Acho que as pesquisas de ontem (Vox Populi, CNT/MDA e Ibope) mostram um pouco o que está acontecendo na mente dos eleitores: o ódio anti-PT, o ataque organizado da mídia velha à candidata Dilma (e a qualquer candidato do PT), a comoção da morte de Campos, tudo isso fez com que os eleitores vissem em Marina algo novo.
Mas daí começam os debates, as sabatinas, a campanha eleitoral, o face to face e a nova política de Marina, além de mostrar que de nova não tem nada, mostra também que não há consistência de projetos.
Tenho acompanhado o máximo que posso as sabatinas, debates e horário eleitoral dos candidatos à presidência.
Dilma quando é sabatinada pela grande mídia parece um interrogatório dos tempos da ditadura militar. E esse comportamento de atacar e nunca deixa ao menos a candidata responder a acusação (raramente lhe fazem perguntas) ocorre desde quando Dilma se sentou pela primeira vez na bancada do Jornal Nacional. Bonner ocupou mais da metade dos 15 minutos de entrevista atacando Dilma, interrompendo-a, numa demonstração de animosidade impressionante. No último Bom dia Brasil, Dilma foi interrompida 82 vezes em menos de 30 minutos! O Manchetrômetro tem feito estatísticas semanais mostrando-nos como é desigual a cobertura da mídia e como ela tem lado e este não é o do governo:
As sabatinas feitas fora da grande mídia não tem este clima de animosidade, mas são muito consistentes. A Campanha Banda Larga um Direito Seu é pluripartidária, tem ativistas do Partido Pirata, do PSOL, do PCdoB, por exemplo. Boa parte deles também são ativistas pela democratização das comunicações e tem severas críticas ao governo Dilma e ao ministro Paulo Bernardo.
Claro que no dia em que Dilma foi sabatinada, foram em massa ativistas digitais petistas, mas eles não fizeram as questões. Ouça as intervenções dos sabatinadores e vejam se Dilma teve algum privilégio:
Dilma foi a primeira a aceitar o convite para participar das sabatinas da Campanha Banda Larga e sua participação gerou este post aqui: Dilma: a infra-estrutura mais estratégica para o país é a banda larga. Eu estava lá, eu ouvi Dilma discorrer durante quase duas horas com muita propriedade sobre infra-estrutura de telecomunicações, sobre fomento do desenvolvimento de softwares, sobre segurança informacional entre outros temas. Se eu não estivesse convencida que Dilma é uma candidata muito preparada e que sabe do que fala, sua atuação ali teria me convencido.
Marina foi a segunda candidata a aceitar a sabatina de ativistas digitais e especialistas que lutam há anos pela universalização da banda larga. Ponto para Dilma e Marina, afinal falar face to face com gente que sabe do que fala e há anos luta por uma causa é preciso ter coragem, Aécio Neves, por exemplo, não respondeu ao convite da Campanha Banda Larga. Mas não basta só isso, tem de conhecer sobre o assunto e propor um caminho para que algo que é estratégico ao país como a infra-estrutura em banda larga de fato ocorra. Quando Marina é questionada se investirá em banda larga fixa, ela não responde, joga para a galera. Marina tinha o vídeo gravado de Dilma e mesmo assim não aproveitou. Sua fala é genérica, sem estofo.
No Facebook vi a manifestação indignada de alguns ativistas presentes de que Marina fugia do assunto o tempo todo. Ao assistir a gravação, vi que a indignação de quem comentava não era de fanáticos petistas acríticos. De fato, falta consistência no discurso de Marina, ela escorrega, escapa, não responde diretamente nenhuma pergunta que lhe é dirigida. Eu já apontei isso em vários posts, mas desta vez, é possível ver com muita precisão que Marina não tem ideia da importância estratégica da banda larga universalizada para o país e não tem projeto para isso. Observem que na fala de Veridiana (IDEC) há críticas duras ao governo Dilma, críticas que foram feitas também na sabatina com Dilma e isso se repete na fala de todos entrevistadores:
Mas, Marina não traz nada consistente para substituir Dilma na difícil tarefa de governar o Brasil. Esta impressão não é só minha e talvez em outros aspectos os eleitores estão percebendo a falta de consistência dos projetos de Marina.
Durante a sabatina, Renata Mielli fez uma questão matadora para Marina sobre a postura de Beto Albuquerque, vice de Marina, e seus ataques ao Marco Civil.
Relembrando: durante o processo de mobilização da sociedade civil pela aprovação do Marco Civil da Internet, Beto Albuquerque se juntou à ala desinformada e reacionária nas redes - que tratava o Marco Civil como “Marco Servil” - e se posicionou contra a aprovação da lei nas redes sociais, veja a imagem acima de um de seus tweets. Marina ao invés de responder a questão de Renata, gastou boa parte do seu tempo criticando Dilma e Aécio. Mesmo quando confrontada várias vezes, Marina não responde. Ao contrário, atacou Dilma chamando-a de ‘gerente’ e defendeu Fernando Henrique, igualando-o a Lula, dizendo que ambos "têm visão estratégica" e desandou a criticar a Petrobras, IBGE etc. Não disse o que fará se fosse eleita, confundiu neutralidade com velocidade de conexão e só repetiu bordões do seu discurso costumeiro: “governaremos com homens bons”, “estamos discutindo com nossa equipe”. Marina não respondeu a questão de Renata, como não respondeu aos demais sabatinadores, nada de falar do seu vice que fez campanha contra o marco civil. Ela sequer citou o nome de Beto Albuquerque e acusou seus adversários de ter “diretrizes genéricas”, no entanto foi Marina que ao ser sabatinada sobre um assunto que claramente não domina só respondeu de modo genérico a todas as questões propostas pela Campanha Banda Larga, tergiversou simplesmente. Enfim, sempre quando a questão esbarra nas contradições de sua nova política com velhos políticos e velhas práticas políticas, Marina dá de ombros.
Trago dois depoimentos na íntegra, pinçados no Facebook um sobre esse evento que faz o mesmo que fiz, comparou os dois discursos e propõe que todos façam o mesmo para tirar suas próprias conclusões:
O primeiro depoimento é de Kalianne Tosold, ela estudou Química Industrial na UFCE em Fortaleza e hoje é estudante de International Development, Ciencias Políticas e Gender Studies pela Universidade de Viena, Austria. Ela ouviu as duas sabatinas da Campanha Banda Larga feita aos presidenciáveis e escreveu o seguinte no seu Facebook
Acho que as pessoas com um pouco de senso critico irão notar a enorme diferença de preparação e de discursos das duas principais candidatas.
Enquanto Dilma, no "Diálogos Conectados" da campanha "Banda Larga é um Direito Seu" responde com propriedade e clareza as perguntas e dialoga verdadeiramente com a banca. Marina Silva reafirma o significado de tergiversar. Acusa e difama. Promete e ataca. Acho que nunca senti tanta vergonha alheia ao ver e comparar duas entrevistas com o mesmo tema!Aqui estão as duas entrevistas, ou melhor, diálogos. São longos, mas vale a pena a informação!
Boa quarta-feira a todxs!
Diálogos Conectados com Dilma Rousseff, Entrevista do dia 9 de Setembro Diálogos Conectados com Marina, realizado dia 22 de Setembro
O segundo depoimento é de uma jornalista especialista em arquitetura, neste fica ainda mais claro a falta de consistência, já que Marina criou sua marca na política por meio da sustentabilidade e nem neste tema ela apresenta uma resposta consistente.
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