Escrito en
BLOGS
el
Há um calcanhar de Aquiles sério na campanha de Fernando Haddad, quando comparada à de Bolsonaro. O petista até há pouco parecia não ser candidato. Na narrativa partidária, ele é Lula. Ou um representante de Lula. Um corpo no qual o ex-presidente encarna para suplantar a barreira física do cárcere e percorrer ruas e campos do país.
Lula avisou lá atrás: "eu sou uma ideia". Uma imaterialidade que se torna concreta na pele de Haddad. Funcionou bem até aqui. É preciso ver se terá efetividade na guerra - guerra! - do segundo turno.
BOLSONARO NÃO se apresenta como ideia. É o "Esteves sem metafísica", de Pessoa. É o cara que vai lá e bota para foder. A imagem que buscou capitalizar é o de gente que faz, que dá armas a todo mundo, que castra quimicamente, que acaba com a semvergonhice do kit gay. É o campeão das soluções mágicas do senso comum e o símbolo da autoridade. É o personagem de fala simples e compreensível por todos. O cara, o mito.
De certa forma, ocupa no imaginário geral um lugar semelhante ao que sempre foi de Lula. Evidentemente, com sinal trocado e bem menos sofisticado.
Não tenho bola de cristal, mas Haddad pode enfrentar dificuldades se continuar a ser apenas o representante do ex-presidente. Daqui para a frente, terá de ser corpo e espírito. Terá de exibir personalidade própria e forte.
PASSOU DA HORA do candidato petista deixar de lado a consigna "Haddad no governo, Lula no poder". Ou de fazer uma campanha focada no passado, nos "bons tempos". É etapa vencida.
A disputa agora é pelo futuro e em bases muito concretas: emprego, salário, décimo terceiro, Previdência etc. São temas que Bolsonaro espertamente tirou de cena, focando apenas nas pautas moralistas. Como se nosso problema não fossem 27 milhões de desempregados, mas mamadeiras em forma de pinto.
Caso a campanha de Fernando Haddad não mude de rota imediatamente, o inimigo pode se aproveitar desse flanco até 28 de outubro.
Haddad é Haddad. Já!