Quando lemos esta pérola reacionária do editoral do Estadão sobre Guilherme Boulos e o MTST (comovente ver como os donos do estão preocupados com o fato de 10 mil pessoas exporem nas ruas as mazelas do governo tucano de Alckmin, arduamente escondidas pelo Estadão e as demais famiglias midiáticas durante toda a campanha eleitoral) ficamos pensando: e se o Estadão fizesse jornalismo?
Se o Estadão fizesse jornalismo, talvez tivesse esclarecido a população paulista dos reais motivo das secas nas torneiras num verão que choveu tanto como tantos outros verões. Talvez falasse da privatização da SABESP, talvez falasse da falta de investimento da Sabesp privatizada na construção de novos reservatórios e da manutenção e ampliação da rede de distribuição de água. Talvez falasse das altas taxas cobradas por um fornecimento deficiente que privilegia os grandes consumidores e pune o consumidor doméstico. Talvez lembrasse que água é serviço vital e não mercadoria pra especular na bolsa de Nova Iorque.
Se o Estadão fizesse jornalismo, talvez falasse do locaute das empresas de transporte no sul do país, travestido de greve dos caminhoneiros completamente à revelia inclusive do Judiciário com único e exclusivo fim de desestabilizar o governo Dilma.
Se o Estadão fizesse jornalismo, talvez criticasse a especulação imobiliária ao invés de criminalizar os sem tetos.
Se o Estadão fizesse jornalismo, talvez visse o real risco de um movimento fascista que, à revelia da lei, prega abertamente a morte da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula numa campanha de manipulação e desinformação jamais vista na história das redes sociais.
Se o Estadão fizesse jornalismo, talvez reconhecesse que o grupo que ele representa foi derrotado nas eleições e parasse de insistir neste discurso reacionário, excludente, criminalizador das lutas sociais e estimulador da violência contra os mais pobres.
Mas no jornalismo-negócio do Estadão, o que menos interessa é o compromisso com os fatos, afinal os herdeiros do Estadão também saem às ruas sem vergonha nenhuma de expor o que pensam em alto e bom som: Foda-se um projeto democrático, progressista e inclusivo! Mexa-se governador! Assegure nossos privilégios de classe porque nós o poupamos, Alckmin e ao seu governo para que você mantenha estes pobres na coleira, polícia neles, pau nos pobres, Alckmin!! !
Fernão Lara Mesquista, um dos filhos de Ruy Mesquista e sócios do grupo O Estado de S. Paulo Editorial do EstadãoO MTST ataca de novo
O Estado de S.Paulo
28 Fevereiro 2015 | 02h 04
Muito bem tratado pelas autoridades e por líderes políticos das mais variadas tendências, apesar de atropelar a lei com frequência - uns por simpatia ou conivência, outros por temerem suas bravatas -, não surpreende que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e seu líder Guilherme Boulos continuem de vento em popa e, cada vez mais, diversificando suas atividades. Tratam de questões que vão muito além da moradia. Atiram para todos os lados. Com seu conhecido oportunismo e inegável faro para problemas que podem mantê-los em evidência, na quinta-feira o seu alvo foi a falta d'água.
Com uma manifestação que reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar (PM), o MTST deu nova demonstração de força. O ato começou no Largo da Batata, na zona oeste, de onde os manifestantes seguiram para o Palácio dos Bandeirantes - onde chegaram às 20h30 -, passando pela Avenida Faria Lima. Não houve excessos por parte deles, acompanhados ao longo de todo o trajeto por policiais militares. Mas sobrou coreografia, com um boneco representando o governador Geraldo Alckmin e um caminhão-pipa com 5 mil litros de água, escoltado por militantes com armas feitas de canos para simular roubo de água.
O MTST contou com o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e de partidos como o PC do B e o PSOL. Teve êxito em sua demonstração de força, pois uma comissão de manifestantes foi recebida por representantes do governo do Estado, aos quais apresentaram várias reivindicações, entre elas a distribuição de caixas d'água para famílias carentes, compromisso de não reajustar a tarifa e divulgação de informações sobre a qualidade da água da Represa Billings, que o governo pretende aproveitar para suprir as deficiências atuais do Sistema Cantareira, muito prejudicado pela seca.
Boulos, como sempre, foi agressivo, dizendo que o governo tem de reconhecer que o racionamento já existe para os mais pobres, exigiu um plano emergencial para enfrentar a crise, fingindo desconhecer as medidas tomadas nesse sentido, e ameaçou, do alto de um carro de som, que, se houver aumento na conta de água, ele não será pago.
Nada mais natural que grupos que se sentem prejudicados se manifestem, protestem contra o que acham errado e apresentem suas demandas. Desde que aceitem as regras do jogo democrático, que exigem, antes de mais nada, o respeito à ordem legal e excluem, portanto, toda tentativa de impor sua vontade pela força, de ganhar o jogo "no grito".
É essa truculência que o MTST tem exercido, como provam suas repetidas invasões de áreas privadas e públicas, para que nelas sejam construídas moradias populares, sob a alegação de que, se não forem assim coagidas, as autoridades não fazem o que devem. Até mesmo 16 áreas nas quais o atual governo municipal pretende construir parques foram invadidas, apesar da inacreditável boa vontade sempre demonstrada por Fernando Haddad em relação ao MTST, o que já levou o vereador Gilberto Natalini (PV) a acusá-lo de ser conivente com as invasões feitas pela tropa de Boulos.
Haddad poderia alegar que o exemplo vem de cima, pois a própria presidente Dilma Rousseff já se reuniu com Boulos, em meio às invasões, sem falar no ex-presidente Lula, que faz questão de demonstrar sua simpatia por um personagem cujo desprezo pela lei é notório. E poderia alegar também que até mesmo o governo de um adversário seu e de Boulos, como o de Geraldo Alckmin, fica cheio de dedos com ele.
Quanto ao fato de o MTST se envolver em assuntos que nada têm a ver com moradia, como a falta d'água, Boulos - honra lhe seja feita - joga claro. "O MTST não é um movimento de moradia", disse numa entrevista ao Estado. "É um projeto de acumulação de forças para mudança social." Já está mais do que na hora de os que não concordam com seus sonhos revolucionários agirem com a mesma clareza e a mesma dureza que ele. Apenas aplicando a lei.