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A Vila Madalena, onde moro, passou por várias mudanças. Foi bairro dormitório de trabalhadores da construção civil, que moravam em casinhas de fundo que depois foram ocupadas por estudantes universitários, e em seguida virou bairro de intelectuais, que por sua vez foram substituídos por yuppies, jovens executivos moderninhos, até que chegaram os muitos bares e restaurantes.
Agora, é bairro do carnaval de rua animado, com blocos por todos os lados. Que músicas tocam e cantam nesses blocos? Claro, cada bloco tem suas próprias composições. Mas se forem cantados sucessos “nacionais”, o saudosismo vai tomar conta, porque há muito tempo não há músicas de carnaval que fazem sucesso.
Uma das últimas foi Chuva, suor e cerveja, de Caetano Veloso, em 1972. Em 1973 e 74 ainda apareceram algumas, vejam no final.
Máscara Negra, de Zé Kéti, e Note dos Mascarados, de Chico Buarque, ambas de 1967, estão entre as últimas que gostei. Era tempo em que existia ainda o “carnaval de salão”, em clubes. Lembro-me de todo mundo cantando animado alguns versos de Máscara Negra ? “Vou beijar-te agora / não me leve a mal / hoje é carnaval” ? e aproveitar para tascar uns beijos nas parceiras recém-conhecidas.
Bom, pensando nisso, resolvi fazer um “levantamento” dos grandes sucessos de carnavais passados, cantados até hoje.
Tudo começa com a gloriosa Chiquinha Gonzaga, mulher da pá virada, compondo em 1899 a música Ô-abre-alas, para o cordão Rosa de Ouro. Esta é considerada a primeira marchinha composta especialmente para o carnaval.
Demorou anos para aparecer músicas de sucesso contínuo, sejam marchinhas, sambas ou músicas de qualquer outro ritmo. Acho que foi só em 1916 que a coisa começou, com Pierrot e Colombina. de Eduardo das Neves e Oscar de Almeida
Em 1917, foi gravado Pelo telefone, composto em rodas de samba na casa da baiana, Tia Ciata, no Rio, onde o samba tomou forma tomou forma, e gravado por Donga, que se intitulou seu compositor, sob protestos de colegas. Ele respondeu que “samba é como passarinho: é de quempegar”.
Nesse mesmo ano, fez sucesso a música A baratinha (“a baratinha ia-iá / a baratinha iô-iô / a baratinha bateu asas e voou”), de Mário São João Rabelo
Vamos ver ano por ano, só as músicas que permaneceram no nosso repertório:
1929 – Dorinha, meu amor – José Francisco de Freitas
Gosto que me enrosco – Sinhô
Jura – Sinhô
1931 – Com que roupa – Noel Rosa
Se você jurar – Francisco Alves
1932 – Teu cabelo não nega – Irmãos Valença e Lamartine Babo
A-E-I-O-U – Lamartine Babo e Noel Rosa – para quem não se lembra desta, aí vai um pedaço da letra: “A.E.I.O.U / Dabliú, dabliú / na cartilha da Juju, Juju...”
1933 foi um ano pródigo, teve pelo menos quatro músicas de grande sucesso:
Linda morena – Lamartine Babo
Até amanhã – Noel Rosa
Fita amarela – Noel Rosa – lembram-se da letra? Aí vai um pedaço dela: “Quando eu morrer, não quero choro nem vela / Quero uma fita amarela gravada como nome dela”
Formosa – Nássara e J. Rui – como existe outra música com o nome Formosa, aí vai um pedaço da letra desta: “Foi Deus quem te fez formosa / formosa, formosa / porém este mundo te tornou / presunçosa, presunçosa”.
1934 – Agora é cinza – Bidê e Marçal
O orvalho vem caindo – Noel Rosa e Kid Pepe
Linda lourinha – João de Barro (Braguinha) – “Lourinha, lourinha / Dos olhos claros de cristal /Desta vez em vez da moreninha / Serás a rainha do meu carnaval”
1935 – Cidade Maravilhosa – André Filho
Rasguei a minha fantasia – Lamartine Babo
Implorar – Kid Pepe, Germano Augusto e J.S.Gaspar – “Implorar, só a Deus / mesmo assim às vezes não sou atendido”
1936 – Palpite infeliz – Noel Rosa
Pierrô apaixonado – Noel Rosa e Heitor dos Prazeres
1937 – Mamãe eu quero – Vicente Paiva e Jararaca
Como vais você? – Ari Barroso
1938 foi de arrebentar:
Yes, nós temos bananas – João de Barro e Alberto Ribeiro
Touradas de Madri – João de Barro e Alberto Ribeiro
Pastorinhas – Noel Rosa e João de Barro
Camisa listada – Assis Valente
Não tenho lágrimas – Max Bulhões e Milton de Oliveira – “Quero chorar, não tenho lágrimas/ Que me rolem na face / Pra me socorrer”
1939 – A jardineira – Humberto Porto e Benedito Lacerda
Sei que é covardia – Ataulfo Alves e Claudionor Cruz – “Sei que é covardia um homem chorar / por quem não lhe quer...”
