Rafael Andreazza: Sobre as denúncias de Beatriz Seigner ao Fora do Eixo reflexões e dados

Escrito en BLOGS el

Todas as vezes que penso escrever sobre a debateria iniciada no facebook pela cineasta Beatriz Seigner que foi parar nas páginas da Veja e no blog do Tio Rei  versus Capilé (logo após Capilé e Bruno Torturra serem entrevistados no Roda Viva) e o FlaXFlu que se consolidou nas redes vem alguém mais qualificado que eu. Primeiro foi o texto da Shannon Garland, depois o belo texto do Gustavo Anitelli e agora o de Rafael Andreazza. Tem ainda muitos outros que valeria a pena ler que embora críticos ao Fora do Eixo mantém de fato o debate sem cair na grossura dos lábios de Capilé ou no 'trabalho escravo" da Casa Fora do Eixo e outras ~polêmicas~tão desnecessárias pra se entender o que o Tiago Pimentel e o Sergio Amadeu já sacaram.

Por Rafael Andreazza

em seu Facebook e depois publicado em Ecult

13/08/2013

Veja aqui o Extrato Completo

Sobre as denúncias de Beatriz Seigner ao Fora do Eixo, pesquisei o que pude, sei que faltam informações, mas aí vão reflexões e dados. Como Professor de Produção Cultural e produtor independente de cinema estudo muito para tentar entender as questões do nosso tempo e meu único objetivo é pensar a cultura e os valores que ela gera. E nesse caso há questões importantes que vêm á tona, e apesar do texto ser longo, não se esgota a questão. Não vou discutir nenhuma questão pessoal nem bater boca com ninguém.

O filme Sonhos Bollywoodianos de Beatriz Seigner não foi realizado com dinheiro público, coisa rara no Brasil. Foi financiado por um produtor indiano e lançado em 2011 no circuito comercial de cinemas, em mais de 19 cidades brasileiras, distribuído pela Espaço Filmes, ou seja, muito bem distribuído.

Temos tradição de que poucos filmes brasileiros chegam ao cinema, e estar em cartaz em 19 cidades é um feito. Faça-se justiça em 2012 o número de filmes brasileiros que chegaram ao cinema passou de 100. Mas muitas vezes em única sala, por uma semana. Sabemos da dificuldade de distribuição e exibição de filmes brasileiros no próprio país e da hegemonia do cinema americano, em público e bilheteria, no mundo. Mas isso é outro papo.

Voltemos ao Bollywood Dreams.

Segundo o jornal O Globo, 30% da bilheteria era a remuneração da co-produtora indiana que pagou os custos de produção do filme, cujo orçamento desconheço. Mas os valores tangíveis, ou seja, os valores econômicos que o filme gerou, serão abordados adiante.

Quando Beatriz, segundo ela mesma, achou “o máximo” a ideia de distribuir seu filme nos cineclubes do Cine Mais Cultura, outros pontos de cultura, escolas, universidades, coletivos e pontos de exibição alternativos, que estavam conectados à internet nas cidades mais longínquas do Brasil, o que ela estava pensando? Segundo ela “na necessidade de democratizar o acesso aos bens culturais no país, e sei como é angustiante, nestas cidades distantes, viver sem acesso à cultura alternativa e mais diversas artes”. O valor a que Beatriz se refere é, portanto, intangível, ou seja, os valores simbólicos contidos no filme.

Mas Beatriz em seu texto mistura os valores tangíveis com os intangíveis e acaba por confundir a pessoa que lê seu texto de 6 páginas no Facebook. Eu li, e reli, com a certeza de que de uma forma geral poucas pessoas o fizeram. Não é tamanho de texto que se poste no Facebook, assim como esse, admito. Mas estou a refletir e compartilhar minhas reflexões.

Pergunto-me se a distribuição do filme no fora do eixo foi pactuada como PRODUTO COMERCIAL OU CULTURAL?

Antes de tudo, friso que pouco conheço do Fora do Eixo e que não conheço Beatriz.

Mas como indica Beatriz, o que foi tratado foi dentro da lógica da troca, ou seja, dentro da lógica do fora do eixo: “Com relação à remuneração eles me explicaram que aquele ainda era um projeto embrionário, sem recursos próprios, mas que podiam pagá-lo com “Cubo Card”, a moeda solidária deles, que poderia ser trocada por serviços de design, de construção de sites, entre outras coisas. Já adianto aqui que nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com ‘menu de serviços’ onde esta moeda é trocada.”

Pergunta-se: Beatriz solicitou os serviços? Os procurou? Parece que não, ao que tudo indica, e creio que se tivesse não perderia a chance de dar maiores detalhes. Os elementos que tenho para pensar, leva-me a conclusão de que não foi pactuada nem exibição onerosa, nem distribuição onerosa entre Beatriz e o Fora do Eixo. Nem gratuita. Mas sim, uma parceria de troca.

A tentativa de aplicação da lógica comercial no caso da distribuição gratuita do fora do eixo me parece uma tentativa de insuflar os incautos, e favorecer quem vem perdendo prestígio. Há muitos interesses dos grupos midiáticos em conflito, nesses tempos de revolução digital. Sobretudo depois da entrevista dos representantes do grupo no Roda Viva do dia 05/08/2013.

Depois desse programa, vem Beatriz se colocar como partidária de democratização do acesso a bens culturais, defensora dos valores intangíveis que gera a cultura, mas só quando a convém: porque no seu texto, sem mais nem menos adere à lógica econômica, e centra-se nos valores tangíveis que geram a cultura. Isso não me parece correto.

Mas no caso Beatriz X Fora do Eixo, me parece, não é possível conciliar as duas coisas. E que essa conciliação dos dois valor