Maringoni e outros quadros da esquerda de valor neste país merecem todo o nosso respeito. Sabem que não se faz política alimentando ódio, ressentimento e soltando bílis pela goela.
Dia desses ele fez uma charge que todo governista generalizador que detrata o PSOL e todo psolista que endossa o anti-petismo da direita ficaram desconcertados, alguns psolistas só faltaram propor sua expulsão.
Charge de Maringoni para o Jornal da Federação Nacional dos Engenheiros, via Facebook
Por essa postura votei em Gilberto Maringoni nas últimas eleições para vereador em São Paulo, pois além de um ativista pela democratização das comunicações não lhe falta honestidade intelectual. Por isso desprezo gente desrespeitosa e sectária que não consegue ver a qualidade das pessoas e não respeita suas escolhas partidárias e sequer conseguem compreender: é o projeto político, estúpido, é o projeto de país que interessa!
Política
Eleições 2014
O inimigo é a velha direita e não o PT, diz candidato do PSOL em SPGilberto Maringoni minimiza disputa interna no partido e promete não repetir ataques do PSOL ao PT na disputa em São Paulo. “O petismo pode não ser de esquerda, mas o anti-petismo geralmente é de direita”
por Renan Truffi , Carta Capital
29/05/2014
O historiador e cartunista Gilberto Maringoni, candidato a vereador pelo PSOL em São Paulo em 2012, teve de “atender a um chamado” do partido na última semana. O professor de filosofia da USP Vladimir Safatle [colunista de CartaCapital], que postulava a candidatura ao governo pelo PSOL, desistiu da disputa em meio a duras críticas contra o diretório estadual. As reclamações foram de que a legenda não tratou sua candidatura como prioridade e, consequentemente, não se engajou para levantar fundos. Maringoni, então, aceitou o desafio de assumir o posto de pré-candidato do PSOL no lugar do colega, a cinco meses das eleições. Professor na Universidade Federal do ABC, ele defende que não se trata de uma candidatura “tapa-buraco”. “Essa é uma forma menos elegante de falar suprir a demanda. Eu atendi um chamado. Não estou tapando buraco, não”.
As condições para realizar a campanha ainda são as mesmas que foram decisivas para a desistência de Safatle. O PSOL não tem dinheiro em caixa e o historiador terá de sair “passando o chapéu” em busca de financiadores de campanha. Maringoni, entretanto, ameniza o conflito interno na sigla. “Essa questão [acusações de Safatle contra o PSOL] esquentou um pouco além da conta, mas nenhum fusível foi queimado. Não me parece que tenha inviabilizado a campanha”, afirma.
Com 18 anos de militância pelo PT, Maringoni tem um perfil um pouco diferente de outros candidatos lançados recentemente pelo partido. Os eleitores não devem esperar dele uma postura parecida com a do então candidato à Presidência pelo PSOL em 2010, Plínio de Arruda Sampaio, que atacou constantemente a hoje presidenta Dilma Rousseff (PT) em entrevistas e debates durante o pleito. Maringoni não tem problema em reconhecer os avanços dos governos Lula e Dilma. Ao contrário. Ele rejeita o “anti-petismo”, mas também não gosta da fama de ser considerado o mais petista dos membros do PSOL.
“Essa piada é genial”, ironiza, apesar de admitir que vai focar suas críticas nos tucanos. “O inimigo continua sendo a velha direita. Embora o PT concilie com isso, seja frouxo para combater isso, ainda é muito diferente da velha direita. Até porque sua base social é muito diferente. Aí que não critico o PT. O petismo pode não ser de esquerda, mas o anti-petismo geralmente é de direita”, defende. Confira a entrevista de Maringoni a CartaCapital.
CartaCapital: Como foi a decisão para sua candidatura? Você foi convocado depois da desistência do Safatle?