1940 – Ó, seu Oscar – Ataulfo Alves e Wilson Batista
Cai, cai – Roberto Martins – quem não se lembra?: “Cai, cai, cai, cai / eu não vou te levantar/ Cai, cai, cai, cai / quem mandou escorregar...”
Mal-me-quer – Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar – “Eu perguntei aomal-me-quer / Se meu bem ainda me quer / E ele então me respondeu que não”...
1941 – Aurora – Roberto Roberti e Mário Lago
Alá-lá-ô – Nássara e Haroldo Lobo
O trem atrasou – Paquito, Estanislau Silva e Artur Vilarinho – “Patrão, o trem atrasou/ Por isso estou chegando agora / Trago aqui um memorando da Central / O trem atrasou, meia hora / O senhor não tem razão / Pra me mandar embora...”
1942 foi outro ano pra lá de bom:
Nega do cabelo duro – Rubens Soares e Davi Nasser
Ai, que saudades da Amélia – Ataulfo Alves e Mário Lago
Emília – Wilson Batista e Haroldo Lobo
Praça Onze – Erivelto Martins e Grande Otelo
Está chegando a hora (adaptação de Cielito lindo) – Henricão e Rubens Campos
1943 – Laurindo – Erivelto Martins
1944 – Atire a primeira pedra – Ataulfo Alves e Mário Lago
1945 – Isaura – Herivelto Martins e Roberto Roberti – “Ai, ai, ai, Izaura Hoje eu não posso ficar. Se eu cair nos seus braços. Não há despertador. Que me faça acordar. Eu vou trabalhar”...
1946 – Trabalhar, eu não – Almeidinha
1947 – Pirata da perna de pau – João de Barro e Alberto Ribeiro
Palhaço – Benedito Lacerda e Herivelto Martins
Eu quero é rosetar – Haroldo Lobo e Milton de Oliveira – “Que me importa que a mula manque / Eu quero é rosetar”...
1948 – Não me diga adeus – Paquito, Luís Soberano e João Correia da Silva – “Não... não me diga adeus / Pense nos sofrimentos meus / Se alguém lhe dá conselhos / Pra você me abandonar... / Não devemos nos separar”...
1949 – Chiquita Bacana – João de Barro
Pedreiro Valdemar – Roberto Martins e Wilson Batista
Que samba bom – Geraldo Pereira e Arnaldo Passos – “Ô, que samba bom / Ô, que coisa louca / Eu também tô aí / Tô aí, que é que há / Também tô nessa boca”...
1950 – General da banda – Sátiro de Melo e José Alcides
A Lapa – Benedito Lacerda e Herivelto Martins
Nega maluca – Fernando Lobo e Evaldo Rui – “Tava jogando sinuca / Uma nega maluca / Me apareceu / Vinha com um filho no colo / E dizia pro povo
Que o filho era meu, não senhor / Tome que o filho é seu, não senhor”...
1951 – Tomara que chova – Paquito e Romeu Gentil – “Tomara que chova / três dias sem parar / A minha grande mágoa / é que lá em casa não tem água / nem pra eu me lavar”.
Zum-zum – Paulo Soledade e Fernando Lobo
Sereia de Copacabana – Nássara e Wiilson Batista
1952 – Que ano! Um baita carnaval:
Me deixa em paz – Monsueto e Airton Amorim
Sassaricando – Luís Antônio, Zé Mário e Oldemar Magalhães
Lata d’água – Luís Antônio e Jota Junior
Maria Candelária – Armando Cavalcanti e Clécius Caldas
Confete – Jota Júnior e Davi Nasser – “Confete / pedacinho colorido de saudade...”
1953 – Zé Marmita – Luís Antônio e Brasinha
Cachaça – Mirabeau, Lúcio de Castro e Heber Lobato – “Você pensa que cachaça é água?”...
