Contribuição ao Balanço Coletivo do V Congresso do PT
Por Bernardo Cotrim*, via e-mail
15/06/2015
Frente ao drama do PT e do governo, imerso em contradições geradas pela combinação, a grosso modo, da diluição da identidade socialista e democrática do primeiro, os impasses gerados pela descontinuidade da política vencedora das eleições presidenciais no 2º turno por parte do governo, e o moto-contínuo de ataques da direita em todas as suas frentes, o V Congresso iniciou-se cercado de profundas expectativas de mudança. Este ambiente foi turbinado, poucos dias antes, com o lançamento de dois documentos de importância ímpar - a carta assinada por 400 dirigentes do sindicalismo cutista e o manifesto que agregou a maioria da bancada federal - ambos somando-se ao discurso que apontava a necessidade de mudanças imediatas na política do governo e no modelo de partido que temos, reforçando sua capacidade de recuperar a iniciativa da agenda política e impulsionar um novo ciclo de lutas e mudanças.
Esta expectativa foi frustrada. A substituição do documento da maioria partidária por outro de tom mais ameno, o discurso surpreendentemente protocolar do presidente Lula, na contramão do pronunciamento feito na comemoração dos 35 anos do PT, quando defendeu a atualização do manifesto de fundação do PT, e o lançamento de uma campanha financeira exatamente no horário dos grupos de discussão baixaram a temperatura do congresso e sinalizaram a opção conservadora da CNB, tornada ainda mais visível quando o debate finalmente emergiu nos grupos.
As resoluções aprovadas na plenária final deram o desfecho melancólico para o V Congresso. A única sinalização positiva (a emenda crítica à política econômica) só foi aceita depois da redação ser suavizada; o PED foi reafirmado como processo de escolha das direções partidárias, agregado de um novo elemento: a militância passa a não ter mais relação alguma com o financiamento do partido, desobrigando-se da contribuição financeira; uma “conferência” a ser definida pelo Diretório Nacional, com abrangência política e participação militante reduzidas, derrotou a proposta de Constituinte petista com delegados e delegadas eleitos presencialmente e pela base; e o debate sobre a proibição do financiamento empresarial para o PT e seus candidatos foi devolvido ao Diretório Nacional, após este ter delegado ao Congresso uma resolução definitiva sobre o tema.
Chama a atenção o "sumiço" do núcleo histórico de elaboração política da maioria. Em comparação com o IV Congresso, a direção política que conduziu a vitória da CNB teve a presença destacada de lideranças contrárias às mudanças positivas aprovadas no congresso anterior. Consolidou-se, portanto, uma "energia de restauração" empenhada na missão (bem sucedida) de conservar a unidade da maioria interna. Merece um olhar mais atento a construção política e cultural de uma identidade de grupo capaz de convencer dirigentes sindicais a votar contra uma resolução contra a política econômica apresentada pelos próprios, militantes partidários que votaram e assinaram textos contra o PED a abrir mão da posição, apresentar-se impermeável às formulações de uma expressiva minoria (superior à 40% dos delegados) e interditar um diálogo colaborativo mais amplo, capaz de unificar o partido.
São precoces, no entanto, conclusões apocalípticas que indicam a falência do PT e o seu consequente fim. O V Congresso tem como signo forte a atuação conjunta de uma minoria plural e bastante expressiva, unificada em resoluções que expressam o sentimento de uma ampla militância identificada com o petismo, ansiosa por participar de um partido mais combativo e democrático, dialogando com a movimentação política da maioria da bancada parlamentar federal e com as posições e expectativas de inúmeros dirigentes intermediários. A intervenção brilhante do companheiro Patrus Ananias, ao defender o papel pedagógico e cidadão da participação política, é o momento de maior força do congresso inteiro, na contramão de falsas polêmicas, como a antinomia entre partido de quadros e partido de massas, há muito superada pelo PT e recuperada como cortina de fumaça de um discurso politicamente desonesto e intelectualmente indigente.
Cabe aos setores que protagonizaram este movimento prosseguir no esforço de síntese e de movimentos combinados, reencantando a militância e organizando iniciativas coletivas que expressem o partido que queremos, constituindo um vigoroso e permanente movimento público capaz de chacoalhar as estruturas fossilizadas do PT, renovar nossas esperanças e impulsionar as lutas necessárias. Lembrando Fernando Brant, que nos deixou precocemente: "Se muito vale o já feito, mais vale o que será!"
*Bernardo Cotrim é Secretário Estadual de Formação Política do PT-RJ
Bernardo Cotrim: V Congresso do PT: frustradas as expectativas de mudança e renovação
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