Por Helena Ortiz, em seu blog
É estranha a notícia de que afinal foi provada a tortura seguida de morte do Deputado Rubens Paiva, nas dependências do DOI-CODI, em 1971. Parece estranha porque é uma verdade antiga. Um dia alguém disse: Rubens Paiva morreu torturado nos porões da ditadura. E não só eu soube, vocês também, todos, até aqueles que não estavam ligados ao movimento militar, nem sabiam que existia, souberam simplesmente porque leram no jornal. E foi manchete, obrigatoriamente, porque se tratava de um homem importante. E investigava coisas que não deviam ser investigadas.
A verdade, todos souberam em seguida. O corpo desapareceu. Mas sempre tem alguém que vê, alguém que escuta, alguém que sabe. Só assim a notícia teria se propagado tão rápido, tão alto. Rubens Paiva foi preso, torturado e morreu. Não há corpo. Não há pistas sobre o seu desaparecimento. Mas alguém soube. O médico do Exército, por exemplo, soube. Terá dito a quem? Ou foi uma morte deduzida? Quem sabe algum torturador não tenha agüentado o peso na consciência. Quem sabe outro preso, esperando a vez, ligado nos movimentos, nas vozes, nos gritos, nos silêncios, de novo os movimentos, os passos, as chaves, as vozes, as botas, os olhos vendados, os ouvidos bem abertos, os golpes, a brutalidade. Tudo por causa do "avanço comunista".
Nunca houve dúvidas em relação a esse fato. Só a justiça precisava de provas. Vejamos agora o que irá fazer com elas. Prenderá os algozes? Conseguirá levá-los a um tribunal que os condene ou ao menos humilhe-os e desmascare publicamente, do primeiro ao mais alto escalão?
Talvez não. Com sorte, contam com as manchetes atuais, novíssimas, onde policiais armados jogam spray de pimenta e balas de borracha em presos seminus, ajoelhados, de costas. É uma imagem aterradora.
Mas os policiais não se importam nem com câmeras de segurança. Eles têm as armas. E é com elas que fazem justiça. Sempre foi.
Uruguai e Argentina, com ditaduras muito mais sanguinárias pagaram seus pecados. Nós não, nós não temos pecados. Cada um estava fazendo o seu dever.