Como lembramos várias vezes, quando porta-voz de Israel tentou ofender o Brasil por sua decisão acertada, seus ataques provavam exatamente o contrário: o Brasil não é mais aquele país rastejante de joelhos da era FHC. Quem tem juízo respeita o Brasil. Claro que vira-latas reacionários não sabem o que isso significa. Mas vira-latas reacionários não representam o 200 milhões de brasileiros.
À época Santayana escreveu um belo texto e lembrou alguns episódios que qualquer um com um mínimo de conhecimento histórico, o que não é o caso do porta-voz de Israel e dos vira-latas da mídia monopolizada. Destaco um trecho:
Antes de criticar a diplomacia brasileira, o porta-voz da Chancelaria israelense, Yigal Palmir, deveria ler os livros de história para constatar que, se o Brasil fosse um país irrelevante, do ponto de vista diplomático, sua nação não existiria, já que o Brasil não apenas apoiou e coordenou como também presidiu, nas Nações Unidas, com Osvaldo Aranha, a criação do Estado de Israel.Talvez, assim, ele também descobrisse por quais razões o país que disse ser irrelevante foi o único da América Latina a enviar milhares de soldados à Europa para combater os genocidas nazistas; comanda órgãos como a OMC e a FAO; abre, todos os anos, com o discurso de seu máximo representante, a Assembleia Geral da ONU; e porque — como lembrou o ministro Luiz Alberto Figueiredo, em sua réplica — somos uma das únicas 11 nações do mundo que possuem relações diplomáticas, sem exceção, com todos os membros da Organização das Nações Unidas.
Agora Paulo Moreira Leite informa que o novo presidente de Israel Reuven Riulin, telefonou para Dilma Rousseff para se desculpar pela grosseria do porta-voz de Israel. Como eu disse, quem tem juízo respeita o Brasil e sua história e importante diplomacia.
DESCULPAS DE ISRAEL RIDICULARIZAM VIRA-LATAS BRASILEIROSPor Paulo Moreira Leite, em sua coluna
12/08/2014
Depois que o próprio Reuven Riulin, o novo presidente de Israel, telefonou para Dilma Rousseff para pedir desculpas, não custa recordar a reação dos adversários do governo brasileiro, que há duas semanas se alinharam com o porta-voz da chancelaria israelense que definiu o Brasil como “anão diplomático.”
Em poucas horas o Brasil foi inundado por vídeos, artigos e comentários de ar grave, palavras duras e retórica pedante, de grande utilidade para encobrir uma postura típica de vira-latas. Falou-se que era uma definição com “incrível precisão” de nossa diplomacia. Mesmo quem admitiu que a postura do governo brasileiro diante dos ataques do Exército Israelense a Gaza podia estar certa, justificou o “anão diplomático” porque o Itamaraty carece “de credibilidade mesmo quando faz declarações corretas.”
O telefonema de Riulin mostra com precisão realmente incrível o ridículo dessa reação. Para azar de quem levou o “anão diplomático” a sério, a atitude do presidente de Israel deixa claro que era uma definição menor, de um funcionário sem qualificação para emitir conceitos em nome do governo, alguma coisa que se poderia chamar de “gafe” — o que torna ainda mais curioso que tenha sido aceita e divulgada com tanta facilidade. Riulin deixou claro pelo gesto que o Brasil está longe de desempenhar um papel desprezível na diplomacia do século XXI, para infelicidade daqueles que enxergam o mundo pelo olhar da inferioridade e da submissão.
Mais realistas do que o Rei a quem pretendem servir — estou falando da direita republicana dos EUA, que sustenta Israel de qualquer maneira –, procurando qualquer pretexto para bater no governo Dilma, eles se alinharam com Yigal Palmor, que fala em nome do chanceler Avigdor Lieberman, a mais acabada expressão do fascismo na política israelense.
Principal adversário de toda iniciativa de paz, Lieberman defende a manutenção e ampliação de assentamentos em territórios palestinos. Sustenta uma política de discriminação em relação a população árabe que reside em Israel. Chegou a apresentar um projeto pelo qual ela só teria direito a voto, por exemplo, se fizesse um “juramento de lealdade” ao estado judeu.
Foi desse mundo obscuro, vergonhoso e inaceitável, sem o menor compromisso com a democracia nem com a soberania dos povos, que veio o termo “anão”.
Não é surpreendente que ele tenha sido abraçado por aliados da oposição, capazes de afagar até adversários externos que — mesmo se estivessem corretos em seu ponto de vista — não tinham o direito de faltar com consideração por autoridades legitimamente autorizadas a falar em nome do povo brasileiro. O desrespeito e a agressividade são chocantes, mas não chegam a ser novidade neste repertório. Fazem parte da tentativa de desmoralizar adversários que não se consegue derrotar democraticamente. Tenta-se corroer sua legitimidade ao partilhar um tratamento grosseiro, chulo, que, a seus olhos, tem mais valor porque vem do estrangeiro.
Convém não esquecer que, há quatro anos, esse mesmo pessoal alinhou-se aos mesmos senhores externos condenar Luiz Inácio Lula da Silva em sua tentativa de construir um acordo de paz com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad. A viagem de Lula havia sido autorizada e até certo ponto estimulada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que enfrenta tensões com a atual política de Israel, tão radical e extrema que pode tornar-se prejudicial aos interesses norte-americanos. Mesmo assim, os vira-latas não perdoaram.