13 de junho de 2013 se você não entendeu a canção das ruas, você não entendeu nada

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Experimente se livrar um pouquinho dos preconceitos que não permitem que você olhe um fato novo.

Agora leia com cuidado a letra abaixo. Se você ainda achar que esta juventude é de direita, você precisa rever seus conceitos sobre direita e esquerda.

Hino à Rua -- Canção das manifestações de junho e julho (2013). Música e Video -- Coletivo Baderna Midiática Ela é mais que o asfalto onde eu piso Ela é o caminho que nos leva à liberdade Quando os povos oprimidos a conquistam É a parte mais bonita da cidade É ela quem escuta os nossos gritos O riso, o choro, o lamento de dor As bombas, disparos, os golpes brutais De quem pratica a guerra e fala em paz [Refrão] Ela é dos cantos, das batucadas É o povo unido quem a detém É das bandeiras, das barricadas Ela é de todos porque é de ninguém Não é dos chefes, nem dos patrões Não é uma posse, não é um bem Nem dos Estados, nem das nações Ela é de todos porque é de ninguém Rua. Segundo lar Primeiro campo de futebol Te querem apenas caminho pra quem te depreda com fumaça preta Te querem assunto de urbanistas engenheiros criminologistas Eu te quero assunto de poetas De amantes e de povos rebelados Te quero dos que te construíram e que hoje não te podem desfrutar Porque foram descartados, porque foram despejados Toda ocupação que resiste no centro da cidade tem um pouco de quilombo Ameaça ao latifúndio urbano Monocultura cinza movida a petróleo e suor O suor de quem vem nos trens lotados Todo busão que vem cheio das quebradas, que vem cheio de catracas tem um pouco de navio negreiro Transporte desumano de carne humana Pra ser moída e desossada no trabalho Rua, você é de todos Que fora do trabalho são suspeitos De roubar, de depredar, de discordar Ou de não contribuir pro crescimento do Produto Interno Bruto Quem veste um capuz e extermina na favela é um pouco capitão-do-mato Rua Te quero das mulheres ensinadas desde cedo que só podem brincar dentro de casa porque a rua é perigosa, porque a rua é violenta porque a rua é dos meninos que não sabem respeitar Rua eu te conheço, quem te faz uma ameaça às meninas e mulheres É a mesma opressão que torna as casas inseguras Mais que as ruas A rua é de todos os amores É daqueles que tiveram que ocupa-la pelo direito de existir Todo discurso moralista que se opõe à igualdade Que se opõe à autonomia sobre o corpo É um pouco tribunal da Inquisição A rua não comporta privilégios Não tem dono nem tem preço É como o vento, o sol, a chuva o calor, as nuvens, cores minha alegria e minhas dores Por isso hoje eu vim pra rua 13 de junho de 2013, noite fria Ocupamos a rua para devolver o que é dela de direito O lugar da assembleia mais legítima Na televisão 5 mil vândalos sem causa interrompiam o trânsito Nas ruas 15, 20 ou 30 mil lutavam por uma vida sem catracas Nos chamavam “loucos” como chamavam os balaios que encaravam o poder de peito aberto em um país construído sobre corpos, assentado sobre o sangue Dos explorados Nos chamavam “criminosos violentos” como chamam violento ao rio que tudo arrasta Mas não as margens que o oprimem Criminosos também eram chamados os luditas panteras negras, zapatistas, feministas milicianos da Espanha, guerrilheiros da América Latina insurretos de Istambul, do Cairo e de Atenas de Buenos Aires, de Paris, de Cochabamba de Pequim, de Porto Príncipe, de Gaza de Londres, de Soweto, de Lisboa Trabalhadores anarquistas da Itália ou de São Paulo quilombolas da Jamaica ou da Bahia rebeldes e poetas de todas as periferias Loucos, criminosos, estudantes Nos querem dentro de hospícios, de cadeias, de escolas Longe das ruas Querem as grades, os muros, as cercas, as catracas Uma cidade em que circulam carros, mas onde as pessoas São confinadas Jornalistas, doutores, políticos não podem entender Que democracia é muito mais que apertar um botão de vez em quando Que estamos dispostos a fazer a nossa história mesmo nas piores condições Que não temos ilusões, nem vivemos fantasias Somos aqueles que se movem E por isso sentimos o peso das correntes que nos prendem Eles podem mas não querem entender Que já sabemos que o Estado e o capital são gêmeos siameses Vivem brigando, mas partilham o mesmo sangue e o mesmo coração Nasceram juntos e juntos vão morrer pelas mãos dos explorados Que já sabemos que o estado de exceção em que vivemos É na verdade regra geral Que essa paz que oferecem não é nada além de medo Que passado este medo não haverá quem defenda suas mansões E não vai faltar quem abra as portas pelo lado de dentro Que em tempo de desordem sangrenta e confusão organizada nada nos parece natural Nada nos parece impossível de mudar Que agora as mentiras da TV são motivos de piada Que o rei está nu e sua foto tá nas redes sociais Que foi nos organizando que nós desorganizamos E que é desorganizando que vamos nos organizar Nada do que venha a acontecer vai tirar de nós o sentimento de ter tomado o céu de assalto de ter presenciado quando a vida surgiu de uma nuvem de gás lacrimogêneo Arrancamos a política das malhas do mundo profano Nossas palavras dedicamos a Ademir, André, Carlos Eduardo Cleonice, Douglas, Eraldo Fabrício, Igor, Jonatha José Everton, Lucas, Luiz Marcos, Renato, Roberto, Valdinete E a todas as vítimas anônimas da violência do Estado em sua defesa feroz do capital Na rua nenhum monumento é inocente Nela os que tombaram ressurgem pra lutar ao nosso lado Os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer Combatemos para que não morram a morte do esquecimento Combatemos para impedir o inimigo de vencer

Música e vídeo sobre protestos de junho fazem sucesso na rede Canção inspirada em clássico da resistência italiana ao fascismo já teve mais de 9 mil visualizações

Por Igor Carvalho, Revista Fórum

01/08/2013

O “Hino às ruas – Canção dos protestos de 2013”, composta pelo coletivo Baderna Midiática, já ultrapassou as 9 mil visualizações no Youtube. O vídeo traz imagens das manifestações que tomaram conta do país nos meses de junho e julho. Nas redes sociais, a produção tem sido compartilhada por grupos e manifestantes que participaram dos atos.

A música produzida pelo coletivo foi inspirada na canção “Il Ribelli Della Montagna”, um clássico da resistência italiana ao fascismo. Durante o vídeo, um poema é declamado exaltando a rua como espaço de ocupação popular e lembra o “transporte desumano, de carne humana, pra ser moída e desossada no trabalho.”

No vídeo, o Baderna Midiática critica o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP). Com a imagem do parlamentar projetada, o poema afirma que “todo discurso que se opõe à igualdade, que se opõe à autonomia sobre o corpo, é um pouco tribunal da Inquisição.”

O “Hino às ruas” tem 11 minutos e mostra imagens de manifestações em todo o país e falam do desejo de “um país sem catracas”. Os artistas lembram, também, de outros grupos revolucionários como os zapatistas e Panteras Negras.