Gilberto Maringoni: Eu sou filiado ao PSOL desde 2005. Fui da direção nacional. Coordenei a campanha do Plínio. O Safatle entrou no PSOL em setembro de 2013 e foi logo unanimidade no partido porque era uma chance de sinalizar para quem não é militante tradicional do partido. E o Safatle tem um detalhe interessante porque é um intelectual que faz um debate político mais amplo, um debate cultural da política. Não fica explicitamente na questão governo contra governo, PT contra PSDB, que em outros tempos nós chamaríamos de um debate ideológico. Ele escreve muito sobre os movimentos de junho. Aí ele propôs também uma coisa de muito interesse, que é um seminário com acadêmicos sobre ideias para o plano de governo. E, pelo que eu entendi, não acompanhei isso, não sou do diretório estadual, nacional, é que ele estava na dúvida de lançar a campanha. Não sei se por questões materiais. Não sei ao certo. E só aí me convidaram. Insistiram e eu falei: ‘tá bom’. Eu topei para fazer o debate. Foram vários dirigentes estaduais do PSOL que me chamaram. Fui candidato a vereador, fazer campanha é uma coisa muito boa. Você conhece a cidade, conhece um lado que geralmente não conhece. É uma vivência que eu não tinha tido [até 2012] e que é ótima. Você dá sua cara a tapa. Mas campanha a vereador é uma escala micro em relação a uma candidatura ao governo do Estado. O que me atraiu é saber que vou poder debater projeto, embora saiba que em campanhas como as nossas, com tempo mínimo de TV, as nossas únicas chances são nos debates televisivos. Mesmo assim é interessante você discutir um projeto maior. Aí que decidi aceitar. Depois de aceito é que teve esses problemas da semana passada [declarações do Safatle]. Não tenho vaidade. Estou com 55 anos. Milito desde os 19 anos. Militava na ditadura, participei de movimento estudantil, de partido. Então estou cumprindo uma tarefa cívica e democrática que qualquer cidadão pode cumprir.
CC: A impressão que ficou com a polêmica é que você foi convocado às pressas pelo partido. Sua candidatura é ‘tapa-buraco’?
GM: Tapa-buraco é um pouco menos elegante de falar suprir a demanda. Você pode dizer que a CartaCapital tapa um buraco de revistas politizadas. Sim, ela supre uma demanda. Eu atendi um chamado. Se você quiser chamar de tapa buraco, não é o mais elegante, mas eu não estou tapando buraco, não. Até porque tem muita gente no PSOL para suprir a demanda. Eu fui convencido, aceitei e agora estou achando que vale a pena. Sem ilusão nenhuma de resultado. Sem projeção de interesse pessoal. Eu vou me licenciar [da Universidade Federal do ABC] para cumprir essa tarefa. E é uma situação extremamente delicada que o País está passando agora que é uma ofensiva brutal da direita. E é uma ofensiva internacional. Eu não gosto de teoria da conspiração, mas os resultados das eleições europeias [mostram isso], principalmente na França, na Inglaterra, onde a extrema direita nunca teve tanta força. Isso além das eleições aqui na Colômbia, onde você teve um baixo comparecimento e polarização entre direita e extrema-direita. É uma situação que para nós coloca um quadro preocupante na América Latina.
CC: Uma das críticas que o Safatle fez, após o problema com o PSOL, é que a esquerda fica muito presa a “disputas internas”. Você acha que a esquerda não está madura no Brasil?
GM: Disputa interna tem dentro da direita e da esquerda. A disputa do Aécio e do Serra é histórica. Você organizar o seu time sempre gera uma disputa interna. O problema é que as disputas da direita são sempre abafadas pelo dinheiro ou por alguma liderança maior. É muito sintomático que o PSDB aqui em São Paulo há 20 anos só tenha dois candidatos. O Alckmin, quando terminar esse mandato, vai estar há 9 anos como testa do governo. Isso é sinal de competência? Não, isso é sinal de falta de renovação. O quadro secundário deles é formado por gente como Robson Marinho ou Bruno Covas, figuras secundárias. Se a disputa é fratricida é óbvio que ela é negativa. Agora a disputa em si, ela existe e é saudável. Eu acho que essa questão[acusações de Safatle contra o PSOL] esquentou um pouco além da conta, mas nenhum fusível foi queimado. Não me parece que tenha inviabilizado a campanha. Até porque o PSOL não tem aparelho, não tem máquina. Apesar de que, pelo tamanho, é um partido que tem uma presença além do que é o seu peso orgânico: três deputados federais, um senador, um deputado estadual, um vereador...
CC: O Safatle também criticou o partido por ser refratário em relação à necessidade de montar uma “aliança de frente de esquerda”. Como você avalia a esquerda pós-PT, como disse o Safatle?
