A vítima da denúncia a seguir me encaminhou seu relato, mas prefere não se identificar pois o agressor ainda está solto e ela tem medo de retaliação. Esperamos que a polícia faça seu trabalho (a começar por aplicar alguma sanção ao escrivão que não se comportou como um agente público que deve proteger os cidadãos e não fazer piadas sem graça e desnecessárias), esperamos ainda que os funcionários da referida empresa repensem seu comportamento e forneçam os dados necessários pra identificar o agressor.
O sac da empresa mencionada é: sac@uniled.com.br. Como sugeriu os leitores do Facebook todos poderíamos enviar mensagens à empresa pra que seus funcionários cumpram seu papel de cidadãos e forneçam os dados. Caso contrário que a polícia faça o seu papel e juntamente com a Justiça obriguem o responsável pela empresa a dar as informações que tem a respeito do motoboy que assedia sexualmente as mulheres pelas ruas de São Paulo.
Fui agredida sexualmente por um homem com roupas de motoqueiro e capacete, que me agarrou por trás e pegou na minha bunda, as 9:30 da manhã, na rua Huet Bacelar na altura do número 306, no bairro Ipiranga. Na ocasião minha reação foi de gritar o mais alto que minha revolta e indignação exigiam e o quanto minhas cordas vocais permitiam. Assustado com a minha reação o motoqueiro avançou q perguntou “vai encarar?” colocando a mão sob a jaqueta, simulando ter uma arma.
Obviamente recuei, mas permaneci atenta, para ver para onde ele iria. O agressor subiu em sua moto e consegui me atentar à placa, não tive como anotar na hora, estava, compreensivelmente, abalada emocionalmente e sem conseguir tomar as resoluções mais assertivas. Decidi seguir meu caminho e tomar as atitudes necessárias depois que chegasse à casa da minha amiga e me acalmasse. Com isso perdi a certeza do número da placa, só sabia, ao certo, as três letras e os dois últimos números. Como se tratava de um motoqueiro, entendi que estava fazendo uma entrega e tomei a iniciativa de ir à empresa que fica em frente ao local do ocorrido. Meu raciocínio era objetivo: se o motoqueiro estava fazendo uma entrega para aquela empresa, eles facilmente conseguiriam a placa da moto, assim como os dados do motoqueiro e tudo estaria resolvido.
Para a minha surpresa, as pessoas que me atenderam não quiseram fornecer os dados e a situação foi se tornando cada vez mais constrangedora. A cada minuto saía mais um funcionário perguntando do que se tratava e novamente afirmando que nada poderiam fazer pois, PASMEM, os responsáveis em contratar o motoboy eram seus clientes e eles não queriam se indispor com eles. Ou seja, o fato de uma mulher agredida estar pedindo ajuda na porta é inferior a uma suposta indisposição com um cliente que porventura não quisesse passar o contato da empresa de motoboy a qual contratou. Eu que mantenho fortemente a crença na humanidade certamente duvidaria do caso se não fosse eu mesma a testemunha.
O que mais me impressionou foi o número de mulheres, funcionárias dessa empresa, que me atenderam sem a menor solidariedade e muito menos sem se atentarem para o fato de que o ocorrido poderia ser com qualquer mulher, inclusive com elas. A minha ânsia por justiça, se dá não somente por reparação à violência da qual sofri, mas sim como prevenção para que o mesmo não aconteça com outras mulheres e mais, para que homens, mulheres, crianças, a sociedade em geral, compreendam, definitivamente, que o fato de uma mulher ser atacada por um homem na rua não pode ser considerado normal.
Algumas pessoas dizem para “deixar pra lá” afinal, ele “só passou a mão na minha bunda”. Porém, se um indivíduo tocar no meu corpo sem meu consentimento é uma forma de estupro e passou da hora de todo mundo entender isso. Homens precisam entender que mulher nenhuma é propriedade deles e nada justifica uma agressão. Mulheres precisam compreender que são livres para ir e vir e se sentirem segurar para isso e que qualquer ato contra o próprio corpo, cometido por quem quer que seja, deve ser denunciado.
Saí da empresa Uniled Componentes Optoeletrônicos, absolutamente entristecida com a falta de solidariedade das outras mulheres e ao mesmo tempo indignada com a ignorância das mesmas, por não perceberem que a vítima não era somente eu, mas todas nós, mulheres, somos igualmente vítimas dessa violência. Concretamente aconteceu comigo, porém, está sujeito a acontecer com qualquer outra, já que trata-se de um desconhecido que julgou ter o direito de me agarrar à força.
Segui para a 16ª delegacia de polícia, pois lá também se encontra a delegacia da mulher mais próxima do local. Lá fui informada que como se tratava de uma agressão por um desconhecido o crime não deveria ser registrado na delegacia da mulher e sim na delegacia comum. Fiz o B.O tendo que respirar profundamente várias vezes para manter a serenidade frente ao descaso indisfarçável do escrivão.
Compreensivelmente estava nervosa e com medo de que o agressor ou mesmo alguém da empresa que se recusou a me ajudar, pudesse acessar meus dados e a violência contra mim tomar proporções maiores, sendo assim, perguntei se meus dados seriam mantidos em sigilo. O escrivão, ironicamente, disse que “claro que não, vamos expor seus dados para São Paulo inteira”.
Como discutir com quem quer que seja não é a melhor forma de ser resolver um problema, resolvi manter a serenidade e seguir até o fim. Com o B.O feito, aguardo a ação da polícia para que averiguem com a empresa Uniled os dados do motoqueiro, assim como as imagens da câmera de segurança e que, a partir daí, possamos contar com menos um agressor nas ruas de São Paulo e que esse caso reverbere positivamente a fim de trazer compreensão a todos os envolvidos. Que saibam do que se trata uma agressão à mulher e como lidar caso isso ocorra. Lições de consciência, humanidade e solidariedade ao próximo serão, também, sempre bem vindas.