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No final da manhã de domingo eu estava dando uma caminhada e ouvindo rádio, e ouvi a notícia de que uma ação policial feita de surpresa cumpria um mandado de reintegração de posse, dada pela Justiça, na área chamada Pinheirinho, em São José dos Campos, ocupada por milhares de famílias.
Um repórter entrava ao vivo e dava notícia de que houve vários choques e pelo menos quatro pessoas estavam hospitalizadas, uma delas em estado grave, baleada pelas costas.
Fiquei surpreso, porque no meio da semana havia lido que a reintegração estava suspensa por um acordo com a Justiça, dando um prazo de quinze dias para tentar uma solução.
Mas eu mesmo me critiquei: “E quem é que acredita em acordo com Justiça, governo ou patrão?”. Só gente besta. Acordo, só pobre cumpre.
O repórter entrou várias vezes no noticiário, mas deu meio-dia e entrou um programa de esportes. Mudei para outra emissora para tentar ouvir mais notícia da ação no Pinheirinho.
Nessa outra emissora, havia uma cobertura ao vivo de um assunto que também achei interessante: manifestações em várias cidades contra maus-tratos a animais. Ótimo que a imprensa dê cobertura a isso. Acho que ninguém normal é a favor de maltratar animais.
A reportagem começou por São Paulo, com repórter na manifestação, ouvindo manifestantes que exigiam leis mais duras contra quem trata mal os animais, referindo-se sempre a cachorros abandonados, maltratados ou mortos pelos donos. Depois, chamaram Brasília, também com repórter presente, ouvindo manifestantes. E assim foi também com as manifestações de Belém, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Aí, finalmente, informações sobre a ação policial no Pinheirinho. Lá, não tinha repórter presente, nem palavras de manifestantes. A notícia foi uma nota da Polícia Militar, dizendo que havia um ferido. E só.
Então me lembrei de Antônio Rogério Magri, quando era ministro do Trabalho do governo Collor. Um carro oficial do Ministério foi flagrado levando uma cadela do ministro ao veterinário.
Magri reagiu bravo, justificando o uso indevido do veículo: “Cachorro também é gente”, disse ele.
Mas acho que essa lógica deve ser invertida: para merecer a atenção de certos setores da mídia, os pobres deviam reivindicar: “Pobre também é animal”. Aí, talvez dessem atenção a eles.