GM: Primeiro, acho que não estamos numa era pós-PT. Eu acho que a época do PT não passou. Pós-PT é uma imprecisão. Você pode falar em pós-PCI (Partido Comunista Italiano), mas o PT está aí. Você também pode falar que há uma discordância em relação a algumas diretrizes. O que eu acho é o seguinte: o que nós tivemos com a ida do PT ao governo é que tivemos uma paulatina guinada de adequação ao status quo. O governo representa grandes avanços para a sociedade brasileira. Não sou daqueles que acha que você tem que ser anti-PT. Agora o PT, embora tenha feito grandes avanços, não tocou em nenhum interesse das classes dominantes. Não fez nenhuma reforma que penalizasse as grandes fortunas, não penalizou o capital financeiro, não fez reforma agrária, não fez reforma urbana para minimizar o efeito da bolha imobiliária que há em algumas grandes cidades. Então é uma ação muito aquém do que podia ser feito, mas é um avanço. O que colocamos é que essas reformas que foram postas de lado precisam ser feitas, e é o meu entendimento. Não sei se é o entendimento do PSOL. Agora o inimigo, o adversário mesmo, continua sendo a velha direita. Embora o PT concilie com isso, seja frouxo para combater isso, ainda é muito diferente da velha direita. Até porque sua base social é muito diferente. Aí que não critico o PT. O petismo pode não ser de esquerda, mas o anti-petismo geralmente é de direita.
CC: Você acha possível uma frente de esquerda? Por que os partidos de esquerda, como PSOL, PSTU e PCdoB são tão divergentes?
GM: Sobre o PSTU, nós disputamos uma base social muito semelhante. Seria de se estranhar se não tivessem rusgas, um falando mal do outro. São partidos que estão disputando o mesmo espectro. É o espectro do movimento sindical e do movimento social radicalizado, e você tem que chegar chegando. Tem que chegar disputando. Isso vai gerar cotovelada. Como nos anos 1950, tinha o PTB, que era uma esquerda getulista e o PCB que era uma esquerda comunista e os dois viviam às turras. Mas volto a dizer o quadro nosso não é um quadro autofágico da esquerda. A gente discute uma frente de esquerda. Talvez saia. Claro que é possível. A relação dos partidos é igual de irmão. Eu vivia de cotoveladas com meu irmão, mas a gente se entendia. É meu irmão.
CC: O senhor é visto com o mais petista dos integrantes do PSOL. Como uma pessoa com esse perfil pode liderar uma frente de esquerda depois que o PT chegou ao governo?
GM: Essa piada é genial. Ué, eu fiquei no PT 18 anos. Se eu quisesse ser petista, ia no PT com todo conforto. Seria bem tratado, não teria problema algum. O que eu acho é que temos que fazer uma política de disputar com o PT uma base popular. Eu não concordo com a política macroeconômica do PT. Não concordo com a aliança com o sistema financeiro, feita via taxa de juros. Não concordo com as privatizações que a Dilma está fazendo, com a aliança com o agronegócio, com o governo petista não ter aberto debate pela regulação da mídia, que é um escândalo. Eu não concordo com nada disso. Mas qual é a base social do PT? Os trabalhadores. A maioria dos sindicatos são simpáticos ao PT, os pobres brasileiros votam majoritariamente no PT. Você tem importantes setores do movimento popular organizado, uma série de ONGs progressistas que, mesmo achando que não dá mais com o PT, vão votar no PT para impedir o crescimento da extrema direita aqui no Brasil. O que eu tenho que fazer? Falar mal do PT ou fazer esse trabalho de disputar essa base social? Então vou disputar essa base social e dizer o seguinte: ‘olha quero conversar com vocês’. Não adianta espancar o PT, dizer que é o demônio na Terra porque aí eu brigo com a base social.
CC: Mas é possível ganhar essa base social com esse discurso, sem atacar o PT? Como tornar possível uma conjuntura de uma “nova esquerda” com esse discurso?
GM: Eu não consigo entender essa coisa de nova esquerda. O PT é o PT que é porque tem base social. Tenho que disputar essa base social, não ficar brigando. Eu tenho que saber ter diálogo, linguagem, abordagem com essa base social. Isso é muito mais radical do que ficar falando que o PT é isso, aquilo e tal. O que adianta eu xingar o Lula? Posso xingar, mas efetivamente isso é muito pouco. Senão você fica no denuncismo, ganha uns votinhos, mas não entra na disputa real.
