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Um em cada três moradores do Rio ficou no meio de tiroteios entre policiais e bandidos no último ano
Por: Júlia Magalhães
O medo também toma conta da cidade: mais de 90% da população carioca teme enfrentar um fogo cruzado, de ser vítima de bala perdida ou de morrer em assalto
São Paulo, abril de 2018 – Imagine que quase um terço da população de uma cidade tenha vivenciado a situação de se ver em meio a um fogo cruzado entre policiais e bandidos. Isso é uma realidade na cidade do Rio de Janeiro, segundo resultados de pesquisa inédita feita pelo Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com o objetivo de monitorar a Intervenção Federal na Segurança Pública.
De acordo com o estudo, 30% dos moradores do Rio ficaram no meio de um tiroteio nos últimos 12 meses. A maioria das pessoas que passaram por essa situação é negra (32%) e vive em comunidades (37%), o que reforça a tese de que a população mais vulnerável e pobre está mais exposta ao risco. O levantamento ainda aponta que 8% dos entrevistados foram vítimas ou tiveram um parente atingido por bala perdida nesse mesmo período.
A pesquisa também mediu o medo de as pessoas sofrerem algum tipo de violência. O resultado foi alarmante: 92% temem ser vítima ou ter um parente vítima de bala perdida, ser ferido ou morto em um assalto ou presenciar um tiroteio; e 87% têm medo de morrer assassinado. Entre todas as frases testadas pela pesquisa, o índice mais baixo foi o medo de ser vítima da Polícia Civil, que ainda assim é alto (61%).
Os dados são preocupantes, mas a pesquisa mostra que a vitimização criminal na cidade do Rio de Janeiro não é mais alta do que a média verificada no resto do país para diversos tipos de crimes, em especial os crimes contra o patrimônio e contra a vida. O que torna o cenário carioca diferente são os tiroteios e confrontos envolvendo facções, milícias e polícias. “A incidência de violência policial experimentada pelos cidadãos no Rio de Janeiro parece ser mais do dobro da nacional, o que reforça a ideia da crise de legitimidade das polícias fluminenses e as reclamações sobre abusos cometidos por elas”, afirma Ignacio Cano, pesquisador do LAV-UERJ em texto produzido para o relatório da pesquisa.
“A população no Rio vive o medo de uma violência difusa que não é necessariamente direcionada de forma individualizada. Os tiroteios estão cada vez mais presentes no cotidiano da cidade ”, completa Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Nesse cenário, reduzir os indicadores de criminalidade e o número de confrontos é um grande desafio. Algumas sugestões de como fazer isso estão no artigo de Silvia Ramos, Anabela Paiva e Pablo Nunes, membros do Observatório da Intervenção do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (Cesec/Ucam): “Reformar as polícias, substituir as políticas de confronto por políticas consistentes e de longo prazo de Inteligência e investigação, mudar a relação com as populações das áreas de periferia oferecendo segurança, proteção da vida e policiamento de proximidade no lugar de uso da força, modernizar o sistema de justiça criminal, abarcando não só as polícias, mas as Defensorias, MP e Justiça; integrar as municipalidades no sistema”.
A pesquisa também verificou que, embora 76% da população no Rio apoie a intervenção federal, 69% acreditam que a intervenção e presença do Exército na cidade não fizeram diferença alguma na segurança.
A pesquisa do FBSP é o ponto de partida do monitoramento sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro. A ideia é repetir a bateria de perguntas entre setembro e outubro de 2018 para levantar dados que subsidiem a avaliação da curva de evolução das estatísticas oficiais sobre o tema. Trata-se de uma iniciativa que se soma ao monitoramento realizado pelo Observatório da Intervenção, do Cesec/Ucam.
Metodologia
O levantamento foi realizado pelo Datafolha, por amostragem estratificada por sexo e idade, com sorteio aleatório dos entrevistados. O universo da pesquisa é composto pela população com 16 anos ou mais da cidade do Rio de Janeiro.
Foram feitas 1.012 entrevistas presenciais, nos dias 20, 21 e 22 de março de 2018. A margem de erro máxima de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
Ficha Técnica do Relatório:
Resultados e análise da pesquisa
11 artigos
Autores: Samira Bueno, Renato Sérgio de Lima, Edu Carvalho, Arthur Trindade, Daniel Cerqueira, Robson Rodrigues da Silva, João Trajano Sento-Sé, Regina Esteves, Ignacio Cano, Ibis Pereira, Rosilene Miliotti, Silvia Ramos, Anabela Paiva, Pablo Nunes, Ana Carolina Evangelista e Manoela Miklos
Sobre o FBSP
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública foi constituído em março de 2006 como uma organização não-governamental, apartidária e sem fins lucrativos, cujo objetivo é construir um ambiente de referência e cooperação técnica na área de atividade policial e na gestão de segurança pública em todo o País. Composto por profissionais de diversos segmentos (policiais, peritos, guardas municipais, operadores do sistema de justiça criminal, pesquisadores acadêmicos e representantes da sociedade civil), o FBSP tem por foco o aprimoramento técnico da atividade policial e da governança democrática da segurança pública. O FBSP faz uma aposta radical na transparência e na aproximação entre segmentos enquanto ferramentas de prestação de contas e de modernização da segurança pública.
Mais informações:
Analítica Comunicação
Assessoria de Imprensa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Pesquisa DataFolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública