O Golpe da Direita cínica e excludente - que agrega uma classe média preconceituosa, fascista e despolitizada, uma mídia monopolizada que defende seus interesses financeiros, uma malta de políticos corruptos, a Fiesp e sua sanha escravagista, os ruralistas, fundamentalistas e, finalmente, grandes corporações internacionais que querem privatizar nossos bancos seculares (que fomentam o desenvolvimento do país como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil) e se apropriar do pré-sal - irá interromper um processo civilizatório que varreu o Brasil do Mapa da Fome e incluiu 40 milhões de pessoas no mercado de consumo e no acesso de políticas públicas de combate a pobreza multidimensional. A jovem Kauany Sousa, 24 anos, nascida no pequeno município de Almino Afonso, no Rio Grande do Norte é fruto deste processo de inclusão dos governos Lula e Dilma. Ela emocionou milhares de pessoas ao levantar em sua formatura uma enxada sobre a cabeça em homenagem a seus pais agricultores: Kauany nasceu em 1992, quando Collor sofreu impeachment e Itamar assumiu, no auge do neoliberalismo. Kauany sobreviveu à fome e à desnutrição e entrou na escola no segundo governo de FHC.
Em 1997, primeiro governo de FHC, 78 milhões de brasileiros viviam com menos de 149 reais por mês. A pesquisa da PNAD indicava que 43 milhões ganhavam menos de 73 reais por mês!
Vamos conhecer a história de Kauany e descobrir como políticas públicas dos governos Lula e Dilma fizeram a diferença na vida de milhões de brasileiros como Kauany:
Eu nasci no sítio Carnaúba Torta, no município de Almino Afonso, Rio Grande do Norte. Trabalhei na roça durante toda a minha infância até 19 anos, plantando feijão, milho, algodão, arroz com seu pai, minha mãe e irmãos. Meu pai se chama José Nilson Pereira de Oliveira e minha mãe se chama Creuza Alves da Silva Oliveira. Eles sempre lutaram para dar o melhor para nós. Nasci numa casa de taipa, não tínhamos condições, trabalhei desde a infância muitas vezes meu pai e minha mãe que ganham 20,00 reais por mês para nos dar apenas feijão com farinha.
Na casa que nasci não tinha energia, não tinha televisão, não tinha nada eu passava o dia todo escutando o rádio desde 5 da manhã até meia noite. Eu escutava todas as programações do rádio e eu dizia para minha mãe: eu vou ser jornalista, vou passar na televisão a senhora vai me ver daqui do sítio. E eu fui correr atrás desse sonho.
Meus primeiros dias de aula foram debaixo de uma árvore porque não tinha escola. Com muitas dificuldades eu consegui terminar o ensino médio e tentei três vezes a seleção para o vestibular na universidade do estado do Rio Grande do Norte.
Possivelmente sem políticas públicas de combate à miséria, Kauany e sua família repetiram a história de milhões de brasileiros excluídos e até então invisíveis ao Estado como os milhões de brasileiros do início dos anos 2000. No vídeo abaixo, uma matéria do Jornal Nacional relembrando uma série do mesmo jornal realizada por Marcelo Canelas e Lúcio Alves em 2001 (governo FHC) intitulada A fome no Brasil podemos ver quando nosso país apresentava índices vergonhosos de fome, desnutrição, mortalidade infantil, analfabetismo e exploração do trabalho infantil. Mais de 50 milhões de pessoas viviam na miséria extrema:
O que aconteceu depois de 2003? O Brasil elegeu o primeiro presidente trabalhador deste país. O ex-metalúrgico Luis Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do país e um compromisso: "No meu mandato todo brasileiro vai fazer 3 refeições por dia". Lula deu início ao programa Fome Zero, colocando o Estado Brasileiro a serviço da superação da fome e da pobreza. Ao longo dos dois mandatos de Lula e Dilma, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o MDS desenvolveu 120 políticas públicas e ações de combate à miséria multidimensional.
O que é o combate a miséria multidimensional?
Lembrando que em 2001 o Brasil tinha 50 milhões de brasileiros na indigência, os governos Lula e Dilma com um conjunto de ações intersetoriais, envolvendo vários ministérios, estados e prefeituras, sob coordenação do MDS criou um cadastro único dos brasileiros pobres e abaixo da linha da pobreza e passou a atuar na proteção social do que representava cerca de 30% dos brasileiros abaixo da linha da pobreza. O que isso fez na vida de Kauany? Garantiu a sua permanência na escola, a compra de materiais escolares a alimentação, a compra de geladeira, porque a energia elétrica chegou ao sítio onde ela vivia com sua família a partir do programa Luz para todos do governo Lula. Vamos ouvi-la:
Kauany, após formatura no sítio da família. Foto: José Bezerra.
