Vi esta semana a mega reportagem de Gustavo Costa e Marco Aurelio Mello na Cracolândia que será exibida neste domingo no Domingo Espetacular na Record.
Vejam. É uma reportagem séria com dezenas de depoimentos de médicos e dependentes e que conta a história de um jovem médico, Marcelo Clemente que dedicou seus últimos sete meses de vida a cuidar dos dependentes químicos.
Gente sem casa, sem trabalho, sem comida, sem nada, denunciam tortura, extorção por parte da polícia civil, militar e guarda metropolitana. Mulheres estupradas, crianças exploradas sexualmente, adolescentes com dívidas assumem acertos de traficantes... se existe um inferno a Cracolândia é certamente o seu rascunho.
Essa realidade onde ser humano é reduzido a menos que ratos mobilizou o jovem médico Marcelo Clemente que enquanto viveu e trabalho na Cracolândia denunciava: "o não agir e o ignorar são formas crueis de violência e se a violência que é praticada pelo Estado não é considerada criminosa, então podemos nos dar as mãos todos, pois formamos a maior comunidade de criminosos desse país."
Transcrevo o post do Marco Aurélio e reforço mais uma vez o convite para que assistam, é um soco no estômago, mas necessário para sairmos desta letargia. Que sejamos capaz de enxergar esses 'pinos redondos nos burados quadrados'___________ PublicidadeUm voto de confiança
Por: Marco Aurélio Mello em seu blog 28/03/12Preciso da ajuda de todos. Não sou de fazer isso, mas a importância do trabalho é tão grande que decidi apelar. No próximo domingo vai ao ar durante o Domingo Espetacular, na Rede Record, um documentário que produzi ao lado do premiadíssimo jornalista e amigo Gustavo Costa.
Falei sobre este trabalho aqui, dias atrás. Trata-se de uma história incrível, que dificilmente aparecerá de novo na vida de um jornalista para contar. É sobre a saga do médico Marcelo dos Santos Clemente, de 27 anos, que trabalhou durante sete meses na Cracolândia, em São Paulo, e que morreu subitamente. Um menino pobre, que estudou em escola pública e que, com a ajuda da tia, decidiu fazer medicina na faculdade mais concorrida do país, a USP. Admirado pelos colegas, que o consideram genial e empurrado pela jovem esposa, Marcelo conseguiu terminar o curso. Estava entediado, porque trabalhava em um hospital público na periferia e passava boa parte do tempo fazendo atestados médicos para as pessoas justificarem suas faltas no trabalho até que, um dia, recebeu um convite inusitado: trabalhar numa zona de guerra.O jovem médico mergulhou de cabeça naquela realidade cruel e desumana. Em várias situações arriscou a vida, mas aos poucos conquistou a confiança de usuários e traficantes. Passou a ser chamado para ver doentes nos buracos, cubículos onde viviam os doentes dentro das ruínas, um cenário desolador.
Doutor Marcelo produziu um diário que retrata a vida dos usuários de crack na maior e mais rica cidade da América Latina. O que o jovem médico relatou é assustador. Pessoas sem as mínimas condições de higiene, abandonadas, torturadas, abusadas, coagidas...
Começou a se revoltar com a ausência do Estado e a mão pesada dos homens da Lei. Brigou, denunciou e pediu ajuda, aqui e fora do país. Pouco conseguiu. Precisou recorrer à presidência da República, para ter sua voz ouvida pelas autoridades. Mas não deu mais tempo. O enredo é perturbador e o desfecho deixa um enorme ponto de interrogação. Sem falsa modéstia, a riqueza de detalhes, a qualidade na captação das imagens e entrevistas, o cuidado com o roteiro e a edição, tudo isso faz de Doutor Marcelo, o Diário do Inferno o melhor trabalho que já fiz em mais de vinte anos de carreira. Conto com a audiência de todos, como também com a divulgação entre os parentes e amigos. Estou certo de que você não ficará indiferente depois de conhecer essa história. Muito obrigado, amigos.