A classe C da Era Lula vai ao shopping, a burguesia reage e a PM capitão do mato faz o serviço sob a proteção da Justiça!

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Shopping é o templo da classe média alta brasileira (ou que aspira ser), a pele negra só é admitida para lavar banheiros, cozinhar, varrer, fazer a segurança...

Tive alunos que (possivelmente por ouvir de seus pais) quando viam um 'baiano' (é assim que a burguesia paulistana se refere a qualquer um que não se parece com ela) no espaço de consumo privado até então exclusivamente reservado aos com poder de consumo estranhavam e hostilizavam o 'estrangeiro'. Lembro-me que conversei com a classe sobre o direito de ir e vir, sobre racismo, sobre como num país civilizado apartheid sociorracial era condenável. Eles refletiram e se envergonharam de expressar seus preconceitos. E na nossa conversa eu dizia: acostumem-se será cada vez mais frequente a presença de negros, jovens brancos de classe C, enfim, o filhos da era Lula alçados ao mercado de consumo.

Em novembro, em Fortaleza jovens foram reprimidos por segurança, um eles gravou tudo e colocou no youtube e houve alguma manifestação de repúdio na rede, mas também houveram manifestações daquelas que não esconderam seus preconceitos de classe e raça. Em dezembro vários jovens negros foram humilhados em um shopping em Vitória.

Cena secular em país herdeiro da escravidão. Jovens hostilizados pela polícia militar em um Shopping em Vitória. A polícia fazendo segurança privada, dando uma banana para o direito de ir e vir da juventude pobre.

Agora acontece em São Paulo com o descalabro de um juiz que concedeu uma liminar impedindo a entrada dos garotos no shopping. É o apartheid legalizado.

A desculpa é que os jovens promovem tumultos. E é só desculpa já que jovens de classe média, brancos não são incomodados quando sobem em mesas de praça de alimentação, gritam, xingam no meio do shopping.

No depoimento de Vanessa Barbara, a barbárie que esses jovens enfrentam cotidianamente:
No estacionamento do shopping Metrô Itaquera, 11 jovens de bermudas coloridas e tênis chamativos estavam sendo revistados. Tinham um olhar vazio e sem expressão; cederam as mochilas, os documentos e explicaram o que tinham ido fazer ali: dar um "rolezinho". O tenente encarregado da operação não encontrou nada de ilícito nos pertences dos jovens, a maioria negros e menores de idade. Explicou que a polícia estava abordando pessoas que pudessem ter ido para o evento, pois tinha um mandado de proibição. Anotaram nome e endereço de todos e avisaram que, se causassem tumulto, seriam multados em R$ 10 mil. Os adolescentes não me olhavam nos olhos e pareciam resignados. "Não vou embora não, quero ir ao cinema", disse Rodney Batista, 20. No grupo de 11, só um tinha o olhar duro de quem estava engolindo a raiva. Não vi ninguém com armas; ninguém roubando, depredando ou fazendo arrastão. Ainda assim, os lojistas entraram em pânico. Segundo a opinião pública, são bandidos com histórico de crimes; no melhor dos casos, vagabundos que vão lá tumultuar, cometer delitos e assustar "gente de bem". São tratados como tais pelas autoridades: passando pelo corredor, um policial repetia no ouvido de todos: "Vou arrebentar vocês, vou arrebentar" --e plaf, deu um chute em um menino. Pedi: "Licença, gostaria de saber o nome do senhor, ouvi o que o senhor disse e vi o que fez", ao que ele tirou a etiqueta de identificação e escondeu no bolso. Insisti em saber o nome, tentei tirar uma foto, recorri ao tenente e falei com outros policiais --todos identificados. Mas me acovardei e pensei que ele poderia ter ficado assustado por ter sido flagrado, que talvez tenha sido um momento do qual se arrependeu... Pensei também que arrogar qualquer tipo de coisa--"Sou da imprensa, olha só o meu crachá lustroso"-- me rebaixaria ao nível dele, que usou do poder para fazer algo contra alguém mais fraco. Vi gente filmando e sendo obrigada a apagar o arquivo, e a imprensa foi orientada a não registrar o que ocorria. A gente fica só imaginando o que não devem fazer quando ninguém está realmente olhando. (VANESSA BARBARA, COLUNISTA DA FOLHA: Em Itaquera, PM dizia a quem passava: 'Vou arrebentar você')
A culpa deve ser do Sarney.

