, o prejuízo seria maior. Então meu voto seria pelo “tem cabimento” à realização da Copa, assim como também para os protestos que não incluam a violência contra pessoas que não têm nada com isso (incluindo o direito de ir e vir dessas pessoas), a destruição de bancas de jornal, queima de fuscas... E teria com certeza o carimbo “TEM CABIMENTO” propostas (aí sim, com direito a protestos brabos, se não seguissem a ordem da Cabedoria) de criminalizar corruptos e corruptores; tomar deles tudo o que possuem, para recuperar o que foi gasto indevidamente; destituir e punir cartolas do futebol e de outros esportes, e aproveitar para dar um basta a políticos safados (inclusive os que fingem que não são, quando estão na oposição). Enfim, Viva a Cabedoria Federal, que algum dia há de ser criada!