Folha de SP: A ex-ministra Marina Silva tem um discurso mais próximo desses segmentos que o senhor mencionou, meio ambiente, indígenas. Ela serve para a esquerda?
Boaventura:Eu penso que não. Sou amigo da Marina Silva, estive em vários painéis com ela e comungo com ela muitas causas ambientalistas. Mas acho que não porque a influência religiosa no país iria nitidamente continuar a desequilibrar. A dimensão religiosa que está por trás dela é uma dimensão que, no meu entender, tem mais um potencial conservador do que um potencial da Teologia da Libertação.
Portanto é um potencializador de uma interferência conservadora na sociedade. Isso pode ter outras dimensões para os direitos das mulheres, dos homossexuais, para as diversidades sexuais.
Por outro lado, sua política econômica, por aquilo que tenho visto e pelos apoios que ela recorre, é realmente uma tentativa de, com uma cara nova, uma mulher, repor o sistema que estava antes. Seria desacelerar ainda mais as políticas de redistribuição social que foram aquelas que, no meu entender, mais caracterizaram o período Lula. Não penso que a Marina Silva esteja muito sensível a isso tudo.
Então eu penso que ela é uma cara nova para a direita. Não é uma cara para a esquerda, no meu entender. BrasíliaMaranhão (29/08/2014)
A Folha como sempre deu destaque às críticas feitas por Boaventura a Dilma(mesmo que tenha sido críticas à esquerda), embora ele diga com todas as letras que o governo Dilma é um governo progressista e não é um governo de direita e tenha dito com todas as letras que Marina Silva é uma cara nova para a direita.
À época eu havia chamado atenção sobre isso neste post aqui onde transcrevi a entrevista na íntegra: Boaventura: Apesar de Dilma demonstrar “insensibilidade social”, Marina não é uma alternativa à esquerda