Suzana Singer: "A contratação de Reinaldo é coerente com o ‘saco de gatos’ da Folha, que dá abrigo à ambientalista Marina Silva e à defensora do agronegócio Kátia Abreu"

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Arena de debates

Suzana Singer, FOLHA DE S. PAULO, via Observatório da Imprensa

29/10/2013

“Na semana em que o assunto foram os simpáticos beagles, a Folha anunciou a contratação de um rottweiler. O feroz Reinaldo Azevedo estreou disparando contra os que protestam nas ruas, contra PT/PSDB/PSOL, o Facebook, o ministro Luiz Fux e sobrou ainda para os defensores dos animais.

A coluna publicada anteontem não destoa do que Reinaldo vem defendendo em seu blog no site da ‘Veja’ nos últimos sete anos. ‘Eu sou mesmo um reacionário à moda antiga’, escreveu o jornalista na quarta-feira, emendando que é ‘humanista e cristão’, contra o aborto e contra a pena de morte. Dá para deduzir o que ele pensa dos governos Lula e Dilma pelo título do seu livro ‘O País dos Petralhas’, uma corruptela de petistas e irmãos Metralha.

Sua volta à Folha, onde já havia trabalhado como editor-adjunto de política, suscitou reações fortes. O leitorado mais progressista viu a chegada do colunista como o coroamento de uma ‘guinada conservadora’ do jornal. ‘Trata-se de uma pessoa que dissemina o ódio e não contribui com opiniões construtivas’, escreveu a socióloga Mariana Souza, 35.

Poucos se manifestaram a favor de Reinaldo, mas isso não significa que não exista uma parcela considerável que esteja comemorando a sua vinda, já que ao ombudsman costumam recorrer os insatisfeitos. Ana Lúcia Konarzewski, 61, funcionária aposentada do IBGE, afirma que vai voltar a assinar o jornal por causa do novo colunista. ‘Não aguentava mais tanta gente defendendo o governo’, disse.

A contratação de Reinaldo é coerente com o ‘saco de gatos’ da Folha, que dá abrigo à ambientalista Marina Silva e à defensora do agronegócio Kátia Abreu, a dois filósofos tão díspares quanto Luiz Felipe Pondé e Vladimir Safatle, à contundente Barbara Gancia e ao delicado Antonio Prata.

Os novos nomes --além de Reinaldo, escreverão, no caderno ‘Poder’, o geógrafo Demétrio Magnoli e o jornalista Ricardo Melo-- vão engrossar o já extenso plantel de colunistas do jornal. São hoje 102, provavelmente um recorde mundial.

Não dá para fazer um censo ideológico de tanta gente. Do novo trio, Demétrio é também crítico entusiasmado do PT. Em sua estreia ontem, negou a tarja de direita e acusou os ‘lulo-petistas’ de serem ‘conservadores, corporativistas e racialistas’. Ricardo Melo, que foi um dirigente estudantil trotskista, deve fazer o contrapeso à esquerda.

A Secretaria de Redação diz que ‘o jornal não pensa em colunistas em termos de esquerda e direita, mas no que eles têm de original para dizer aos leitores e como podem reforçar o pluralismo da Folha’.

No atual momento da mídia, em que boa parte do noticiário está de graça na internet e no qual falta dinheiro para expandir as equipes de reportagem, aumentar o espaço destinado à opinião tem sido uma forma de tentar diferenciar-se.

Com o movimento da semana passada, a Folha almeja tornar-se a principal arena de debate político em 2014, ano de campanha eleitoral. Para que o leitor seja de fato beneficiado por isso, será preciso garantir um bom nível de ‘conversa’, à altura do que escrevem Janio de Freitas e Elio Gaspari, colunistas do mesmo espaço.

No impresso, espera-se mais argumento e menos estridência. Mais substância, menos espuma. Do contrário, a Folha estará apenas fazendo barulho e importando a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet.

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