Em agosto de 2010 discutia com um querido amigo jornalista. Ele, na época, já era bastante cético, achava que Lula deveria ser aposentar, que a vez era de Dilma, mas não nutria esperanças no seu governo como um governo popular. Ele argumentava: falta a Dilma a consciência de classe gestada na luta do ex-operário. Dilma é do mundo do colégio Sion, da leitura para moças, apesar da experiência na luta contra a ditadura militar, os seus valores são os de classe média, ela é gerente, vai pensar com planilhas.
Hoje abro meu facebook e minha amiga querida, de classe média, socióloga, filha de militares (não os que torturaram) que criou seis filhos me destaca um trecho de Maurício Dias do artigo A DIFÍCIL TRAVESSIA, na CARTA CAPITAL, pg. 16:
Apoiada na sua popularidade ( 72%) Dilma enfrenta com bravura a velha questão da governabilidade;
Dilma transige dentro de limites. Às vezes troca seis por meia dúzia como aparenta ser a mudança na liderança do governo no Senado. ( ... )
Na sucessão de problemas surgiu a reação do senador Blairo Maggi à resistência da presidenta de se submeter ao nome indicado pelo PR para o Ministério dos Transportes. "Ou bola ou búrica" propos Maggi. Entre o tudo e o nada, ela optou pelo nada.
Dilma, sem dúvida nenhuma, apoia-se na credibilidade social (72%) Esses números de aprovação do governo, se CONTRAPÕEM à credibilidade do Congresso junto à sociedade que, nos últimos 3 anos vem em constante queda ( atualmente 35%).
A coragem de Dilma para o enfrentamento com os adversários já foi posta à prova nos anos 70. (...) Agora enfrenta a Oposição do Congresso. Pode Ganhar!
Minha querida amiga, aos 78 anos, me diz em letras garrafais se referindo ao texto que transcreveu para mim no Facebook: "SE ELA CONSEGUIR ISSO, MORRO FELIZ, NA CERTEZA DE QUE NOSSO PAÍS COMEÇA A CAMINHAR NA TRILHA CERTA."
Ontem lendo um texto de Reinaldo Azevedo me surpreendi com a moderação em relação não apenas ao falar de Lula, mas também de Dilma. Em relação a Lula (ao menos no trecho que destaco) duvido que até petista discorde do blogueiro da Veja: "Lula, que ainda não pode falar em público, se torna a única voz ainda firme da política; aquele de quem se espera algum norte, alguma articulação mágica, alguma resposta./ Que coisa! Em meio a tanta barulheira, a política se tornou refém do silêncio de Lula. É um sinal de fraqueza da oposição, sim!"
Ao se referir a Dilma encontramos um Reinaldo de Azevedo quase calmo e sem a virulência da campanha eleitoral: "Diga o que se quiser de Dilma — que é intolerante com a corrupção (pode ser), com o fisiologismo (pode ser), com os oportunistas (pode ser) —, só não se diga que ela é uma liderança política. Se vai ser ainda, veremos."
Vejam, os adjetivos 'poste', 'sombra' e afins desapareceram do texto da direita.
Meu amigo Maurício Caleiro a partir da leitura da entrevista de Dilma a Luis Nassif (que não se pode chamar de esquerdista, tampouco de direitista) escreveu um texto que eu assino embaixo: O momento Dilma.
A análise de Caleiro é de uma perspectiva de esquerda como é a minha. Dilma não está fazendo um meio de campo político competente com os movimentos sociais e as centrais sindicais, nem próximo disso, porque ela não dialoga com eles. Dilma fez este afastamento para se aproximar do Centro (a tal da governabilidade que nos acompanha e nos torna reféns dos partidos fisiológicos que abundam no país), mas não conquistou o Centrão ao abandonar os movimentos sociais que a elegeram.
Se o objetivo de Dilma for conquistar a classe média, está sendo muito competente. Ela está conseguindo, não apenas a classe média com alguns valores menos conservadores que até votou em Lula, como também recebe a cada dia mais simpatia daquela que nutre um enorme ranço em relação ao ex-operário, retirante nordestino que não fala inglês e que se tornou por duas vezes presidente do Brasil.
Talvez o sucesso de Dilma junto à classe média seja o fato de como Lula - que nasceu em seio operário e sabe falar para os trabalhadores -, ela também conheça profundamente a sua classe e os valores dela: um certo tipo de discurso anti-corrupção, por exemplo, é modelar desse grupo. Isso explica, ao menos para mim porque Dilma agrada muito mais aos 44 milhões de eleitores que não votaram nela. Até quando? Eis a questão. ____________ Publicidade // //