O que aconteceu ontem em São Paulo na chamada região da Cracolândia passou todos os limites . Todos.
Precisamos recordar que vivemos sob um Estado de exceção em São Paulo, um Estado que provocou Mães de Maio, ao assassinar quase 500 pessoas com a desculpa de reação ao PCC em maio de 2006. Um Estado que desalojou cerca de 9000 pessoas - Pinheirinho - em benefício de um especulador que quebrou a bolsa de valores . Um Estado que em matéria de saúde pública e mental sempre agiu na Cracolândia com a força das armas.
Mas este Estado ontem agiu à revelia das instituições, atropelou um comando de um ente federativo e criou uma crise institucional.
Não é possível que a Polícia Civil aja à revelia de um comando superior, policiais civis não entrariam atirando numa área com profissionais da prefeitura trabalhando, deixando várias pessoas feridas sem que recebesse ordem superiores e sem que o governador tivesse informação e desse autorização para esta operação.
Este governo aloprado atropelou o comando do prefeito Haddad.
Haddad, o republicano, soltou nota de repúdio. Mas isso não é nada diante da gravidade da situação e um prefeito (ao menos que ele também se torne um fora da lei) não pode fazer nada , pois para isso existe Ministério Público, existe Justiça pra punir um governador que atropela um prefeito.
Por isso a minha questão: O que farão os órgãos competentes capazes de tomar uma medida coercitiva contra este Estado opressor, truculento que só age contra a população que deveria proteger?
O governo tucano pode com sua polícia truculenta agir impunemente e eternamente?
O que farão os ativistas da saúde mental que cobram sempre ações concretas do Ministério da Saúde, dos governos e que agora têm, pela primeira vez na história da cidade, uma efetiva política de tratamento aos dependentes químicos da Cracolândia que entrava governo saía governo eram tratados menos que bichos?
O que farão os ativistas dos movimentos sociais, especialmente do movimento negro tão críticos ao PT, já que esta população de desassistidos é majoritariamente negra?
O que fará a Justiça que só legisla a favor dos poderosos impedindo o mesmo prefeito de aplicar imposto redistributivo na cidade?
O que fará o Ministério Público formado de Demóstenes e Zagallos?
O que fará a sociedade civil não embrutecida, que ainda não naturalizou a barbárie?
A imprensa tucana hoje já fez press release em defesa do governador justificando a ação aloprada da polícia que passou por cima de um ente federativo criando a maior crise institucional dos últimos tempos.
O que farão todos?
Policiais civis de SP são suspeitos de comandar tráfico na cracolândia
DE SÃO PAULO, Folha24/01/2014 03h45
A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo investiga se parte do tráfico na região da cracolândia é comandada por dois policiais civis, um deles do departamento criado unicamente para combater esse tipo de crime: o Denarc.
Ontem, em busca de informações sobre esses policiais, agentes em um carro da Corregedoria da Polícia Civil acompanharam à distância a operação na região.
A Folha apurou que a prisão desses policiais deve ser acelerada porque a presença desse veículo foi notada, o que pode provocar a fuga dos dois suspeitos.
A Polícia Civil confirmou que um carro da Corregedoria esteve no local. Disse, porém, que o órgão foi acionado pelos usuários da cracolândia, durante a ação policial, por causa de supostos excessos. A operação na cracolândia visava prender traficantes, segundo o Denarc.
A reportagem apurou que, para a cúpula da polícia, a prisão desses suspeitos não tem ligação com os policiais corruptos e, por isso, foi apoiada pela diretoria do departamento e pela Secretaria da Segurança Pública.
A pasta divulgou nota atestando que a ação "legítima".
No texto, o governo também reforçou a versão da polícia de que não foram usadas balas de borracha contra os usuários de crack. Vítimas dizem que houve disparos desse tipo de munição.
'DESASTROSA'"Dez carros da Polícia Civil fecharam a via e fizeram um incursão desastrosa com bala de borracha e bomba", disse o secretário municipal da Segurança Urbana, Roberto Porto, que presenciou a ação da polícia.
A diretora do Denarc, Elaine Biasoli, nega que ação tenha sido desastrada ou que seus policiais tenham utilizado munição de borracha.
Admite o uso apenas de bomba de efeito moral.
"Teve esse confronto por quê? Porque eles vieram para cima. Temos viaturas danificadas, policiais feridos."
Segundo a delegada, as espingardas calibre 12, usadas para disparar balas de borracha, vistas no local estavam descarregadas: "Nós estamos sem bala de borracha. Nós fizemos o pedido, mas elas ainda não chegaram. [A espingarda] Era só para intimidar".
A delegada rebateu as críticas feitas pelo prefeito Fernando Haddad (PT) e negou que operação tenha sido "surpresa".
"Não é operação surpresa. Nós temos ação diária, costumeira, rotineira, na cracolândia. Desde dezembro, prendemos 65 traficantes só na cracolândia."
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