Neste post aqui já havia mostrado a diferença de tratamento quando o rolezinho é feito com subir em mesa de praça de alimentação e xingamentos por jovens brancos bem nascidos e jovens da periferia e em sua maioria negros.
Alunos da FEA sobem nas mesas da praça de alimentação para cantar gritos de guerra usados em jogos universitários Sem repressão ou proibição, estudantes de Economia da Universidade de São Paulo promovem manifestações em centro de compras desde 2007Shopping barra jovens da periferia, mas libera ´rolezinho´ de alunos da USP
Rede Brasil Atual, via SMABC
Leia também:São Paulo – Pelo menos desde 2007, centenas de “bichos” da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) reúnem-se no Shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo, para celebrar o ingresso na universidade: em grupos grandes e barulhentos, sempre entoando os gritos de torcida da atlética da faculdade, eles ocupam o hall de entrada e os corredores, marcham até a praça de alimentação e, lá, seguem pulando, cantando e usando as mesas como instrumentos de percussão. A manifestação, similar à aglomeração causada pelos “rolezinhos” marcado pelas redes sociais para o sábado passado (11) no Shopping Itaquera, na zona leste, administrado pelo mesmo grupo empresarial, é permitida e conta até com patrocínio oficial de lojas; em Itaquera, uma liminar proibiu o encontro dos jovens e causou forte repressão da Polícia Militar.
Em vídeos publicados por alunos da FEA no youtube, é possível acompanhar a aglomeração dos jovens entre 2010 e 2013. Segundo João Meireles, atual presidente da Atlética, deve haver “invasão” no shopping também este ano.
“Para confirmar, só com o Centro Acadêmico, eles é que organizam os pedágios (trote que leva os novos alunos da faculdade para pedir dinheiro nos semáforos)”, afirmou.
As invasões ao shopping ocorrem logo após o fim da coleta dos pedágios, e contam até com apoio de lanchonetes na praça de alimentação: depois de decorar os gritos de guerra da torcida da FEA para os jogos universitários, os estudantes almoçam nos restaurantes parceiros. “Se há acordo com o shopping, eu não sei. Isso é com o CA”, completou Meireles. A RBA tentou contato com diretores do Centro Acadêmico da FEA, mas não obteve resposta.
À RBA, o Shopping Eldorado afirmou que as “invasões” são permitidas porque têm “objetivos muito diferentes” dos rolezinhos convocados pelas redes sociais. “Os alunos da FEA vêm ao shopping, almoçam e depois se concentram para a comemoração, cantando gritos de guerra por alguns minutos, o que não causa tumulto ou desordem”, apontou, por meio de nota. O shopping esclarece ainda que não costuma negociar a realização do evento com os estudantes, mas que a “invasão” ocorre sempre na mesma época do ano e, por isso, é previsível. “Na chegada do pessoal, nossa segurança identifica os líderes e passa algumas orientações para não incomodar os demais convidados do shopping. Depois, acompanha e monitora a ação”, continua a nota.
Dois pesos, duas medidas
Para Kazuo Nakano, professor de Desenvolvimento Urbano e Direito Imobiliário da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a diferença de tratamento dedicada pelos shoppings ao “rolezinho” e à “invasão” promovida por alunos da USP é sintomática da falta de regulamentação do setor. “Não existem critérios claros para o uso do espaço do shopping, que é uma empresa privada, mas de uso coletivo. Hoje, vale a lógica da propriedade e o direito do proprietário de filtrar quem circula em seu estabelecimento”, aponta.
“Agora, se tudo bem quando é aluno da USP, mas o cidadão da periferia gera temor de arrastões, está claro o preconceito. O shopping já é um espaço excludente por conta dos preços para desfrutar dos seus produtos e serviços, e, dessa maneira, segrega ainda mais”, completa.
O professor acredita que é necessário debater a diferença entre os espaços públicos dedicados ao consumo e aqueles dedicados à vida cívica dos cidadãos. “O que vemos em São Paulo, por exemplo, é que praticamente só existem dois tipos de espaços públicos: o de consumo e o de deslocamento, as vias da cidade. Quando vamos falar dos espaços para a vida cívica, estão quase todos deteriorados. Temos lutado para recuperar esses espaços e reverter essa lógica de privatização dos espaços dedicados ao lazer”, pondera Nakano. “Até lá, será comum que as pessoas façam a opção pelo shopping e outros estabelecimentos privados para suprir essa carência.”
Preconceito nos shoppings
Nos últimos anos, uma série de episódios revelam que a discriminação é comum nos corredores dos shoppings brasileiros. Em 2010, o músico cubano Pedro Bandera, 39, foi impedido por seguranças de entrar no shopping Cidade Jardim, na zona oeste, onde tinha uma apresentação marcada em uma livraria – segundo ele, os demais músicos entraram no shopping sem problemas. Já o cubano chegou a ser imobilizado e encaminhado a um táxi que o retiraria do local. Bandera, que é negro, processou o shopping por racismo e foi indenizado em R$ 7 mil após decisão favorável da justiça em dezembro passado.
Já no shopping Center 3, na avenida Paulista, em janeiro deste ano, a transsexual Aline Freitas afirmou que foi abordada por seguranças que tentaram impedi-la de usar o banheiro feminino: ela chegou a entrar no lavabo, mas foi abordada por uma funcionária e retirada por um grupo de oito seguranças.
Na Bahia, à mesma época do episódio em São Paulo, um grupo de 21 funcionárias do shopping Barra, em Salvador, tentou impedir uma lojista transsexual de usar o banheiro feminino, alegando sentirem-se “constrangidas” pela presença da funcionária. Nesse caso, o shopping manifestou respeito pela diversidade e afirmou que não restringiria o acesso da funcionária ao banheiro por uma questão de “dignidade humana”.
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