Moradores de Itaquera já lucram com a Copa
Comerciantes investem em bares pensando em uma boa receita na época do Mundial no meio do anoTAMIRIS GOMES, especial para o Diário04/01/2014 21:40
Foto: Luis Blanco / Diário de SP. Dona Adelina prepara, por dia, 30 pratos de comida; Negócio tende a crescer
Antes do meio-dia o pequeno restaurante da autônoma Adelina Pereira, de 36 anos, já começa a receber os pedidos dos funcionários das obras de ampliação da Radial Leste, do conjunto de viadutos e do Itaquerão, estádio de abertura da Copa do Mundo este ano.
Com o início das reformas viárias, em 2011, e da construção do estádio na Zona Leste, Adelina enxergou ali uma forma de gerar renda sem sair do bairro. Seu estabelecimento fica na Avenida Miguel Ignácio Curi, a 500 metros do local e, com um fogão de quatro bocas, ela prepara por dia cerca de 30 pratos, fora lanches e quitutes.
“Além de algumas pessoas da comunidade, os que mais vêm aqui são os trabalhadores das obras. Eles dizem que a comida de lá é ruim. Antes eu vendia dez pratos, hoje são 30”, conta Adelina, enquanto embalava uma das seis marmitas que seu marido, com uma Parati marrom, entregaria num dos canteiros de obras. O faturamento atual bruto chega a R$ 210 por dia.
A clientela, por sua vez, aprova a qualidade da refeição servida. “Aqui é comida caseira, com aquele tempero bom, tudo por apenas R$ 7”, comenta um dos funcionários, que preferiu não se identificar. De acordo com a SPCopa – comitê especial da Prefeitura –, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da região de Itaquera segue entre os mais baixos dos 96 distritos paulistanos, na amarga 76 posição. Mas driblando as estatísticas, a população local é otimista e confia na perspectiva de crescimento urbano e econômico trazido pela realização da Copa e das novas estruturas do arredor, a construção de uma Fatec, um Senai, um centro cultural e um parque tecnológico, para citar alguns exemplos.
O comerciante Elison dos Santos, de 30 anos, é um dos otimistas. Há seis meses alugou um imóvel na Avenida José Pinheiro Borges, a menos de um quilômetro do estádio, e montou um bar de esquina. “Minha mulher já arranha um inglês”, disse, ao confirmar que está pronto para receber os turistas. Incentivos fiscais e expansão do comércio local Em 20 de dezembro do ano passado, a Prefeitura de São Paulo sancionou a lei que institui o Programa de Incentivos Fiscais para prestadores de serviços estabelecidos ou que vierem para a região da Zona Leste, na carona da Copa do Mundo, período em que os olhos empresariais estão todos voltados para essa região, principalmente Itaquera. A rede de fast-food Subway, por exemplo, possui duas lojas em Itaquera e neste ano pretende abrir mais uma unidade. O shopping do bairro, localizado em frente ao estádio, aumentará dois andares em 2014. Com isso, mais marcas poderão se instalar na região. Outra novidade: segundo a coordenação de marketing do shopping, funcionários estão recebendo cursos gratuitos de inglês.
Análise Marcelo Sinelli, consultor de marketing do Sebrae Investimento sem tirar os pés do chão
Não se pode pensar em um negócio que dure apenas trinta dias. É preciso que ele tenha uma continuidade, que seja sustentável. Por isso, é preciso planejar a longo prazo na hora de investir na Copa – um olho no amanhã e outro no ano que vem. Esta Copa do Mundo está sendo caracterizada como a Copa da família. Pela distância, esse estrangeiro não viajará ao Brasil para ficar poucos dias. Ele virá com a família e esse perfil de turistas carregará consigo outros interesses e maior capacidade de consumo.
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