Alunos estão em alerta contra reintegração de posse de moradia estudantil A Polícia Militar tem até o final da tarde desta segunda-feira (06) para executar a reintegração e devolver o prédio para o órgão da reitoria Aline Scarso, da Redação do Brasil de Fato 06/02/2011
Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) estão em alerta contra a possível reintegração de posse do espaço conhecido como Moradia Retomada. Localizado no bloco G do Crusp (Conjunto Residencial da USP), a moradia é autogerida por cerca de 40 estudantes que não conseguiram vagas nos apartamentos estudantis.
A ocupação existe desde 17 de março de 2010. O espaço pertence aos blocos do Crusp, mas vinha sendo utilizado pela Divisão de Promoção Social da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) para serviços de burocracia. No último dia 17, entretanto, uma ordem publicada no Diário da Justiça da capital diz que a Polícia Militar tem até o final da tarde desta segunda-feira (06) para executar a reintegração e devolver o prédio para o órgão da reitoria.
Segundo uma moradora do espaço que preferiu não se identificar por medo de sofrer represálias, os alunos estão preparados para resistir. “Os colegas do Crusp vão prestar solidariedade e haverá resistência porque é uma luta legítima. Para estudar, essas pessoas precisam morar aqui”, afirma.
Na madrugada desta segunda-feira, um alarme falso de que a Tropa de Choque estava na Universidade motivou muitos estudantes do Crusp a comparecerem à Moradia e armarem barricadas em volta do local. Outros estudantes dormem em barracas em frente ao espaço desde que a ordem de reintegração de posse foi emitida.
A estudante se queixa da falta de política da USP para permanência estudantil. “Assim como o vestibular é um filtro para excluir os mais pobres da Universidade, a dificuldade para se manter aqui é o segundo filtro. É muito comum você ver pessoas saírem da salinha da assistência social chorando. Muitos acabam desistindo.”.
De acordo com ela, a Moradia Retomada tem um processo de recepção de calouros e admite novos moradores levando em conta de critérios socioeconômicos. O local abriga também estudantes de cursinhos populares oferecidos dentro da Universidade.
“A gente acaba concorrendo com o processo seletivo organizado pela Coseas. A reitoria leva em consideração, por exemplo, o critério comportamental e de distância do local de origem, como se fizesse muita diferença morar a 100 ou 200 quilômetros daqui para quem não tem dinheiro”, explica.
Com a ocupação, estudantes descobriram documentos que comprovam a existência de um sistema de segurança em vigor desde 2001. O sistema tem como objetivo produzir relatórios das atividades políticas e pessoais dos moradores. No dia 17 de dezembro, seis estudantes foram expulsos da Universidade por terem ocupado o espaço.
Há uma estimativa de que 800 pessoas ficam anualmente de fora da seleção para o Crusp. Outras chegam a morar quase um ano em alojamentos improvisados na USP até conseguir uma vaga. Apesar da demanda, os blocos estudantis K e L são utilizados para a administração da reitoria.
Crusp
Os prédios que hoje são o Conjunto Residencial da USP foram construídos em 1963 para receber os atletas dos Jogos Panamericano. Com o término dos jogos, os alunos de baixa renda foram impedidos de utilizá-los como moradia estudantil, apesar da USP não oferecer alternativa de moradia. Com a negativa, os estudantes ocuparam cada um dos 12 blocos, entre os anos 1964 e 1968, e garantiram a permanência na Universidade.
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