Um bom texto, uma crítica pertinente, Carlos Latuff escreveu algo ainda mais duro.
Talvez pensar que Dilma Rousseff tem de responder a investidura do cargo e nós não podemos abrir mão do nosso papel de ativistas dos direitos humanos.
Ao lutarmos por desmilitarizar esta polícia e combater o racismo institucional possamos fazer a 'vândala do passado' acumular forças pra enterrar de vez estes entulhos da ditadura.
Dilma embolada
Por: Sandra Helena de Souza*, O Povo
30/10/2013
Em recente entrevista, o sociólogo Boaventura de Souza Santos, ícone mundial dos atuais movimentos de esquerda, se refere à situação que vivemos no Brasil, e em outros países que enfrentam movimentos de resistência popular mais ou menos permanente, como ‘estado de guerra civil de baixa intensidade’. Inicialmente me pareceu exagero. Mas a dinâmica dos acontecimentos, especialmente nas duas principais metrópoles do País desde as jornadas de junho, evidencia a estática de uma conformação social cada vez mais insustentável.
Depois de dias furiosos nas redes sociais, com governistas, oposicionistas, anarquistas e moderados se digladiando por conta de o midiático espancamento de um coronel PMESP por manifestantes mascarados ter provocado a primeira intervenção da presidente sobre a crescente escalada de violência nos confrontos, prestando-lhe solidariedade, a realidade indicada pelo sociólogo surge na própria reflexão da presidente, em nova intervenção. Dessa vez, a presidente presta solidariedade à família do jovem Douglas, assassinado pela mesma polícia. E acrescenta: “Assim como Douglas, milhares de outros jovens negros da periferia são vítimas cotidianas da violência. A violência contra a periferia é a manifestação mais forte da desigualdade no Brasil.” Guerra de ‘baixa’ intensidade com vítimas preferenciais.
Mas a seletividade de que fora acusada ao escolher um policial para manifestar indignação pela violência nas ruas, mantém-se quando tentou corrigi-la. Os ‘black blocs’ foram acusados de bárbaros antidemocratas e mais ela disse: “A Justiça deve punir os abusos, nos termos da lei. O Governo Federal coloca à disposição do Governo de São Paulo o que ele julgar necessário.” Poderia tê-lo dito exatamente assim para encerrar os comentários sobre a ‘barbárie antidemocrática’ cometida pelo Estado, mas não o fez.
Assim, ela reconheceu um fato estarrecedor que faz parte do DNA da estrutura social brasileira como quem reconhece uma catástrofe natural e, pior, como quem não tem nenhum poder de decisão sobre as causas de tamanha violência cometida contra a população jovem das periferias brasileiras.
Apesar disso não, não vivemos uma ditadura; somos, antes, uma jovem democracia, desafiada, encurralada, com restos de ditaduras nos calcanhares, dando mostras de que ‘atos jurídicos de exceção’ podem voltar a cristalizar a terrível situação de desigualdade que a presidente identifica placidamente, ampliando seus alvos para as liberdades civis tão duramente conquistadas.
Mais do que nunca, a discussão e o enfrentamento da transição não completada, do período de arbítrio para a democracia, nas bodas de prata da constituição, oferece-se de modo incontornável e cai no colo de uma ‘vândala’ de outrora. É bom que a juventude raivosa nas ruas vá aprendendo as lições. O sociólogo, na mesma entrevista, acusou Dilma de ‘insensibilidade social’. Exagero? A presidente revisita porões familiares, às voltas com antigos demônios.
Que os vença!
*Sandra Helena de Souza é professora de Filosofia e Ética da Unifor, email: souza.sandraelena@gmail.com
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