Minha mãe passou a ser beneficiária do bolsa família, inclusive foi com o dinheiro do bolsa família ela conseguiu nos sustentar, porque antes meu pai ganhava apenas 20 reais e não tinha outro trabalho, apenas a agricultura e depois que ela passou a receber o bolsa família tivemos maior estabilidade porque pôde comprar nossos cadernos, manter a gente na escola, a comida. Inclusive ela comprou a geladeira, televisão que depois veio energia para o sítio.
O Bolsa Família tirou muitas pessoas da miséria, não só a minha família, mas como tantas outras pessoas próximas a nós, conhecidos que moravam no sítio também e não tinham nada, muitas vezes não tinham o que o alimentassem e o programa deu oportunidade. Hoje temos uma estrutura melhor tanto em casa como na escola.
Quando Dilma assumiu em 2010 o Brasil apesar de ter reduzido drasticamente a miséria extrema ainda tinha tinha 16 milhões de pessoas que precisavam de proteção social do Estado para não correr risco social. Dilma lançou então em 2011, o Plano Brasil sem Miséria e a partir daí o Estado brasileiro adotou a Busca Ativa, programa no qual o governo federal localiza as pessoas de baixa renda e as insere nas políticas que elas têm direito e além disso prioriza a implantação de novas estruturas públicas como escolas em tempo integral, creches, unidade de saúde, cisternas, energia elétrica, utilizando para isso o mapa da pobreza do Brasil.
Ao longo desses 13 anos onde o combate à miséria foi prioridade nos governos Lula e Dilma as transformações dos grotões mais pobres do país são imensas.
O Bolsa família reduziu drasticamente a pobreza e a extrema pobreza, assim como a pobreza multidimensional o que fez a mortalidade infantil, a desigualdade educacional e o trabalho infantil reduzir imensamente. O percentual de pobres no país saiu de 23,6% em 2003 para 7% em 2014. O percentual da população em situação de extrema pobreza saiu de 8,2% em 2003 para 2,5% em 2014. O resultado desta redução foi que além do fim da fome e desnutrição de gerações inteiras, houve aumento da estatura das crianças, incluindo a de grupos populacionais tradicionais (como quilombolas e indígenas).
O programa bolsa família associado a outros programas como o Pronatec, o Microempreendedor individual e o Crescer promoveu a inclusão produtiva urbana e a inclusão produtiva rural com os programas de fomento à inclusão produtiva Rural, a convivência com o semiárido, o programa de cisternas, o acesso à água para consumo, o acesso à água para a produção de alimentos, às cisternas escolares, o acesso à água potável na região Norte, o Programa de Aquisição de Alimentos, o Bolsa Verde. Além disso o acesso a serviços de Assistência Social a partir de uma rede descentralizada que aproxima os cidadãos do Estado, o benefício de prestação continuada, o Luz para todos, o Minha casa minha vida, a expansão da rede do SUS nos territórios de pobreza com maior cobertura de serviços como a construção de 904 unidades básicas de Saúde, 11844 farmácias populares credenciadas e 262 unidades do SUS distribuídas em 1503 municípios e o aumento da cobertura das equipes de saúde da Família atingindo cerca de 5 milhões de brasileiros antes sem qualquer acesso à saúde. Ainda o programa Brasil Carinhoso que fornece aporte para os municípios incluírem as crianças do bolsa família nas creches e educação infantil com atendimento de mais de 8 milhões de crianças de 0 a 5 anos. Na área de Alimentação escolar 43 milhões de crianças atendidas com alimentação saudável.
Dona Irene Santos de Jesus, moradora de Serra Preta, semiárido baiano com sua casa reformada após o conjunto de políticas públicas que permitiu sua permanência no Semiárido e renda com a produção de alimentos: "as cisternas amenizaram a seca, tiraram um peso da cabeça das mulheres."
Essa revolução na rede de proteção aos cidadãos mais pobres, assim como o aumento do salário mínimo acima da inflação fez com que em 2014 o Brasil saísse do mapa da Fome, segundo os critérios da FAO.
