De todas as propostas esdrúxulas dos mais de 14 mil candidatos a deputado federal nas eleições de 2014, a campanha do pastor candidato, Elionai Muralha, chega ao requinte da intolerância. Ele prega abertamente uma verdadeira caça às bruxas ao patrimônio cultural baiano: quer retirar todas as esculturas dos orixás de locais públicos na Bahia.
Carybé, Jorge Amado, Pierre Verger e tantos outros artistas, escritores e pesquisadores das religiões de matrizes africanas devem estar dando muitas voltas no túmulo e espero que os vivos como Mario Cravo e toda sociedade pensante brasileira reajam. O que é mais assustador é que o ataque vem de uma pessoa negra. Só Frantz Fanon pode explicar a ignorância fundamentalista do candidato pastor que ataca uma tradição herdada dos africanos que se confunde com a própria identidade baiana. As religiões afro-brasileiras são patrimônio imaterial e as esculturas dos orixás, patrimônio brasileiro. Os orixás são referências culturais transformadas em obras de arte expostas em locais públicos. Mas elas incomodam tanto o pastor que ele deseja retirá-las do dique do Tororó, de praças, tornando a bandeira de sua campanha.
O pastor candidato ignora por absoluto o fato de que nas religiões ancestrais de matrizes africanas, o espaço da natureza é sagrado. Assim como os povos indígenas, o povo de terreiro lida com o mar, as cachoeiras, os rios, as matas como espaços importantes para exercer seus rituais. No entanto, o candidato pastor vai além, ele quer riscar do mapa baiano esculturas que são cartão postal de várias cidades do estado. Qual será o próximo passo? Fazer terra arrasada das igrejas? Demolir as estátuas de santo católicos nas praças? Imagine um candidato pai, mãe de santo propondo demolir igrejas evangélicas?
Deputado é contra retirada de Orixás do dique por: Colbert Martins Filho
Caso vingue o argumento que o candidato a deputado federal pastor Elionai Muralha está usando para tentar retirar as estátuas dos Orixás do Dique do Tororó, em Salvador, uma série de privilégios públicos para todas as religiões deverão ser revistos, tais como concessões de TV, doação de terrenos públicos e apoios financeiros para igrejas e até mesmo a isenção de impostos, conforme contra-argumenta o deputado federal Colbert Martins (PMDB).
Colbert destaca que, em matéria publicada na imprensa, o pastor alega que seu argumento se baseia na “isonomia na função social de órgãos e repartições que não podem atender a uma única crença", salientando ainda Elionai que “local público não pode ser confundido com local de culto. A Bahia é conhecida de uma única crença: o candomblé. Não tem cabimento".
“Creio que o ponto de vista do pastor remeta também à proibição de emprego de dinheiro público, ou qualquer serviço ou bem público em benefício de qualquer religião. Pelo meu ponto de vista, a existência dos Orixás no dique é mais uma visão histórica do que propriamente apenas de crença, assim como o Candomblé se confunde com a história da Bahia. A retirada das estátuas seria descabida, uma falta de respeito à história da Bahia e ao candomblé”, afirma Colbert Martins.