1954 – Piada de salão – Klécius Caldas e Armando Cavalcanti
A fonte secou – Monsueto, Marcelino Ramos e Adolfo Macedo
Saca-rolha – Zé da Zilda, Zilda do Zé e Valdir Machado – “As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar / Eu passo mão na saca saca saca rolha / E bebo até me afogar / Deixa as águas rolar”...
1955 – Mora na filosofia – Monsueto e Arnaldo Passos
Recordar – Aluísio Martins, Adolfo Macedo e Aldacir Louro – “Recordaré viver Eu ontem sonhei com você”...
Neste ano fez sucesso também uma música de que não me lembro o nome. É de Miguel Gustavo. Mas lembro-me de um pedaço da letra: Rio de Janeiro / cidade que me seduz / de dia falta água / de noite falta luz”...
1956 – Quem sabe, sabe – Joel de Almeida e Carvalhinho – “Quem sabe, sabe / conhece bem / como é gostoso / gostar de alguém”...
1957 – Evocação (frevo) – Nelson Ferreira
Vai, com jeito – João de Barros – “Vai, com jeito vai / senão um dia / a casa cai”...
1958 – Madureira chorou – Carvalhinho e Júlio Monteiro
Eu chorarei amanhã – Raul Sampaio e Ivo Santos
1959 – Vai ver que é – Paulo Gracindo e Carvalhinho – “Se veste de baiana / pra fingir que é mulher / vai ver que é / vai ver que é”...
1960 – Me dá um dinheiro aí – Homero Ferreira, Ivan Ferreira e Glauco Ferreira
1961 – Índio quer apito – Haroldo Lobo e Milton de Oliveira
A lua é dos namorados – Armando Cavalcanti, Klécius Caldas e Brasinha
Quero morrer no carnaval – Luís Antônio e Eurico Campos
De lanterna na mão – José Sarcomani, Elzo Augusto e Jorge Martins
1962 – Se eu morrer amanhã – Garcia Júnior e Jorge Martins
Vou ter um troço – Arnô Provenzano, Otolindo Lopes e Jackon do Pandeiro – “Me segura que eu vou ter um troço...”
1963 – Eu agora sou feliz – Gato, Policarpo Costa e Jamelão
Pó de mico – Dora Lopes, Renato Augusto e Arildo se Souza
1964 – A cabeleira do Zezé – João Roberto Kelly e Roberto Faissal
Bigorrilho – Sebastião Gomes, Paquito e Romeu Gentil – “Lá em casa tinha um bigorrilho / bigorrilho fazia mingau / bigorrilho foi quem me ensinou / a tirar o cavaco do pau”...
1965 – Mulata iê-iê-iê – João Roberto Kelly
Trem das Onze – Adoniran Barbosa – Um marco: pela primeira (e única?) vez uma música paulista é campeã do carnaval carioca.
1966 – Tristeza – Haroldo Lobo e Niltinho
Roubaram a mulher do Rui – José Messias – “Ui, ui, ui / roubaram a mulher do Rui / disseram que fui eu / mas eu juro que não fui”.
1967 – Máscara Negra – Zé Kéti
Noite dos mascarados – Chico Buarque
Vem chegando a madrugada – Noel Rosa de Oliveira e Zuzuca –
Em 1968 e 69 nenhuma novidade no pedaço.
1970 – Bandeira branca – Max Nunes e Lércio Alves
Foi um rio que passou em minha vida – Paulinho da Viola
1971 – Pra frente, Brasil – Miguel Gustavo – Resquício da Copa de 1970.
1972 – Festa para um rei negro (pega no ganzê) – Zuzuca
Ê, baiana – Baianinho, Ênio Santos Ribeiro, Fabrício da Silva e Miguel Pancrácio
Chuva, suor e cerveja – Caetano Veloso
1973 – Ninguém tasca – Marinho da Muda e João Quadrado
1974 – O mundo melhor de Pixinguinha – Evaldo Gouveia, Jair Amorim e Velha (s.enredo)
Boi da cara preta – Zuzuca – Acredite! É essa mesmo: “Boi, boi, boi / boi da cara preta / pega essa criança / que tem medo de careta”...
Ah, tem uma que não me lembro o ano: Maria Sapatão. Só sei que não me lembro, nem descobri “fuçando” em livros e na internet, nenhum grande sucesso de carnaval, a não ser alguns sambas enredos. Pode ser que tenha outras que injustamente esqueci ou não descobri. Quem quiser, que pesquise mais, não é?