Fonte: http://pesqele.tse.jus.br/pesqele/publico/pesquisa/Pesquisa/visualizacaoPublica.action?id=28424Até tu, Valor Econômico?
Por Roberto Vasques* e Felippe Ramos**
Às 14h desse 14 de outubro, os fatos pareciam não deixar dúvida: o Jornal Valor Econômico havia aderido a Campanha de Aécio. Ou não?
Vamos aos fatos.
Com direito a manchete em sua página de internet e retuitada ao instante, a matéria “Rumores eleitorais tornam a rondar mercados; Bovespa e dólar sobem”, do Jornal Valor Econômico (cujos donos, cabe lembrar, são Grupo Folha e Organizações Globo com cotas iguais de 50%) anunciava um "rumor" que teria impactado no ânimo dos "mercados" e justificaria a subida repentina do dólar e da Bovespa no final da manhã desta quarta-feira: Aécio apareceria 8 pontos na frente de Dilma na pesquisa do Datafolha (cujo único dona é o Grupo Folha) com resultado previsto para ser anunciado na quinta-feira, 15 de outubro. Qual seria o espanto? O fato da pesquisa ter sido contratada em parceria justamente pela Folha da Manhã e a Rede Globo?
Não, a endogamia total entre Folha e Globo não é o problema em questão. Muito menos o fato de Globo e Folha, contra todas as evidências (ai está o manchetômetro da UERJ), não assumirem suas predileções políticas – embora nesse caso nos pareceria mais honesto e republicano se seguissem o modelo de grande parte dos órgãos de imprensa internacional e assumissem em editorial sua posição política, uma vez que ela existe e é mais ou menos clara.
O leitor já cansado desta prosa nos perguntaria ansioso? Afinal, qual o incômodo?
Ora, uma rápida busca no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esclarece a questão: segundo o Tribunal, a referida pesquisa do Datafolha (protocolo no TSE número BR-01098/2014), encomendada por Folha e Globo, tem prevista a realização das entrevistas e tratamento dos dados para os dias 14 e 15 de outubro, com a publicação dos resultados, como de costume, no Jornal Nacional, na noite do próprio dia 15.
Ora, como foi possível “vazar” para os “mercados”, na hora do almoço do dia 14, uma pesquisa ainda a ser realizada ao longo dos dias 14 e 15? É difícil imaginar que tivesse havido tempo hábil para o Datafolha realizar as previstas 9260 entrevistas (ao menos parte relevante delas) ao longo de uma manhã, processar os dados, chegar a algum resultado parcial e que os mesmos supostamente tivessem sido “soprados” aos mercadeiros de plantão. Ou será que estamos tão por fora da dinâmica do trabalho de pesquisa que o Datafolha já no final da manhã do primeiro dia (em cerca de 4h) tem boa parte de sua amostra realizada e tratada e passível de ser alvo de um vazamento? Ainda que o diretor do Datafolha afirmasse que tecnicamente é possível chegar a essas conclusões em uma manhã, seria o caso de ganhar tanto destaque (manchete e twitter) justamente em um órgão de imprensa, o Valor Econômico, pertencente a Globo e Folha? Não estaria mal se o Datafolha e Valor Econômico se pronunciassem a respeito. A matéria do Valor foi assinada por 4 jornalistas. Eles queriam compartilhar a fama do “furo”? Ou a intenção foi proteger-se, em coletivo, ao anunciar algo tão escandaloso? Com a palavra, o Valor Econômico.Fonte: http://www.valor.com.br/financas/3734826/rumores-eleitorais-tornam-rondar-mercados-bovespa-e-dolar-sobem *Roberto Vasques e doutorando em Ciência Política e **Felippe Ramos é sociólogo