Isso tudo pode acabar e corremos sérios riscos de retrocedermos ao patamar dos tenebrosos anos de 1990 início dos 2000 se o golpe vencer e os golpistas assumirem. Michel Temer promete redução dos programas sociais a patamares irrisórios. Só para se ter uma ideia, o segundo estado com maior número de beneficiários do bolsa família é São Paulo que atende hoje 4. 38.254 pessoas cairia de acordo com a proposta de Temer para 8466.830 mil pessoas. Ou seja 78% dos beneficiários hoje do bolsa família do estado de São Paulo ficariam desassistidos deste complemento de renda. Isso significa abandonar a própria sorte 1.795.912 pessoas com renda até 77 reais e 1.995.512 pessoas com renda acima de 77 reais. O montante de crianças e adolescentes deste grupo é de 1.832.648. Se Temer cortar como promete a proteção social aos mais pobres que o Estado Brasileiro garantiu nos anos de governos petistas teremos em todo o país 36.396.249 pessoas abandonadas à própria sorte sem a garantia obrigatória do Estado de prover estas pessoas e 15.766.765 dessas pessoas estão na faixa de 0 a 15 anos.
Voltemos a Kauany: ela acaba se se formar em Serviço Social e cursa jornalismo, pois após 1 ano e meio do curso de Serviço Social em uma Universidade Privada (ela foi bolsista), prestou pela terceira vez o vestibular para jornalismo na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte e passou. Hoje, aos 24 anos ela está prestes a concluir sua segunda graduação.
Kauany, Dody e outros entrevistados deste blog são exemplos concretos que a proteção social criada pelos governos petistas são transformadores e estão longe das bobagens retrógradas, perversas e reacionárias proferidas por políticos como o tucano Álvaro Dias que adoram repetir que o Bolsa Família cria preguiçosos.
Em sua entrevista Kauany me relatou que em Mossoró, longe do apoio da família teve de lutar muito pra concluir o curso, chegou a dormir onze meses cada dia na casa de uma amiga, sem condições de pagar um lugar para morar, cursando jornalismo pela manhã fazendo estágio a tarde e serviço social à noite.
Perguntei a ela o que sentiu a descer as escadas com a enxada levantada sobre seu corpo e quais são suas perpectivas de futuro:
"Eu sou a primeira pessoa da minha família a me formar e vou ter dois diplomas. Meu gesto foi um gesto para demonstrar para todas as pessoas que o trabalho do agricultor é valoroso, imaginei a luta dos meus pais e de tantos outros agricultores que se formaram e pretendem se formar, que têm o sonho de fazer um curso superior. Lembrei que meus pais se esforçaram muito para me dar o melhor e que meu amor por eles é ainda maior.
Depois que comecei a faculdade de Serviço Social me apaixonei pelo curso. Um curso que trata da garantia dos direitos das pessoas menos favorecidas pelas políticas públicas. Pretendo trabalhar como assistente social e como jornalista. Eu quero ter um emprego, eu quero dar o melhor para os meus pais. Esse é o meu sonho. De uma casa melhor, uma vida digna.
Minhas perspectivas para o futuro é que tudo melhore, que amplie as condições dos trabalhadores de formar seus filhos, colocarem nas universidades, que possam ter muitos estudantes se formando, que possamos mostrar para o mundo que o Nordeste, que os pequenos agricultores, que os trabalhadores tem valor, tem poder."
Perguntei a Kauany sobre a conjuntura política, como ela se informa e o que el pensa sobre o momento político que estamos vivendo:
Em meio a esta crise, independente do desfecho político, porque estamos vivendo uma situação muito difícil na política, espero que as oportunidades que existem hoje para os trabalhadores, para os agricultores, para as pessoas de classes baixas e desfavorecidas, que as oportunidades continuem existindo em nosso país.
Eu não vejo a Globo, nem as reportagens que eles divulgam ou repassam, eu me informo pela internet. Não acho que seja um jornalismo equilibrado, o jornalismo produzido pelos grandes meios de comunicação, a tendência das coberturas jornalísticas dependem muito do viés, os pró-impeachment defendem o que as famílias que controlam os grandes meios de comunicação desejam. Não sei se há espaço para jovens críticos como eu. Sonho em trabalhar como jornalista na televisão, espero conseguir. Nunca vou deixar minhas origens, meu pensamento e a minha criticidade. Na minha universidade há muitas manifestações contra o golpe. Estamos nos mobilizando.
Que as Kauanys brasileiras, frutos de uma real política de proteção social se mobilizem e não permitam retrocessos.
FONTES:
Entrevista por celular com Kauany
Conheça a trajetória de Kauany, jovem que vem emocionando o Brasil
Coletiva dos blogueiros no MDS com Ministra Tereza Campello Cadernos de Debates