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Ciro tinha tudo para sair da eleição presidencial do ano passado maior do que entrou. Apesar de ter sido sabotado por Lula, que manobrou para retirar o apoio do PSB à sua candidatura em agosto de 2018, o ex-governador cearense poderia ter denunciado a trama e seguido em frente. Mas não. Temperamental como um ursinho de pelúcia, fez da vendetta seu programa máximo.
Decidiu sair do jogo no segundo turno, agindo como Lula. Ou seja, fazendo de conta que Jair Bolsonaro era mais um adversário eleitoral e não um inimigo estratégico dos trabalhadores e da democracia. Ambos se equivocaram amargamente.
Ciro exibiu em campanha um programa desenvolvimentista factível, que atraiu votos de descontentes com o PT. Mas o Ciro pós-eleitoral evidenciou que a extrema direita não seria seu alvo preferencial. E passou a descarregar suas baterias contra o ex-presidente encarcerado, seu partido, seus apoiadores e - a partir da desastrosa entrevista dada ao UOL no final de semana - seus simpatizantes.
Ciro nunca pega leve. Tentando clonar Leonel Brizola - sem um pingo do talento político deste - o líder de Sobral destampa um bueiro de impropérios contra o que vê pela frente. E pelos lados e por cima e por baixo. Esboça agenda própria - e alucinada -, num momento em que o PT se fecha no “Lula Livre” como a única nota de seu samba. Isso, apesar de ter lançado um ótimo Programa Emergencial de Emprego e Renda, solenemente engavetado pela própria legenda.
Seria a hora de Ciro. A avenida está aberta. Mas ele decidiu se sabotar e se mostrar provinciano, no pior sentido do termo. Os ataques aos jornalistas Paulo Moreira Leite (Brasil 247) e Kiko Nogueira (DCM) são dignos de um Odorico Paraguaçu redivivo.
A quem Ciro se dirige? Que tipo de apoio deseja granjear?
Ele poderia disputar apoiadores de esquerda desalentados pelo estelionato eleitoral de Dilma. Poderia sensibilizar opiniões progressistas angustiadas com a situação do país.
Mas não. Ciro acena para o antipetismo de direita e prega para convertidos, na tentativa de adensar sua massa de apoiadores. No método, age como Bolsonaro, que não busca conquistar hegemonia na sociedade, mas fortalecer a própria tropa, ao agir de forma catártica. As redes ciristas estão em êxtase de ontem para hoje, com mais alguns litros de bílis jogados no ventilador.
É espantoso. Ciro Gomes poderia ser grande. Mas Ciro Gomes não quer. E se autossabota de forma torpe e sorrateira.
Por fim, vai aqui minha total solidariedade aos amigos Paulo Moreira Leite e Kiko Nogueira.