Mulheres – entre a barbárie e os direitos. No Blog do Paulo Fonteles Filho 22/10/2014
Por Angelina Anjos
A linguagem do sofrimento é menos original do que se pensa e por isso tão abrangente. Na vivência das mazelas perpetradas pela humanidade, todos e cada um acreditam-se idênticos. Talvez seja o motivo da nossa pouca tolerância com a miséria alheia. Isto mesmo, pouco tolerante.
A exemplo, mãe acorrenta o filho para que ele não consuma drogas.
Olhamos e ficamos passivos. Escutamos e não escutamos com semblantes de mentecaptos.
Por outro lado a linguagem do prazer é original. Sexo, política e futebol – isso escutamos. Com o gozo nos olhos e nos lábios. Treinaram nossa escuta, não ligamos o sofrimento da mãe que acorrenta o filho, com o sarcasmo dos barões do tráfico de drogas.
Diante da apreensão pela Polícia Federal de 450 Kg de pasta base de cocaína num helicóptero de um dos correligionários - desses figadais - do tucano Aécio Neves e a ‘naturalização’ dada pela odiosa grande mídia que aqui reforça a impunidade, revelando que seus padrões são sempre muito perigosos, de dois pesos e duas medidas.
O caso expressa que tanto os jornalões, como os batráquios dos programas policiais – desses imundos que dizem que direitos humanos é coisa de bandido – querem mesmo é fazer fuzilaria nas favelas, sempre contra os mais pobres, sempre jovens, negros, habitantes de nossas imensas periferias.
O que eles querem é reduzir a idade penal e, ao invés de escolas, construir cadeiões.
Sinto a dor de suas lamentações e revolta com a impunidade. E a impunidade, caríssimas, têm cifrões.
A era Lula-Dilma, 12 anos de prosperidade social, infelizmente, não chegou às togas e aos salões, nada higiênicos, da justiça brasileira.
A mãe que acorrentou o filho também acorrentou sua própria alma e assim o fez porque, ele solto, morto seria pelo vício, pelo tráfico ou pela polícia. Não poderia haver amor mais incondicional, desses que nenhum homem entende, até os melhores, de mãe para filho.
Falo isso porque sou mãe, filha, irmã, amiga e companheira de um homem.
E no curso desse sentimento vamos formulando nosso processo feminino, maternal, profissional, sentimental, diante de muitos entraves enfrentando doses cavalares de machismo dentro e fora dos nossos lares.
Somos ainda amordaçadas, traficadas, vítimas de cárcere privado, assassinadas, ocultadas, inferiorizadas e maculadas por concepções do tipo Malafaia que nos secundariza na vida pública, seja nos salários, na representação política e nos direitos.
Mas esse é um período histórico onde as mulheres podem protagonizar um beijinho no ombro do pátrio-poder porque mulher que se preze tem que ter a espingarda de uma Maria Bonita ou a consciência de Bertha Lutz, fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, de 1922.
Elas estão aqui e dizem aos nossos ouvidos que devemos travar a luta para eleger Dilma porque na governança brasileira não há lugar mais para a misoginia e espancadores de mulheres.
Queremos mais direitos e respeito. A adversidade fez-nos muitas e deixamos de existir como indivíduo, solitárias e passamos a fazer parte de um contingente humano mais numeroso, economicamente forte, heterogêneo e com um protagonismo capaz de assegurar, em boas mãos, os destinos do país. Mas isso só se resolve se entendermos e alastrarmos a nossa participação eleitoral e política.
Temos a tarefa civilizatória de nos ensinar e ensinar aos homens aquilo que Cora Coralina, linda, nos ensinava: “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”
E decidimos por Dilma!
Créditos da Foto da capa do post: Jornal "Tribuna da Luta Operária", Fonte Grabois