CC: E é possível conseguir crescer e ganhar espaço só com essa ação política, sem se mostrar diferente do PT?
GM: Nós somos diferentes do PT. Nós não recebemos doação de empreiteiras, de bancos. Nós temos na política econômica questões essenciais para nos diferenciar do PT. A principal sangria é o pagamento da taxa de juros. O Brasil tem uma dívida interna de 2 trilhões de reais no total. Essa dívida faz com que o 40% orçamento público vá para o pagamento da dívida. Criança acima de 10 anos de idade sabe disso. O nosso problema não é o montante da dívida, que é baixa em relação à da Itália, da França. O nosso problema é o fluxo que sai do Tesouro. Esse fluxo é determinado pela taxa de juros que está em torno de 5% em termos reais. Se eu baixo essa taxa, eu piso na mangueira que drena dinheiro. Eu corto o fluxo, e o sistema financeiro pula. Baixar o juros é a medida mais radical que você pode ter na economia brasileira hoje.
CC: E no cenário estadual, o que o PSOL pretende trazer para o debate para se diferenciar do Alexandre Padilha [pré-candidato do PT ao governo do Estado]?
GM: São Paulo tem um terço do PIB brasileiro. Eu estava fazendo as contas. Pelo tamanho do PIB, somos [São Paulo] o 25º país do mundo. Então o peso que São Paulo tem nacional e internacionalmente é muito grande. Um quarto do lucro mundial da Telefônica vem daqui, da área da antiga Telesp. Nos últimos 20 anos, São Paulo foi o laboratório das grandes privatizações da era tucana, e o Estado perdeu capacidade de intervenção na economia e na sociedade. Então essa perda cria um problema sério na oferta de serviços públicos. Sobre a Sabesp, por exemplo, a melhor matéria foi do Fábio Serapião da CartaCapital. Ali fica claro que você destina 58 milhões de reais para os acionistas. Mas por que você destina isso? Porque você não privatizou a Sabesp. Você a transformou numa empresa mista com 40% das ações em mãos privadas. Quando você faz isso numa empresa de capital aberto, tudo bem. Numa empresa de serviços públicos implica você não investir o lucro para a empresa se renovar. Esse é um problema básico de São Paulo que de certa forma está em todo o Brasil. Precisamos recuperar o caráter decisório do Estado nas empresas estatais. E tem outras questões. O aparato de segurança em São Paulo está fora de controle. Não é só uma questão do governo Alckmin ser a favor da truculência. Você precisa desmilitarizar a polícia, rever as relações entre comando e base da polícia, fazer um processo de readequação do aparato policial. Geralmente em países com discrepância de renda muito acentuada os aparatos policiais são violentos. Então também precisamos atacar a disparidade de renda. Não é a pobreza que é violenta, é a diferença de renda. Nenhuma dessas tarefas você faz com um decreto de saída, mas, se você não abre essas picadas, você não atende as demandas de junho na sua raiz, que é a ineficiência dos serviços públicos.
CC: Você levantou duas bandeiras que também devem ser o foco da campanha petista em São Paulo contra os tucanos: água e segurança. Mas apontando para soluções mais radiciais. É isso o que quer dizer com conversar com a base social do PT?
GM: O que o PT vai propor? Eu fico aqui pensando. Vai pegar financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a Sabesp? Mas injetar dinheiro na Sabesp não vai resolver. Essa é a medida tradicional que o PT tem feito. Essa medida bateu no teto. Então, ou você muda a característica da empresa ou retoma o controle para ampliar sua influência dentro da empresa para que você não fique refém da distribuição do lucro. Senão, não vai adiantar. Vão colocar dinheiro e vai ficar num saco sem fundo.
CC: Um dos motivos que fez o Safatle desistir foi a falta de dinheiro no caixa do PSOL. Ele disse que levantou com a ajuda de apoiadores 300 mil reais mas falou que só com esse valor é pouco para uma campanha de governador. Você concorda? Como vai ser sua campanha se o partido não tem dinheiro?
