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Ontem recebi do poeta Sérgio Vaz, por e-mail, esta beleza que compartilho
FAMÍLIA VENDE TUDO
Por Sérgio Vaz Vendo barraco de madeira com vista para o córrego com água e esgoto desencanado dois por quatro, sem tramela com buraco para o frio em entrar. Devido a pressão vendo jogo de vazias panelas frigideira sem óleo vida sem tempero ronco de barriga insônia da miséria. Vendo choro de mãe com criança no colo na fila do hospital dessa vida sem bula sem cura sem melhoral. Vendo abandono de pai: "Ave-Maria, pai nosso que estai no céu, como batia, esse filho da mãe!" Vendo natal sem brinquedo sem bola nem boneca uma foto amarelada do tio Noel puxando trenó sem cavalo nas ruas da cidade. Vendo vaga em escola ruim de criança que cresce sem creche, sem merenda, sem leque raiz dos problemas de todos meu pobrema. do destino em xeque. Vendo sapato furado, chinelo de dedo e calos nos pés. Vendo fé cega, lágrimas enferrujadas calos nas mãos de orações não atendidas. Vendo anjo da guarda surdo-mudo sem experiência contra a pobreza. Vendo um corpo falido cheio de rugas que se abriram como estradas nessa sina sem rumo, sem saída, de vida inteira, quebnrada.. Vendo rim fígado, coração e sonhos dormidos. Vendo alegria de ano novo primeiro amor, nunca usado. Vendo a porra toda. Vendo desemprego, unha desfeita, dores nas costas, no peito e dores de amores. Vendo menina grávida guarda-roupa sem roupa vendo menino no semáforo equilibrando o limão da vida amarga. Vendo bala perdida que encontra sempre a molecada nas esquinas escuras desse destino claro. Vendo samba de Adoniran onde a favela fica bonita com saudosa maloca e tudo, já tem luz elétrica esse lugar escuro onde o político se ilumina. Vendo futuro que não vale nada por isso leva o passado de presente. Vendo racismo essa escola de preto no branco que desfila na avenida Brasil o ano inteiro depois do carnaval. Tinha até sorriso e felicidade pra vender mas como ninguém nunca usou... se perdeu nos becos da favela. Vendo alegria, mas tem que levar a tristeza também. Família vende tudo, antes que o incêndio acabe com ela.