Não é de hoje que artistas e intelectuais assinam manifestos em prol da democracia e denunciam a manipulação do jornalismo produzido pela Globo. Mas o que está ocorrendo agora é diferente, é mais impactante: personalidades públicas se recusam a ser entrevistadas, a falarem sobre seus conhecimentos em diferentes áreas ou a permitir que algo relacionado à família Marinho tenha acesso a produção de sua arte e conhecimento.
Nos últimos dias dois importantes intelectuais de diferentes áreas se recusaram a dar entrevistas à Globo e explicitaram seus motivos, Nasser, disse em entrevista para a Fórum:
“Não é uma questão de foro individual. É uma questão pública. Sou professor falando em um meio público. Foi uma decisão política. Se outras pessoas, olhando para isso, julgarem uma uma atitude adequada, que tenham também essa decisão”, pontuou.
O pesquisador João Feres Jr. ao recusar dar entrevista para o G1 publicou em seu Facebook:
"DANDO O EXEMPLO Seguindo o exemplo do meu amigo Reginaldo Nasser, transcrevo abaixo troca de mensagens e-mails que tive com jornalista da Globo que me pediu para colaborar divulgando resultados de nossas pesquisas do GEMAA. Isso depois de ter, na sexta, tido um diálogo de igual conteúdo com jornalista do Estadão que queria me entrevistar por telefone. Professor: João Feres Júnior"
Artistas também vem fazendo o mesmo. No ato Teatro com a Democracia, ocorrido na Fundição Progresso, na última segunda feira, uma infinidade de artistas disseram não a Globo e não parou por aí. Ontem, Sinai Sganzerla, filha do diretor Rogério Sganzerla ao descobrir que a Fundação Roberto Marinho está por trás dos contratos do MIS não autorizou o uso de imagens de filmes de seu pai para compor o acervo do museu e respondeu à curadoria, explicando os motivos:
"Os filmes dirigidos pelo meu pai Rogério Sganzerla iriam ter exposição na nova sede do MIS Rj e no contrato que nos foi enviando quem assina é a Fundação Roberto Marinho . Diante do que esta acontecendo no Brasil enviei hoje o seguinte email:
"Pelo momento político que estamos vivenciado no Brasil, estimulado pelas organizações Globo (mesmo grupo da Fundação Roberto Marinho) que apoiou o Golpe de Estado em 1964 e também realizou diversas manipulações eleitorais, e pela atual posição que o jornalismo da empresa vem desenvolvendo, principalmente nos últimos dias, não iremos licenciar os trechos dos filmes do meu pai (Sem Essa Aranha e Copacabana Mon Amour) para Fundação Roberto Marinho. Não desejamos vincular a obra de Rogério Sganzerla com uma instituição que estimula a violência e o desrespeito a democracia".
Todos os intelectuais respeitáveis deste país deveriam agir como o professor Reginaldo Nasser e como o pesquisador João Feres Júnior. Todos os artistas que tem compromisso com a democracia também deveriam deixar muito claro quem é a Globo e o que ela representa e os que podem dizer não a ela que o digam em alto e bom som.
* Doutor Reginaldo Nasser é mestre em Ciência Política pela UNICAMP e doutor em Ciências Sociais pela PUC (SP) área de concentração em Relações Internacionais. É professor do Departamento de Política da PUC(SP) desde 1989. Atuou como avaliador dos cursos de graduação em Relações Internacionais do MEC (2002-2006), coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC(SP) 1999-2009 e professor do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais(Unesp, Unicamp e PUC). É parecerista ad hoc da Revista Brasileira de Política Internacional e da Revista Brasileira de Ciencias Sociais. Membro da Direção da ABRI - Associação Brasileira de Relações Internacionais 2007-2009. É Pesquisador responsável do Instituto Nacional de Estudos Sobre os EUA (INEU) Desenvolve pesquisas na área de Política Internacional com ênfase em Conflitos Internacionais, Segurança Internacional, terrorismo, Oriente Médio, África e política externa dos Estados Unidos.
** O pesquisador João Feres Júnior possui graduação em Ciências Sociais e mestrado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (1988 e 1997) e mestrado e doutorado em Ciência Política pela City University of New York, Graduate Center (1998, 2003). Foi professor de ciência política do IUPERJ de 2003 a 2010. É hoje professor de ciência política da UERJ e da UNIRIO, editor da revista Contributions to the History of Concepts, coordenador no Brasil do Projeto de História Conceitual do Mundo Atlântico (Iberconceptos) e coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA). Trabalha atualmente com os seguintes temas: teoria da história conceitual, teoria do reconhecimento, teoria política, políticas de ação afirmativa, relações raciais e história dos conceitos de América, América latina e civilização no Brasil e em outros países.
*** Sinai Sganzerla é produtora, compositora e atriz.