GM: Ele está correto no que fala. Essa quantia de 300 mil reais é modesta para uma campanha para governador. Se você pensar que as candidaturas de PT, PSDB e PMDB vão ficar entre 50 e 80 milhões de reais numa conta modesta, 300 mil reais não é nem uma campanha para vereador em São Paulo. Em 2012 algumas campanhas a vereador do PSDB estavam orçadas entre três e seis milhões de reais. Isso na capital paulista. A questão é que o PSOL não tem esse dinheiro agora. E esse dinheiro no PSOL não é um dinheiro que se possa ter na mão, dinheiro vivo. E você tem uma pulverização de candidaturas a deputado estadual e federal, você tem Ivan Valente, Giannazi e uma série de candidatos que acabam potencializando a campanha. É como se você tivesse até mais do que 300 mil reais pulverizados na ação politica, em gente que trabalha voluntariamente. E o nome do governador sai em todo material de campanha de deputado. Em termos absolutos, eu acho que vamos ter por aí mesmo, mas não em dinheiro vivo. E claro que vamos passar nosso chapéu para os amigos. Mas vamos fazer essa campanha militante. Estamos loucos, malucos? Não, não estamos. Esse é o caminho. Se a gente não sai candidato, perdemos nossos deputados e a gente fica com isso aí: com o PT cada vez mais semelhante ao PSDB nas politicas, embora tenham bases diferentes. E, em uma situação mais adiante, podemos ter um cenário como o da Colômbia. Não estou dizendo que o PT é de direita.
CC: Você falou da importância dos candidatos a deputado federal e estadual para a campanha de governador. Uma questão que o Safatle levantou é que, no PSOL, a candidatura a governador não parece ser prioridade. Você concorda?
GM: Não existe essa questão. Claro que temos mais chances nas proporcionais, mas sem uma candidatura com o mínimo de viabilidade, não daria [para lançar candidato]. Eu não sou nenhum sujeito conhecido, mas eu sei fazer campanha. Você tem que casar as duas coisas, tanto que o primeiro candidato nosso foi o Plinio de Arruda Sampaio, que era um candidato histórico. A gente sabe o tamanho do nosso chinelo, mas não tem esse negocio de prioridade, tapa-buraco. Claro que vão falar que eu sou o mais petista do PSOL. Ao contrário, acho que vamos fazer a campanha mais radical do PSOL, que é disputar a base social do PT.
CC: Você se considera mais radical que o Safatle ou que outros nomes dentro do PSOL?
GM: Eu não vou me comparar. Eu acho ele brilhante. Não tenho um 'radicalômetro'. Eu acho que vou mostrar os limites do PT, mas especialmente as diferenças com o PSDB. Vou mostrar aquilo o que o PT não pode falar, porque privatização não é mais uma diferença entre PT e PSDB. Vou ter que mostrar a questão trazida pelos movimentos de junho. Isso o PSOL faz sempre. Eu tenho dúvidas de que vamos ter movimentos como aquele de novo. Eu acho que os movimentos mudaram de qualidade, como no caso dessas greves dos garis e dos motoristas fora dos sindicatos. Você não pode fazer como o Haddad de dizer que é um movimento de guerrilha. Ele pode discordar do tipo de ação que os trabalhadores fizeram, mas acusar de terrorista é meio exagero. Isso é novo, essas estruturas institucionais, como a própria instituição sindical, estão sendo questionadas. Esse é fenômeno social novo, que é a saída desses canais existentes, conquistados há 30 anos. Todas que andavam em paralelo ao PT.
CC: O Safatle reclamou que o PSOL não pode se contentar com 2% dos votos nas runas. Segundo ele, o partido tem que colocar 6% dos votos como meta. Esse seria um dos desentendimentos com o diretório estadual que provocaram a desistência. Como o senhor vê essa questão? Quanto pretende conquistar de votos nas urnas?
GM: Claro eu queria que o PSOL tivesse até mais do que 6%. O PSOL teve em 2006 uma conjuntura especial, que foi 6% dos votos com a Heloísa Helena. A gente teve 5% em Fortaleza. Tivemos 33% com o Marcelo Freixo. Ganhamos no Macapá. Brasília teve 15%. Aqui a gente fica em torno de 1%. É o eleitorado mais difícil porque o poder econômico está aqui. Eu gosto de 1%? Não gosto. Se eu ficar pensando nisso, eu não faço campanha. Eu quero ganhar. Mas não vou colocar uma meta porque posso me frustrar ao ver que minha meta era muito modesta se eu ganhar as eleições.
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