Apartheid se agrava em São Paulo com intimação contra ‘rolezinho’

Redação Correio do Brasil, de São Paulo 13/1/2014 13:22
O fotógrafo Bruno Poletti, da Folhapress, fotografou o momento em que um PM ameaçava com o cassetete um garoto que integrava o 'rolezinho'

O fotógrafo Bruno Poletti, da Folhapress, fotografou o momento em que um PM ameaçava com o cassetete um garoto, menor de idade, que integrava o ‘rolezinho

São Paulo vive uma nova forma de apartheid (segregação racial e social) após a ação violenta da Polícia Militar e, agora, a intimação da Justiça contra um grupo de jovens, desarmados, que realizou mais um ‘rolezinho’ em um shopping paulistano. Ao todo, 10 desses jovens foram intimados a comparecer à Justiça para explicar sua participação no movimento que gerou a reação violenta de policiais militares e terminou em confusão e violência no shopping Metrô Itaquera, na noite de sábado. Medida liminar da Justiça consolida o estado de segregação e serviu como pano de fundo para a ação violenta da polícia paulista.

Os manifestantes maiores de idade, segundo a assessoria de imprensa do shopping, foram notificados por um oficial de Justiça para falar, em juízo, ainda durante a manifestação no centro comercial. Os jovens deverão prestar depoimento, perante um juiz, e relatar as suas versões dos fatos. Caberá à Corte analisar cada caso e decidir se eles pagarão ou não a multa de R$ 10 mil, prevista na liminar. Segundo o oficial de Justiça responsável por entregar as intimações, os rapazes que receberam o documento foram identificados pela Polícia Militar.

– Quem a PM apontar como participante ou cabeça (líder) do movimento, nós vamos abordar – afirmou a jornalistas o oficial judiciário.

No pico do movimento, cerca de 3 mil jovens ocuparam o centro comercial, em Itaquera. Ao chegarem no shopping, os jovens eram revistados por policiais militares, enquanto o oficial de Justiça anotava os dados pessoais (nome, RG e endereço) dos maiores de idade. No ato da identificação, eles recebiam uma cópia da liminar concedida pela Justiça. Dispostos a desafiar o poder discricionário de policiais e agentes da Justiça, os jovens correram pelos corredores, o que assustou clientes e comerciantes. As lojas fecharam por temor de saques.

Após o ‘rolezinho’, os jovens saíram do shopping com a chegada da PM e dirigiram-se ao terminal Corinthians-Itaquera, onde a Tropa de Choque usou bombas de gás e balas de borracha para dispersá-los. Três pessoas foram detidas e houve vários feridos.

Resistência A resistência dos jovens negros não começou neste sábado A resistência dos jovens negros não começou neste sábado

A resistência dos jovens negros e pobres da periferia paulistana é uma luta que não começou neste domingo. Em fevereiro de 2012, militantes do movimento negro em São Paulo após passeata entoada por palavras de ordem pegaram de surpresa a segurança do Shopping Higienópolis, eram por volta de 16:00 da tarde quando uns 300 militantes adentraram rapidamente e “provocaram um frenesi nas faces brancas e rosadas da elite privilegiada deste país”, lembrou a jornalista Conceição Oliveira, editora do blog Maria Frô, ao reproduzir um depoimento do militante Francisco Antero.

“Ultrapassada as três portas principais, objetivava-se agora chegar ao ponto central desta casa que é a antítese da casa do povo. Os seguranças tentaram impedir, havendo um início de tumulto, logo superado pela onda negra que fazia pressão para que não se parassem nos corredores. Tomamos o ponto central com nossas bandeiras, com nossas palavras, com nossa cor preta”.

“A disposição arquitetônica deste centro mercantilista é perfeita para este tipo de ato, pois dos vários andares poder-se-ia avistar o nosso grito de protesto de onde estávamos. As forças de segurança do Estado racista brasileiro estavam em nosso encalço, mas fizeram as intervenções de rotina. Os militantes do movimento negro se revezavam no microfone para dar o recado nunca antes ouvido pela elite branca que gastava ali o dinheiro advindo do suor do povo negro deste país”.

“Os olhares de perplexidade foram a tônica, incredulidade da burguesia por termos chegado até onde chegamos. Ouvir verdades nunca foi o forte desta gente. Enfatizo o fato de poder ter sido qualquer outro Shopping o alvo, mas era preciso algo a simbolizar nossa história de exclusão. Este templo do consumo carrega em seu nome a característica eugênica de nossa elite branca pensante de fins do século XIX e início do século XX”.

“Nossas palavras fizeram eco. Nossa intenção jamais foi reclamar participação e existência naquele ambiente de luxo. Nossa intenção era denunciar olho no olho para quem vive as custas do suor do povo negro. Encerramos a manifestação e nossa alma foi duplamente lavada pela chuva que caía sem cessar. Vivemos hoje um grande momento de Panteras Negras com esta entrada. O Povo negro deste país existe e vai exigir sua participação nas riquezas deste país, doa a quem doer”, afirmou.

O diário conservador paulistano Folha de S. Paulo gravou, em vídeo, parte da manifestação no shopping de Itaquera:

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