Os vídeos que circulam nas redes sociais, com depoimentos de caminhoneiros e um depoimento à Polícia Rodoviária Federal de uma senhora que afirma ter procurado a PRF porque seu irmão é mantido à força na paralisação dos caminhoneiros no sul do país trazem fortes indícios de que o que está acontecendo no Brasil é um locaute e como tal, crime passível de punição.
Assistam os vídeos:Detalhe, o governo federal já havia estabelecido acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT (CNTTL) em relação à paralisação, mas com estes fortes indícios de locaute nada será investigado?
As denúncias são gravíssimas: intimidação dos caminhoneiros, ameças, violência física para forçá-los a não seguir viagem.
Nenhuma das lideranças que sentou na mesa de negociações com o governo reconhece Ivar Schmidt do Comando Nacional do Transporte, responsável por esta paralisação que está sendo denunciada pelos próprios caminhoneiros.
Ivar não será ouvido, confrontado com as denúncias feitas por esta senhora a um policial rodoviário federal que aparece no vídeo?
Coincidentemente Ivar Schimidt tem recebido um amplo espaço na mídia monopolista e declaradamente golpista. Alguma liderança nacional sindicalizada costuma receber a atenção que Ivar recebe da Globo e Veja? Desconheço.
Um detalhe interessante, de acordo com o jornalista João Maneco, sequer Ivar é caminhoneiro:
A Globo e a Veja, cujas equipes de reportagem não saem do Sul do pais, tiveram muito esmero em garantir a fala de um empresário suposto líder de caminhoneiros sem representação na categoria, mas parece que não passaram por Curitiba para ver as manifestações dos professores contra o pacotaço do governador tucano, Beto Richa que retira direitos dos servidores e põe em risco à educação pública no Paraná. Não acham estranho isso?
Locaute não é greve, é golpe! (por Sandro Ari Andrade de Miranda)
Sandro Ari Andrade de Miranda*, Sul 21
27/02/2014
Sempre que observamos um movimento paredista de caminhoneiros a triste lembrança do Chile volta do passado. Na época, insuflados por uma ação da Agência Norte-americana de Inteligência, a CIA, um grupo de caminhoneiros realizou uma grande paralisação no país visando conferir legitimidade ao golpe militar que culminou no assassinato do Presidente, democraticamente eleito, Salvador Allende.
O resto da história já é do conhecimento de todos. O Chile viveu uma ditadura cruel, das mais selvagens da história, que contou com requintes de selvageria, como o massacre de milhares de oposicionistas do regime num estádio de futebol.
Sendo assim, quando os caminhoneiros do Brasil realizam uma paralisação em diversos estados é preciso separar o joio do trigo, a necessidade do golpismo, a luta política democrática do mero golpismo.
Sem ingressar no mérito das reivindicações, é preciso destacar que a maior parte das organizações de trabalhadores de transporte acolheu plenamente a proposta do Governo Federal costurada pelo sempre eficiente Ministro Miguel Rosseto. Daí fica a pergunta: se as entidades de classe acolheram a proposta apresentada pelo Governo, porque algumas cidades ainda sofrem com a paralisação e bloqueio de rodovias? Quem ganha com o caos?
Com certeza, não são os caminhoneiros, que terão uma Lei que garante uma série de direitos trabalhistas sancionada na íntegra pela Presidenta da República, além da isenção do pedágio para caminhões vazios e o congelamento do preço do diesel por um período mínimo de seis meses, dentre outras vantagens.
A resposta está nas entrelinhas do movimento, nas suas contradições, e na presença de atores estranhos e alheios ou contrários à pauta de reivindicação dos trabalhadores. Sugiro olhar e fotografar a placa da maior parte dos caminhões paralisados e, com certeza, teremos uma surpresa ao ver que grande parte é de Santa Catarina ou do Paraná. Ou seja, são caminhões das grandes empresas de transportes, que emplacam os seus caminhões em estados que fazem populismo com o IPVA, e se utilizam da desinformação imposta pela mídia da direita golpista, especialmente a Rede Globo, a Folha e a Veja, para sustentar uma crise fabricada.
Há uma imensa contradição entre a Agenda dos trabalhadores rodoviários, que hoje são submetidos a jornadas humilhantes, com garantias mínimas, ou forçados a falsificar contratos de terceirização dos serviços, e o das empresas de transporte, ou ainda do grande agronegócio, que se aproveitam da fragilidade legal do trabalho da categoria para impor um regime quase escravagista e baixos valores de fretes.
Assim, muitos dos trabalhadores que hoje fazem figuração no movimento paredista são vítimas da ação deliberada do grupo dominante, e sem a menor compreensão do processo político e social defendem a agenda dos seus maiores inimigos, que são os grandes empresários do agronegócio e das grandes empresas de transporte.
Isso não greve, e sim Locaute, ou Lockout, para utilizar a expressão britânica. Trata-se de uma prática proibida pela legislação brasileira, exercitada pelos empregadores, que tem por objetivo frustrar ou dificultar o atendimento de reivindicações dos empregados.
No Locaute impende-se o acesso dos trabalhadores aos meios de trabalho, ou simplesmente é suspendido o direito ao trabalho através do uso desproporcional da força econômica. O resultado buscado pelos dirigentes dos Locautes é sempre o enfraquecimento da pauta da classe trabalhadora organizada para impor um regime de interesse do capital. Não é por acaso que figuras desconhecidas, surgem, do nada, como líderes, normalmente “laranjas” muito bem pagos pelos interessados nos resultados do movimento contra-reivindicatório.
Assim, você brasileiro que hoje sofre com a chantagem egocêntrica de um grupo de caminhoneiros que violentamente bloqueiam a circulação de caminhões, ou com a campanha de pânico imposta pela mídia golpista, especialmente a Rede Globo, fiquem certos que não são os trabalhadores que lideram o essa organização paredista, Mas aqueles que se usufruem da exploração de milhares de trabalhadores que atuam no segmento do transporte.
Não há uma greve legítima, esta terminou na quarta-feira, na reunião entre o movimento dos caminhoneiros e o Ministro Miguel Rosseto. Temos, isto sim, um Locaute, medida absolutamente ilegal.
Quais os motivos deste movimento, que curiosamente começou no Paraná, Estado onde o Governador, vinculado ao PSDB, enfrenta protestos diários pelas denúncias de corrupção e pelo corte dos direitos de servidores públicos, e mostra alguma forma no Rio Grande do Sul, onde o Governador Sartori promete atrasar o pagamento da folha salarial dos servidores.
Talvez a resposta sejam a tentativa de abafar as denúncias contra Aécio Neves e FHC na operação Lava-jato, ou ainda o vergonhoso escândalo do HSBC, esquecido pela mídia, e que representa o maior caso de corrupção e de lavagem de dinheiro do Planeta, ou para dar gás à sede golpista de um grupo de conservadores que não consegue aceitar a perda das eleições de outubro, ou ainda, claramente, para atrasar a sanção da Lei dos Caminhoneiros, o que traria uma imensa e justa vantagem para esta importante categoria profissional.
Se estamos diante de um Locaute, e não de uma greve, não há mais exercício da Democracia, mas sim um típico caso de polícia, e que assim deve ser tratado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.
*Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e mestre em ciências sociais